O
enredo das eleições presidenciais de 2018 no Brasil é quase ficcional. Venho
insistindo na discussão – e na sustentação do pasmo – do porquê os caminhos que
se desenham para o País, no curto prazo, são funestos. Pelo que se percebe,
três vias se delineiam no médio prazo. Nenhuma delas é confortável. Nenhuma
delas sinaliza para o apaziguamento dos espíritos, nem para a reversão das
crises política e econômica. Tratei disso em artigo recente. Mas é necessário
ir explicando com mais clareza, à medida que as eleições se aproximam.
Lula
(PT) lidera as pesquisas de intenção de voto. Preso em Curitiba, não deve
concorrer. Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo, vai ser o “poste” ungido
pelo líder da legenda. É o que tudo indica. Caminha-se, nesse roteiro, para uma
situação surreal: o Brasil, na prática, pode ser governado a partir da cadeia,
já que o presidente de direito, efetivamente, não vai passar de um
intermediário, no máximo um despachante. Se com Dilma Rousseff já deu no que
deu...
Para
piorar, o petismo lançou um arrojado programa de governo de inspiração
bolivariana, com nítido ranço autoritário. Alveja, num primeiro momento, a
mídia e o setor bancário. Caso, sinceramente, se pretenda tirar aquilo do
papel, as tensões vão crescer, aprofundando as instabilidades; se não, o
documento não vai passar de mais um embuste, do manjado estelionato eleitoral. De
qualquer jeito, duas péssimas perspectivas, como se vê.
Geraldo
Alckmin (PSDB-SP) pode até negar, mas uma gestão dele vai representar, apenas,
a continuidade da gestão de Michel Temer (MDB-SP) , o deplorado mandatário de Tietê. Entusiasta das danosas reformas
aprovadas sob o emedebismo, ele pretende aprofundá-las, claramente alvejando o
brasileiro pobre e o trabalhador. Não é à toa que o mercado financeiro o vê com
tanto entusiasmo.
Para
reforçar o caráter de “mais do mesmo”, o ex-governador de São Paulo cerra
fileiras com o “Centrão”, o agrupamento parlamentar que encurralou Dilma
Rousseff (PT) e Michel Temer. Nada garante que o mesmo modus operandi não seja replicado contra ele, com os danos já
sobejamente conhecidos. Um otimista incorrigível pode até enxergar mais
estabilidade num eventual governo tucano. O problema é a que preço...
A
direita linha-dura, personificada por Jair Bolsonaro (PSL-RJ), foi se encorpando
na fase em que valia tudo para apear o petismo do poder. Até mesmo fustigar a tigrada
saudosa do regime militar. Agora, a imprensa se esmera em enxergar seus
defeitos, esmiuçá-los, limpando a vereda para o nome “de centro”, aquele que se
apresentará com uma roupagem “moderada”. Até aqui a estratégia não deu certo.
Os
sinais emitidos por Bolsonaro e seus acólitos são alarmantes, como se sabe.
Desde a exaltação da ditadura militar e de seus torturadores, passando pela
contestação de direitos de segmentos historicamente excluídos – como os negros,
o segmento LGBT e até as mulheres –, chegando à apologia do rearmamento da
população. Na América Latina, plataformas do gênero costumam resultar de
regimes de exceção. Portanto, lá adiante, ninguém terá o direito de se
surpreender.
São esses os três caminhos
que se desenham com mais nitidez na corrida eleitoral. Nenhum deles sinaliza
para o fim das crises, para a retomada de uma pretensa normalidade. Ao
contrário: dependendo do que dê, tudo pode piorar. Mas é bom, desde já,
vislumbrar cenários, para se tentar sobreviver no futuro da forma menos danosa
possível...
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