Poucas
edificações em Feira de Santana são tão impregnadas de História quanto o prédio
da Antiga Intendência. Ele se localiza na esquina da Avenida Senhor dos Passos
com a Praça Joaquim Pedreira, a antiga Praça da Bandeira. O imóvel também fica
nas cercanias de três construções emblemáticas do município: a Igreja Senhor
dos Passos, que se localiza defronte e os tombados prédios da Prefeitura
Municipal – que fica na esquina transversal – e do Mercado de Arte Popular,
situado no quarteirão contíguo, na própria antiga Praça da Bandeira.
Originalmente,
o imóvel funcionou como fórum, abrigando a sede do Poder Judiciário no
município. Foi construído em 1878, por determinação do coronel João Pedreira de
Cerqueira, que hoje batiza a praça ao lado. Mais adiante, em 1888, o prédio foi
adquirido pela Câmara Municipal por 12 contos de réis. A finalidade foi que ali
passasse a funcionar o Executivo feirense.
Em
1926, nova mudança: com a inauguração do Paço Municipal – que concentra, desde
então, as atividades da prefeitura – o imóvel vai a hasta pública – espécie de
leilão –, sendo arrematado por Eduardo Froes da Mota, que foi um dos
intendentes feirenses. Desde então, foi empregado em diversas funções
particulares, destacando-se as atividades comerciais, já que ali pulsa o
coração mercantil da Feira de Santana.
O
minucioso levantamento do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia
– o IPAC – aponta que o imóvel foi descaracterizado, tanto em relação à fachada
quanto em relação ao interior. Durante muito tempo a construção permaneceu sob
precárias condições de conservação. Mais recentemente, passou por um processo
de revitalização, o que viabilizou a retomada do seu uso comercial.
Descrição
A
área total da Antiga Intendência é de 1.254 metros quadrados, distribuídos por
dois pavimentos. Há também um “sótão transversal que aproveita o desnível do
telhado de duas águas”. No catálogo do IPAC são apresentadas pistas da
concepção original do prédio, cuja descaracterização foi ressaltada na análise:
“Sua planta indica que se tratava, provavelmente, de dois imóveis hoje
unificados”.
Mais
adiante, uma explicação detalhada para a hipótese: “O que faz com que sua
fachada principal apresente dez vãos, os quais no andar superior apresentam-se
em forma de janelas rasgadas, guarnecidas por gradil em serralheria. O mesmo
número de vãos e tratamento se repete na fachada lateral que apresenta, ainda,
quatro janelas ao nível do sótão”.
Os
problemas maiores de preservação foram observados no térreo: “No térreo, os
vãos foram completamente modificados para dar acesso às instalações comerciais
ali existentes. Com isso, algumas divisórias foram também eliminadas e o piso
substituído”. Sobre o andar superior, registra-se que está “menos alterado em
suas características construtivas”.
Comércio
O
IPAC aponta que não existem registros sobre as intervenções efetuadas no imóvel
ao longo do tempo. Sabe-se, conforme já apontado, das modificações realizadas
no pavimento inferior para assegurar feição comercial, mas isso não foi
documentado. Ressalte-se também que, à exceção das construções já mencionadas,
todos os prédios nas imediações são novos ou foram descaracterizados,
destinados a uso predominantemente comercial.
O
imóvel é anterior ao ciclo de construções que marcou a tardia Belle Époque feirense, que se estende ao
longo das duas primeiras décadas do século XX. Nele figuraram edificações
marcantes para a vida do município, a exemplo do Paço Municipal, do atual
Mercado de Arte Popular e da antiga Escola Normal, hoje sediando o Centro
Universitário de Cultura e Arte (CUCA). Ao contrário desses imóveis – bem
conservados até hoje – a Antiga Intendência sofreu intervenções que a
descaracterizaram.
Mesmo assim, sua fachada
injeta alguma beleza ao centro árido – em termos de arquitetura – da Feira de
Santana. Abundam as construções funcionais, em grande medida acanhadas, que
cumprem papel comercial. É pouco, mas integra o que sobrou da antiga e então provinciana
Princesa do Sertão.
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