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O prédio da Sociedade Filarmônica Vitória

Se há um imóvel na Feira de Santana que está impregnado de cultura é o que abriga a Sociedade Filarmônica Vitória, ali na Rua Conselheiro Franco, a antiga Rua Direita, no centro da cidade. Afinal, o imóvel é sede de uma das instituições em torno da qual gravitava a cultura feirense desde meados do século XIX. O imóvel, porém, é do século XX: a data de construção é indeterminada, de acordo com levantamento do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia, o IPAC. Pelas “características tipológicas”, é do início do século passado.
O que se sabe é que o Padre Ovídio de São Boaventura foi o responsável pela criação da Sociedade Filarmônica Vitória, em 20 de julho de 1873. E que o imóvel, ao longo de parte do século passado, “foi palco de grandes festas da elite de Feira”. Quem apadrinhou a instituição – conforme hábito da época – foi o coronel Agostinho Froes da Motta, liderança política daqueles tempos.
Foram registradas, ao longo dos anos, algumas intervenções no casarão. Uma delas em 1917, que modificou a fachada. Em 1950 aconteceu nova intervenção, com a ampliação de dois pavimentos. Posteriormente, em 1975, sob a presidência de Celso Ribeiro Daltro, foi substituído o assoalho original. Três anos mais tarde, o forro foi substituído e houve reparos na cobertura.
Originalmente, a construção teve outra finalidade, segundo o IPAC: “Sobrado urbano construído provavelmente para ser usado como residência e comércio”. O documento ressalta que a reforma de 1917 modificou a fachada do imóvel, que ficou com “a atual decoração eclética, em estilo classicizante”. Sobre as sacadas, “são encontradas com relativa frequência na região, especialmente nos municípios de Castro Alves, Jequié, Tanquinho, Ubaíra, Vitória da Conquista e Amargosa”.

Modificações

A área construída do conjunto totaliza 1.320 metros quadrados. O documento ressalta que ele foi “prejudicado por reformas, ampliações e inserção de elementos não condizentes”. Há uma descrição da estrutura: “Planta original retangular, recoberta por telhado de duas águas. Um saguão central leva a uma escadaria que dá acesso ao segundo pavimento que se constitui um grande salão”.
“O pavimento inferior encontra-se completamente modificado, atendendo hoje a diversas funções”, anotava o IPAC, há vinte anos, em 1998. Existe o registro de que o “prédio teve sua área construída dobrada com uma ampliação feita nos fundos, sendo provável dessa época a substituição da cobertura por telha em cimento amianto”.
Também há uma descrição detalhada da fachada: “A atual (...) é dividida por cornijas e coroada por platibanda com pináculos, estatuetas e uma águia no centro. Possui cinco portas no térreo, superpostas por igual número de janelas rasgadas, com sacadas em elementos torneados”.

Imediações

As imediações da sede da Sociedade Filarmônica Vitória são ocupadas para fins comerciais há décadas. Esse uso moldou a arquitetura do entorno: o que se vê são edificações com perfil comercial, de poucos andares, sem grandes atrativos estéticos. O relatório do IPAC aponta essa característica: “a Rua Conselheiro Franco vem se transformando num centro bancário, tendo já desaparecido as construções mais antigas”.
Nas cercanias subsiste apenas o conjunto que abriga o Centro Universitário de Cultura e Arte, o Cuca, vinculado à Uefs. O prédio da Filarmônica Vitória, até aqui, vem subsistindo como espaço cultural no centro da Feira de Santana. Lá acontece nos finais de semana uma tradicional seresta. E, na Micareta e no Bando Anunciador, aconteceram apresentações capitaneadas pelo movimento cultural o Beco É Nosso.
As antigas filarmônicas – como expressão cultural – mergulharam no ostracismo nas últimas décadas. Poucos municípios, a exemplo da vizinha Cachoeira, sustentam a tradição. Na Feira de Santana subsiste a Filarmônica Vitória, cujo prédio, existente até os dias atuais, constitui relíquia dos tempos em que a cultura, por aqui, pulsava com mais intensidade.

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