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A Mulher e o mercado de trabalho em Feira



                             
É grande o desafio para melhorar as condições no mercado de trabalho feminino em Feira de Santana. O que, diga-se de passagem, não difere muito daquilo que se verifica também na Bahia e, mais amplamente, no próprio Brasil. Baixa remuneração, longas jornadas, condições inadequadas de trabalho e problemas como o assédio moral ou sexual são constantemente denunciados. Essas adversidades também fazem parte do universo masculino no mercado de trabalho, mas são mais intensas junto a elas.
                No município, um dos principais problemas é o próprio acesso ao marcado formal de trabalho: enquanto os homens absorvem 76,3 mil postos na Feira de Santana, elas ficam com apenas 48,2 mil. Esses dados são do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), referentes aos 12 meses de 2013 e podem ser conferidos no site do próprio ministério.
                As mulheres são maioria como vendedoras no comércio varejista (5 mil contra 4,3 mil homens) e na função de auxiliar de escritório (3,6 mil contra 2,2 mil do sexo masculino), duas ocupações que geram parcela expressiva dos empregos na cidade. Mas ficam muito distantes entre os serventes de obra, por exemplo, função classicamente associada à masculinidade: 6.067 homens contra apenas 342 mulheres.
                No item remuneração, as mulheres também estão atrás: receberam, em média, R$ 1.344 em 2013, contra R$ 1.461 dos homens. A boa notícia é que, em oito setores indicados pelo levantamento do MTE, elas recebem mais em três deles: extração mineral, construção civil e administração pública.
                Diferenças
                Algumas dessas discrepâncias são compreensíveis: na construção civil, a reduzida presença feminina costuma se concentrar em funções técnicas e de nível superior, que remuneram melhor. Na administração pública, a mesma situação: a mão-de-obra feminina costuma ser majoritária em funções que exigem escolarização mais elevada, como a docência.
                Quando essas especificidades se anulam, os rendimentos femininos tendem a cair, tornando-se menores que os dos homens. É o caso do comércio varejista, cujas rendas masculina e feminina alcançam, respectivamente, R$ 1.231 e R$ 982. Ou a função de assistente administrativo, com valores respectivos de R$ 1.851 e R$ 1.484.
                Na indústria, o fenômeno é idêntico: entre os alimentadores de linha de produção, os homens recebem R$ 1.022 e as mulheres bem menos: R$ 864. Curiosamente, numa função tipicamente masculina – servente de obras – essa diferença é menor, conforme registra o MTE: R$ 781 contra R$ 753.
                Políticas
                Em linhas gerais, os dados permitem inferir que, além de ter acesso mais restrito ao mercado formal de trabalho, as mulheres costumam ganhar menos, mesmo exercendo funções similares. Há explicações mais gerais para o fenômeno – nível de escolaridade ou acesso a ocupações mais precárias, por exemplo – e, muito provavelmente, também especificidades do mercado local.
                Diversos estudos indicam que dois fenômenos ocorreram paralelamente no mercado de trabalho no Brasil ao longo das últimas décadas: a ampliação do contingente feminino e, ao mesmo tempo, a precarização dos postos ofertados. Em alguma medida, são as mulheres – e os jovens, quando se toma o recorte da faixa etária – que acabam sendo admitidos em funções que os homens rejeitam.
                Permanece colocado, portanto, o desafio de reduzir as desigualdades entre homens e mulheres no âmbito do mercado de trabalho. Os avanços alcançados pelos sexo feminino ao longo dos anos já colocam as mulheres, inclusive, como mão-de-obra mais qualificada que os próprios homens. Essas discrepâncias, portanto, não podem mais ser atribuídas a esse fator.


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