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Temas prosaicos em grandes e médias cidades


           
  
Nas esquinas, nas mesas dos bares e restaurantes, nos intervalos para o café no ambiente de trabalho e até mesmo nas salas de jantar há temas que, vira e mexe, dominam as conversas. Nas grandes e médias cidades prevalece nas conversas, há alguns anos já, os problemas de trânsito e os engarrafamentos gigantescos que atrapalham a vida dos cidadãos. Não há quem não tenha experimentado a sensação de ver a vida escorrendo, monótona e inútil, das janelas dos carros, respirando a fumaça tóxica dos escapamentos.
            A insegurança também é tema recorrente, já incorporado à rotina. Afinal, não é toda hora que se pode sair de casa (as madrugadas são proibitivas) e, caso se possa fazê-lo, nem todo lugar é recomendável. Há, também, que se ter cuidado com os transeuntes: um ou outro, aqui ou ali, mal-vestido ou com comportamento estranho, torna-se automaticamente objeto de suspeitas. E tome advertências nos serões familiares, principalmente para os mais jovens.
            O cidadão também se dedica a outros temas: a coleta precária de lixo, as filas em bancos e supermercados e, nos últimos meses, as greves incorporaram-se ao cotidiano na Bahia. Essas, inclusive, extrapolam os papos prosaicos, avançam computadores adentro, tornam-se temas nas redes sociais, viram alvo de gracejos ou montagens que são compartilhadas por uns dias, mas que, depois, somem nos escaninhos digitais.

            Camelôs

            Tema recorrente de conversas, porém, são os camelôs: quase todos os dias alguém reclama da ocupação desordenada do centro das grandes cidades brasileiras e cobra providências nos rádios, nas emissoras de tevê, nas publicações impressas e nas redes sociais. O comércio formal conserva queixas perpétuas, atribuindo prejuízos ao burburinho que afasta clientes e torna o trânsito no centro das cidades um martírio.
            Os reordenamentos são constantes e, em algumas cidades, o problema se reduz, mas, posteriormente, volta aos poucos. Exceção rara parece ser a cidade de São Paulo, cujo centro comercial permanece limpo e bem organizado. Isso, porém, às custas de muita confusão entre ambulantes e o “rapa” municipal.
            Salvador marcha na direção oposta: com prefeito, mas sem gestor, os soteropolitanos amargam inacreditáveis engarrafamentos humanos no centro da cidade e até mesmo na passarela que dá acesso à Estação Rodoviária, em função da ocupação sem controle das vias públicas. O problema é mais visível em ano de eleição municipal, quando praticamente não existe fiscalização.

            Soluções

            Um razoável consenso estabelecido em relação ao tema é que muitos brasileiros, sem oportunidades no mercado formal de trabalho, buscam instituir o próprio emprego, recorrendo à informalidade como forma de subsistência. Essa realidade é visível sobretudo entre aqueles com menor nível de qualificação.
             As soluções extremas, obviamente, não constituem solução: nem a repressão furiosa dos leões-de-chácara do “rapa”, como se costuma ver na televisão nos programas “Mundo-Cão”, nem a demagógica e populista liberação geral, como acontece durante as eleições municipais.
            Para se alcançar o meio termo que acomode todas as necessidades, porém, é necessário iniciativa. Na Feira de Santana, por exemplo, visivelmente falta um plano de reordenamento. Como componente do plano, é necessário um mapeamento que, pelo visto, também não existe. O ingrediente principal de todo o processo é o diálogo: sem ele, todas as soluções encontradas serão efêmeras.
           

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