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Nova ameaça de privatização da Embasa?


           
          
            Uma intensa boataria circulou há alguns dias sobre a possibilidade de privatização da Empresa Baiana de Águas e Saneamento, a Embasa. Sonho acalentado pelo finado PFL na virada dos anos 1990 para os anos 2000, a história ressurge num momento pouco oportuno para os privatistas de plantão: exatamente quando uma seca rigorosa castiga os sertões baianos e a importância do acesso à água ocupa papel central no noticiário. A direção da estatal imediatamente desmentiu, negando que pretenda abrir o capital da empresa, conforme foi noticiado.
            A luta contra a privatização da Embasa foi um dos momentos mais marcantes da história recente dos movimentos sociais na Bahia e também na Feira de Santana. No âmbito estadual, o processo foi tocado com a truculência característica do coronelismo de anos atrás: covardemente, a Assembléia Legislativa aprovou a desestatização da empresa em meados de 1999.
            Depois, constrangeu prefeituras aliadas a autorizar a exploração dos serviços de distribuição por empresas privadas. Em alguns municípios houve resistência heróica: em Itaberaba, por exemplo, a Câmara Municipal corajosamente rejeitou a proposta encaminhada pelo então prefeito.
            Na Feira de Santana houve uma significativa mobilização dos partidos de esquerda, mas – sobretudo – da Igreja Católica que abraçou a luta contra a privatização. Houve passeatas, assembléias e uma intensa pressão sobre a Câmara Municipal que não cedeu: a proposta acabou aprovada, com a discordância de apenas três vereadores.

            Dono certo

Comentava-se que a Embasa já tinha dono certo: uma empresa espanhola animara-se com a possibilidade de adquirir a estatal baiana. No capitalismo sem riscos da era Fernando Henrique Cardoso os ibéricos iam ficar só com a parte lucrativa da empresa: as grandes cidades ou aquelas banhadas por rios, cujos custos de captação e distribuição eram menores. O restante ficaria sob o controle do Estado.
            Eram tempos bicudos: a estatal de distribuição de energia já tinha sido privatizada, o antigo banco estadual também e a Embasa parecia trilhar o mesmo destino. As pressões sociais, somadas ao pífio resultado das privatizações, porém, mudaram os rumos da história e a empresa permanece ainda hoje como patrimônio dos baianos.
            Tempos depois, quando farejaram a mudança dos ventos, negou-se publicamente a intenção de privatizar a estatal. Á época, a roda da história girara o suficiente para a população perceber que os propalados benefícios das privatizações não passavam de retórica vazia. E colocou-se uma pedra sobre a questão.

            Especulações

            As especulações voltaram à tona num momento em que o debate sobre a questão hídrica na Bahia é retomado: a prolongada estiagem, os prejuízos decorrentes da falta de chuva e as dificuldades enfrentadas pela população do semiárido mostram que é necessária uma política consistente de infra-estrutura hídrica para a região. E, nisso, o papel da Embasa é fundamental.
            O detalhe é que a oposição se limita a indicar incoerência no comportamento dos petistas: dizem que tentam fazer agora o que repudiavam no passado. Dizer que se opõe à privatização e que vai se mobilizar contra, ninguém diz que vai fazer. Um péssimo sinal, para o qual a população tem que estar atenta.
            O discurso de que uma eventual privatização vai render recursos para aplicar em saúde e educação já na cola mais; menos ainda o da alegada elevação da qualidade dos serviços prestados: estão aí as empresas de telefonia para desmentir. Mas discursos se inventam: é necessário, portanto, atenção à retórica dos que pretendem vender o pouco que ainda resta de patrimônio público no Brasil.  

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