Estive em
Havana para apresentar dois trabalhos: um deles referia-se ao Plano Plurianual
Participativo (PPA-P) que a Bahia implementou em 2007. Uma experiência
interessante da qual participei e cujas lembranças resultaram num artigo
apresentado no Palacio de Convenciones de La Habana. Na mesa, uma miscelânea de
expositores: o mais exótico era um boliviano com cara de índio que fazia
doutorado no Canadá e que conduziu uma discussão bastante lúdica sobre a terra
e a relação dos povos andinos com a terra.
Na plateia
havia um debatedor grisalho que, horas depois, revi no hotel em um programa de
tevê discutindo aspectos políticos do embargo promovido pelos norte-americanos à
ilha. O espaço era amplo, havia tradução simultânea e, imagino, deve abrigar
discussões inclusive com chefes de Estado.
A exposição
despertou interesse entre a plateia: mais pelo tema político que chamava
atenção que, propriamente, pelo expositor. Notei que uns jovens estudantes
cubanos acompanhavam com interesse a apresentação. Talvez imaginassem: seria a
centelha de um futuro e impreciso processo revolucionário na América Latina? Preferi
me prender aos fatos e não vender ilusões, mesmo que para produzir uma alegria
transitória entre aquela gente sofrida.
Um professor
brasileiro fez uma intervenção: “Achava pouco esse papo de PPA-P; era muito
pouco para ser apresentando aos cubanos”. Como precisei me ausentar da sala
antes do fim dos debates porque tinha outra apresentação agendada, não pude responder
honestamente: é o que temos para mostrar. Mais do isso é ilusão.
Naqueles dias a crise econômica que eclodira
em 2008 assanhava o mundo; muitos revolucionários dormentes enxergavam então,
pela enésima vez, a derrocada definitiva e irreversível do sistema capitalista.
E vendiam a ilusão para os acadêmicos cubanos, que demonstravam ansiedade com
os acontecimentos, buscando enxergar a derrocada do sistema.
Saí com a convicção de que a experiência
cubana é singular e única: encaixa-se no contexto revolucionário da década de
1960 e se tornou emblemática porque ocorreu a 100 quilômetros do símbolo maior
do império econômico e militar capitalista. Não é pouco, mas é tudo: a dinâmica
da revolução cubana esgota-se em si mesma e na realidade que a engendrou.
A derrocada
capitalista tornou-se objeto de charlatanismo científico: que vai ocorrer no
futuro, vai; tudo nasce condenado a fenecer. Quando, como, aonde e o que virá
depois transita pelo imponderável. Apontar fragilidades transitórias ou
inconsistências genéticas envolve uma arte delicada que, quando deturpada – e
na maioria das vezes o é – desembesta num xamanismo materialista bisonho.
Investigar o passado é uma ciência difícil; descortinar o futuro, então, é
impossível...
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