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No quarto do
Hotel Vedado os móveis são antigos e os lençóis, surrados. Há um aparelho de
televisão que lembra aqueles que eram vendidos no Brasil na primeira metade da
década de 1980. No banheiro encontra-se um luxo que, certamente, não está
acessível aos cubanos: uma banheira. Pelo basculante é possível enxergar, com
dificuldade, as fachadas dos prédios no entorno. Embora próximo, não se vê o
mar, por causa dos prédios.
Uma
meia-dúzia de emissoras de tevê está disponível para os telespectadores.
Durante a madrugada, uma delas exibe algo difícil de se ver na televisão
brasileira: uma apresentação de balé. Outra passava propaganda governamental e
uma terceira exibia avaliações sobre a crise econômica que se acentuava – era
início de março de 2009 – no mundo capitalista.
Durante
o café da manhã no Hotel Vedado não havia o mesmo burburinho da noite anterior,
mas as pessoas que se serviam demonstravam a ávida inquietação de turistas que
desejam conhecer a cidade. Em meio aos turistas, funcionários estatais
mexiam-se, atendendo pedidos.
Utilizar
o transporte público é uma forma interessante de conhecer um país estrangeiro.
A dois quarteirões do hotel dezenas de pessoas aglomeravam-se no Malecón, à espera de condução. Estava
ainda um pouco frio, pois soprava um vento cortante vindo do mar.
O
embarque e o desembarque num dos ônibus que rodam em Havana é operação
delicada. Os veículos circulam cheios e há sempre muita gente disposta a
embarcar, nos pontos. Os ônibus são semi-novos, articulados, verdes, de fabricação
coreana.
O
próprio motorista é o encarregado de cobrar a passagem. O curioso, todavia, é
que não existe aquele rito solene do pagamento da tarifa visível mundo afora: o
motorista recebe as moedas, displicente, enquanto os passageiros procuram onde
se acomodar; até vi um passageiro recusar-se a pagar, sob os protestos frouxos
do motorista, que desistiu da cobrança depois de alguns instantes.
A
viagem é embalada pelo som de ritmos caribenhos no rádio do ônibus. Nos
intervalos musicais anunciam-se reuniões ou eventos governamentais: num desses
intervalos, o motorista limitou-se a trocar de estação.
Observei ao
redor, curioso: haveria algum dedo-duro anotando meticulosamente o horário e o
número do ônibus? Não. Os passageiros pareciam pouco interessados em fazer espionagem.
O gesto e a
reação soam estranhos: ditaduras terríveis se manifestam nos pequenos gestos de
coação ou intimidação; o patrulhamento ideológico e a observância dos códigos
de conduta, rígidos. Pelo menos é a imagem que se constrói no ocidente
democrático e civilizado. Depois dessa surpresa inicial, viriam outras.
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