Pular para o conteúdo principal

...E a máquina eleitoral não pode parar...


                      
Embora pareça enfadonho para o leitor, porque já ter tratei do tema uns meses atrás,  não consigo parar de me espantar com a imensa antecipação do debate eleitoral que se faz na Feira de Santana, em Salvador e também em outras importantes cidades brasileiras. Mal se encerraram as eleições de 2010, começou o frenesi para tratar do próximo período eleitoral, que só acontece em meados do ano que vem. Entre uma eleição e outra existe o imenso desafio de governar com o propósito de, supostamente, melhorar a vida dos cidadãos; mas quem vence e, sobretudo, quem perde, começa de imediato a se mexer pensando no próximo pleito.
            Por essa razão sites e jornais, todos os dias, divulgam enxurradas de notícias que não dizem coisa nenhuma: “oposição pretende marchar unida”, “surge mais um pré-candidato” ou “fulano diz que é cedo para falar de eleição”. Repetidas ad nauseam, essas “informações” até irritam o leitor.
A insistência talvez se deva à falta de criatividade dos repórteres dedicados à política, mas existem pelo menos duas outras razões: os opositores sem cargo precisam manter a visibilidade através da imprensa; e os pré-candidatos governistas se mobilizam para criar um clima de terror que lhes ofereça munição para barganhar uma desistência mais vantajosa lá adiante.
Uma terceira razão é que a máquina de campanha pós-Ditadura Militar se azeitou e ganhou uma sustança tal que já não se limita às eleições: segue a pleno vapor nas agências de publicidade, nos braços do cabo eleitoral que carrega o patrão no ombro e vai se nutrindo com as retribuições generosas àqueles que, abnegados, robusteceram o caixa 1 ou 2 com doações durante a campanha.

E o povo?

Nesse jogo, quem paga a conta, pra variar, é a população: enquanto rolam as futricas nos gabinetes, o cidadão médio vegeta nos intermináveis engarrafamentos das grandes cidades; enquanto uns vão polindo as insígnias das coalizões eleitorais, os traficantes distribuem crack nos centros das cidades; enquanto se brinda em recepções elegantes ou se viaja de jatinho, na periferia alguém é assassinado e um outro deixa de ser atendido no posto de saúde.
Em meio a essa dança, os debates relevantes somem do noticiário. Na Feira de Santana, seguem o caos e os engarrafamentos no Anel de Contorno; todos os dias morre gente assassinada na periferia, encorpando as estatísticas dos crimes insolúveis; a merenda chega a conta-gotas nas escolas e o transporte público segue dando vexame.
Mesmo com todos esses problemas, privilegiam-se notícias sobre o troca-troca partidário, repercutem-se com avidez notinhas plantadas e até – suprema subjetividade – dá-se ampla divulgação à troca de olhares entre dois políticos numa solenidade, o que – talvez, quem sabe – pode representar uma sólida aliança para o próximo pleito.

Insensatez

Na Bahia, muitos órgãos de imprensa vinculam-se a políticos ou a familiares de políticos: blogues, sites, jornais, emissoras de tevê e, principalmente, emissoras de rádio interior afora. É natural, portanto, que privilegiem as interpretações que favoreçam seus proprietários, sobretudo quando estão na oposição. Isso sempre aconteceu e se aprofunda pelo próprio momento que o país vive.
Os demais órgãos de imprensa, no entanto, não podem se colocar a reboque dos interesses de nenhum político ou grupo político, sobretudo quando se pretende informar e não opinar. A opinião é desejável e salutar – inclusive a partidariamente engajada – mas a informação deve atravessar um conjunto de filtros que a tornem mais asséptica e menos tendenciosa, principalmente na elaboração da pauta.
O esforço para antecipar o debate eleitoral mencionado acima cruzou a fronteira do interesse público e transita, desenvolto, na arena dos interesses da elite política: seja encobrindo as deficiências de quem está aboletado no poder, seja atendendo aos interesses de quem está sem mandato. Talvez esse seja o momento adequado para se repensar as pautas nas redações...
                                     

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Cultura e História no Mercado de Arte Popular

                                Um dos espaços mais relevantes da história da Feira de Santana é o chamado Mercado de Arte Popular , o MAP. Às vésperas de completar 100 anos – foi inaugurado formalmente em 27 de março de 1915 – o entreposto foi se tornando uma necessidade ainda no século XIX, mas só começou a sair do papel de fato em 1906, quando a Câmara Municipal aprovou o empréstimo de 100 contos de réis que deveria custear sua construção.   Atualmente, o MAP passa por mais uma reforma que, conforme previsão da prefeitura, deverá ser concluída nos próximos meses.                 Antes mesmo da proclamação da República, em 1889, já se discutia na Feira de Santana a necessidade de construção de um entreposto comercial que pudesse abrigar a afamada fei...

Patrimônio Cultural de Feira de Santana I

A Sede da Prefeitura Municipal A história do prédio da Prefeitura Municipal de Feira de Santana começou há 129 anos, em 1880. Naquela oportunidade, a Câmara Municipal adquiriu o imóvel para sediar o Executivo, que não dispunha de instalações adequadas. Hoje talvez cause estranheza a iniciativa partir do Legislativo, mas é que naqueles anos os vereadores acumulavam o papel reservado aos atuais prefeitos. Em 1906 o município crescia e o prédio de então já não atendia às necessidades do Executivo. Foi, então, adquirido um outro imóvel utilizado como anexo da prefeitura. Passaram-se 14 anos e veio a iniciativa de se construir um prédio único e que abrigasse com comodidade a administração municipal. Após a autorização da construção da nova sede em 1920, o intendente Bernardino Bahia lançou a pedra fundamental em 1921. O engenheiro Acciolly Ferreira da Silva assumiu a responsabilidade técnica. No início do século XX Feira de Santana experimentou uma robusta expansão urbana. Além do prédio da...

O futuro das feiras-livres

Os rumos das atividades comerciais são ditados pelos hábitos dos consumidores. A constatação, que é óbvia, se aplica até mesmo aos gêneros de primeira necessidade, como os alimentos. As mudanças no comportamento dos indivíduos favorecem o surgimento de novas atividades comerciais, assim como põem em xeque antigas estratégias de comercialização. A maioria dessas mudanças, porém, ocorre de forma lenta, diluindo a percepção sobre a profundidade e a extensão. Atualmente, por exemplo, vivemos a prolongada transição que tirou as feiras-livres do centro das atividades comerciais. A origem das feiras-livres como estratégia de comercialização surgiu na Idade Média, quando as cidades começavam a florescer. Algumas das maiores cidades européias modernas são frutos das feiras que se organizavam com o propósito de permitir que produtores de distintas localidades comercializassem seus produtos. As distâncias, as dificuldades de locomoção e a intermitência das safras exigiam uma solução que as feiras...