A História da Bahia é farta em exemplos de que os políticos locais dificilmente conseguem se manter na oposição. Na era republicana, o primeiro exemplo foi a própria Proclamação da República: de monarquistas convictos em 14 de novembro, os deputados baianos converteram-se em destemidos republicanos apenas três dias depois, quando se deram conta de que a extinção da monarquia era irreversível. Depois simularam uma eleição para a nova assembléia e elegeram-se, mantendo o status quo monárquico, só que vestindo a camisa adversária.
A disposição dos políticos baianos em defender o novo regime e preservar seus interesses, porém, era sincera. Tanto que, em 1897, alarmados com o crescimento do Arraial de Canudos e com os boatos de que lá era um núcleo monarquista, empenharam-se vivamente em promover o massacre, só para atestar fidelidade aos republicanos.
Mais adiante, com a Revolução de 1930, os herdeiros dessa tradição reavivaram-na, apoiando Getúlio Vargas e acomodando-se à nova ordem política. Desde que os feudos eleitorais no interior permanecessem intocados, todos mudavam de lado sem grandes constrangimentos.
A ascensão do “último dos coronéis” a partir da década de 1970 é um dos exemplos mais recentes. Num determinado momento, uns 90% dos políticos baianos curvaram-se à sua dinastia. Carisma? Capacidade de agregar politicamente? Liderança que simbolizava um objetivo coletivo? Nada disso. Apenas o pragmatismo de quem se curva a quem tem as chaves do cofre e o receio de um imensurável poder de retaliação.
Política atual
Em 2006 as eleições derrubaram o engenhoso castelo de cartas. Pouco depois, morreu o coronel. Dois duros golpes nos tradicionais políticos baianos que, vergados e desorientados, não conseguiam compreender que o antigo sistema pétreo tornara-se pó e os açoites – literais e figurados – já não os ameaçavam. Conforme a Lenda de Pã, desde então, “Tudo era permitido”.
Demorou um pouco, mas essa permissividade foi assimilada e mostra sem o menor pudor. Uma evidência foi o palanque da ministra Dilma Rousseff em Feira de Santana, semana passada. Para ali convergiram novos e antigos mandatários, gente coerente, gente incoerente e gente desorientada.
Como é previsível nessas situações, o tom dos discursos variou enormemente. Todos são de Lula – pelo menos por enquanto – era o consenso. No plano estadual, porém, houve variações, discrepâncias e aberrações. Quem é candidato a governador marcou posição e quem não é deveria ter preservado o silêncio, para evitar falar besteira.
Equilibrista
Um deles foi o senador César Borges. Equilibrista político desde 2006, primeiro dizia que nada foi feito na Bahia. Agora, com seu partido apoiando Lula, diz que o que foi feito no estado é obra do Governo Federal. Desorientado, ora pende para Geddel Vieira Lima, ora pende para o ex-governador Paulo Souto. No meio do caminho, mudou de partido e houve até rumores de que teria o mandato requisitado pela legenda que o elegeu.
Nos seus quatro anos de governo, entre 1999 e 2002, esteve uma única vez em Feira de Santana. Naqueles anos, a emergência do Hospital Geral Clériston Andrade fedia a sangue e vômito e doentes se amontoavam prostrados durante horas, à espera de um atendimento que às vezes nem acontecia. Hoje, ele retorna para inspecionar as obras do Hospital da Criança, como se houvesse participação sua na realização.
Ano que vem, certamente, vai estar mais vezes em Feira de Santana, cabalando votos para continuar no Senado. Quando vier, deveria detalhar o que fez pelo município quando governador. E explicar tanto entusiasmo pelo casuísta aumento no número de vereadores a partir de 2012.
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