Pular para o conteúdo principal

Vexame à vista lá na Assembleia da ONU

A imprensa brasileira noticia que amanhã (24), na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque, Jair Bolsonaro, o “mito”, vai fazer um discurso para tentar mudar a imagem do Brasil lá fora. O noticiário insinua que as palavras vão produzir um efeito mágico: diluirão a fumaça das queimadas, as ações de desmonte dos órgãos ambientais, o descaso e o desrespeito com o meio ambiente, uma das marcas da desastrosa gestão iniciada em janeiro. A questão é que, lá, na plateia, não estará um crédulo magote de piraquaras brazucas.
O “mito” passou décadas arrotando macheza. Na campanha eleitoral, esbravejava aqui ou ali, cercado da tradicional claque. Só que acabou salvo dos debates por uma facada providencial. Mas, quando assumiu a presidência da República, os brasileiros tiveram noção exata de suas constrangedoras limitações.
Bastaram uns poucos dias para se perceber que o ex-capitão não tem credenciais nem para despachar certificado de reservista em Tiro de Guerra de fundo de província. O ódio, o rancor, a mágoa e o recalque, porém, alçaram-no à inacreditável condição de presidente da República. Hábil, o “mito” catalisou essa pulsão pela morte que está aí no ar. Coletivamente, o que move o Brasil hoje é a morte e não a vida. É doloroso perceber, pelas ruas, esse instituto de autodestruição. Só podia dar o “mito” na presidência.
O irônico é que o País está sendo conduzido por alguém que, sequer, encarna o arquétipo do autocrata tradicional. O “mito” é muito fraco: o olhar vazio, inexpressivo, que se fixa sempre no nada, a boca contraída, quase invisível, a fala mole, a voz baixa, o tom titubeante, tudo isso realça suas virtudes às avessas de liderança. Seu mandato não tem projeto para o Brasil, mas, se tivesse, entusiasmaria pouco.
O “mito” só deixa de parecer um títere nas solenidades militares ou quando vai cortejar, sabujo, Donald Trump, o presidente dos Estados Unidos. Lá ele sorri e mostra-se à vontade: talvez porque, nessas ocasiões exerça o único ofício para o qual demonstra alguma desenvoltura.
Um discurso protocolar vai repercutir pouco e terá efeito nenhum pelo mundo. Declarações desastrosas são improváveis, mesmo porque o “mito” lerá seu discurso, aos arrancos, visivelmente intimidado. O que ele deve fazer é recorrer à expressão “soberania”, mais para inflamar seus acólitos tupinambás que, propriamente, firmar posição lá fora.
Mas é necessário cultivar o otimismo sempre: vai que o Brasil evita mais um vexame lá fora? Lendo mecanicamente um discurso insosso, protocolar, com aquele olhar inexpressivo e com os lábios contraídos, o “mito” pode até marcar um gol de placa, dadas as deploráveis circunstâncias.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O Parlamento não digere a democracia virtual

A tentativa do Congresso Nacional de cercear a liberdade de opinião através da Internet é ao mesmo tempo preocupante e alvissareira. Preocupante por motivos óbvios: trata-se de mais uma ingerência – ou tentativa – da classe política de cercear a liberdade de opinião que a Constituição de 1988 prevê e que, até recentemente, era exercida apenas pelos poucos “privilegiados” que tinham acesso aos meios de comunicação convencionais, como jornais impressos, emissoras de rádio e televisão. Por outro lado, é alvissareira por dois motivos: primeiro porque o acesso e o uso da Internet como meio de comunicação no Brasil vem se difundindo, alcançando dezenas de milhões de brasileiros que integram o universo de “incluídos digitais”. Segundo, porque a expansão já causa imensa preocupação na Câmara e no Senado, onde se tenta forjar amarras inúteis no longo prazo. Semana passada a ingerência e a incompreensão do que representa o fenômeno da Internet eram visíveis através das imagens da TV Senado:

Cultura e História no Mercado de Arte Popular

                                Um dos espaços mais relevantes da história da Feira de Santana é o chamado Mercado de Arte Popular , o MAP. Às vésperas de completar 100 anos – foi inaugurado formalmente em 27 de março de 1915 – o entreposto foi se tornando uma necessidade ainda no século XIX, mas só começou a sair do papel de fato em 1906, quando a Câmara Municipal aprovou o empréstimo de 100 contos de réis que deveria custear sua construção.   Atualmente, o MAP passa por mais uma reforma que, conforme previsão da prefeitura, deverá ser concluída nos próximos meses.                 Antes mesmo da proclamação da República, em 1889, já se discutia na Feira de Santana a necessidade de construção de um entreposto comercial que pudesse abrigar a afamada feira-livre que mobilizava comerciantes e consumidores da região. Isso na época em que não existia a figura do chefe do Executivo, quando as questões administrativas eram resolvidas e encaminhadas pela Câmara Municipal.           

Patrimônio Cultural de Feira de Santana I

A Sede da Prefeitura Municipal A história do prédio da Prefeitura Municipal de Feira de Santana começou há 129 anos, em 1880. Naquela oportunidade, a Câmara Municipal adquiriu o imóvel para sediar o Executivo, que não dispunha de instalações adequadas. Hoje talvez cause estranheza a iniciativa partir do Legislativo, mas é que naqueles anos os vereadores acumulavam o papel reservado aos atuais prefeitos. Em 1906 o município crescia e o prédio de então já não atendia às necessidades do Executivo. Foi, então, adquirido um outro imóvel utilizado como anexo da prefeitura. Passaram-se 14 anos e veio a iniciativa de se construir um prédio único e que abrigasse com comodidade a administração municipal. Após a autorização da construção da nova sede em 1920, o intendente Bernardino Bahia lançou a pedra fundamental em 1921. O engenheiro Acciolly Ferreira da Silva assumiu a responsabilidade técnica. No início do século XX Feira de Santana experimentou uma robusta expansão urbana. Além do prédio da