O fenômeno das
secas foi registrado pelos colonizadores portugueses pouco tempo depois de
aportarem no Brasil. Foi ainda na primeira metade do século XVI, por volta de
1532. Àquela época era mais difícil perceber, já que as incursões sertões
adentro ainda eram raras. Mas os lusitanos foram informados pelos indígenas,
que precisaram se deslocar até o litoral em função da escassez de água devida à
severa estiagem. Com o tempo, as sucessivas viagens e o conhecimento acumulado
sobre o interior inóspito do Nordeste possibilitaram reconhecer que o fenômeno
era constante.
Alguns
escribas que se aventuraram entre os espinhos da caatinga, além de observarem o
fenômeno, conversaram com os nativos, que faziam alusão à sua recorrência;
lusitanos sem pendores literários também conheceram a inclemência das secas,
nas investidas em busca de metais preciosos ou de eventuais oportunidades
econômicas.
Quando o gado
começou a ser criado de maneira extensiva pelos sertões, os colonizadores já
tinham uma noção do que os aguardava: reconheciam a importância estratégica dos
recursos hídricos e buscavam estabelecer seus precários núcleos de povoamento aonde
houvesse água com alguma abundância.
Não apenas o
Recôncavo foi palco de conflitos entre portugueses e indígenas: nos sertões,
habitados por tribos nômades, houve enfrentamento com resultados bastante
conhecidos: ou os índios foram exterminados, ou submeteram-se à lógica de
acumulação de riquezas dos brancos.
Clima
Durante séculos
o homem se contrapôs à natureza: não se buscava a convivência, mas o
enfrentamento, na vã tentativa de transformar as condições climáticas adversas,
moldando-as às suas necessidades. A destruição da mata nativa para o plantio de
pastagens e o esgotamento de rios e nascentes estão entre os resultados mais
conhecidos.
A lógica que
orientou a ocupação da região, no entanto, produziu desastres também na
dimensão social: as terras imensas foram apropriadas por poucos proprietários e
a acumulação de riquezas – prejudicada pela exigüidade de recursos naturais –
baseou-se na sobre-exploração do trabalho. Isso provocou, como principal
sintoma, a imensa pobreza que assola o chamado semiárido.
Os
problemas, dessa forma, podem ser agrupados em duas categorias: a inadequada
relação entre homem e natureza e, também, entre o homem e o próprio homem; é
isso que, ao longo de séculos e também nas últimas décadas, provoca a
acentuação da aridez do sertão e, principalmente, expõe a população à falta de
alimentos e de água.
Bolsa Família
Ao longo de
2012 os baianos enfrentaram uma das mais severas estiagens das últimas décadas.
Boa parte das lavouras se perdeu e grande parte dos rebanhos foi dizimada ou
perdeu peso, acarretando problemas econômicos, principalmente para os pequenos
produtores, que vêem sua renda se reduzir ou cessar durante a estiagem.
As
mesmas medidas foram adotadas pelos governantes: distribuição de cestas
básicas, água em carros-pipa, medidas emergenciais de escavação de cisternas. A
única diferença é que os programas de transferência de renda – como o Bolsa
Família – reduziram a ameaça da fome e de saques, como ocorria no passado.
Só
não enxerga os efeitos positivos dos programas de transferência de renda no
Brasil quem não quer ver ou possui posições políticas muito reacionárias. Mas
todo mundo sabe que é necessário ir além da transferência de renda para
resolver a questão do semiárido, já que o problema costuma ser esquecido depois
da primeira chuva, como as que caem desde a semana passada...
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