A exemplo do
que acontece em cidades antigas do Brasil e de outros países latino-americanas,
La Habana Vieja apresenta um
descuidado aspecto de abandono. Prédios vistosos em ruínas, outros se
decompondo em múltiplas cores de pinturas superpostas, outros ainda sustentados
por precárias escoras de madeira que denotam um esforço de preservação.
Durante a
manhã a luz alegre do sol choca-se frontalmente com as fachadas e, em alguma
medida, atenua os efeitos do tempo e da escassez de recursos para a
preservação; à tarde, porém, a luz alaranjada e débil empresta um tom
melancólico aos antigos casarões, projetando sombras reais e imaginárias.
É
constrangedor examinar esses imóveis antigos. Centros históricos com manutenção
precária lembram mulheres que um dia foram belas, mas que perderam a formosura
da juventude. Que dizer? Recuperarão, um dia, a beleza de outrora num desses
milagres científicos? É improvável que ocorra.
Enquanto a
palavra adequada de conforto doideja na mente, sobe uma infinita, inefável
ternura. Arrisca-se um elogio qualquer em troca de um brilho fugaz nos olhos? Lança-se uma expressão que resgata um sorriso
que lembra tempos que teimam em sobreviver na memória? A dúvida se arrasta.
No caso dos
antigos casarões, resta como homenagem o silêncio solene e a fotografia
tradicional do viajante. Nesses casos, vale caprichar nos ângulos que resgatam
a beleza bravamente preservada, apesar da degradação. Depois, em casa, num
exame mais detalhado, o peito se enche num intenso e profundo suspiro de uma
dolorida saudade daquilo que não se viveu.
No entanto, a
mente vagueia, persiste no esforço de resgatar as glórias do passado fugidio.
No silêncio da reflexão, os sons alegres de outras épocas se insinuam,
entrelaçam-se à felicidade pretérita, sobrevivem como lembrança etérea e
imaginada de quem não testemunhou o passado dourado.
Quem caminha
pelas ruas da Habana Vieja sente
ecoar na mente o som dos passos do passado, de pés que já se foram. A vida de
quem por ali viveu, porém, insinua-se ardentemente numa camada densa de
sentimentos; compartilham-se sonhos e angústias, desejos e frustrações; a
História vai e vem, como as ondas que rumorejam e se quebram, pela enésima vez,
nas rochas escuras de limo ao longo do Malecón...
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