Pular para o conteúdo principal

Analfabetismo em Feira é inferior a dois dígitos

Recentemente foi divulgado o número de analfabetos apurado na Bahia no Censo 2010. A boa notícia é que a quantidade de pessoas com mais de 10 anos que não sabem ler e escrever, no município, pela primeira vez, ficou abaixo dos dois dígitos: 8,6% da população ou, conforme dados do IBGE, 40,7 mil pessoas. A taxa, inclusive, corresponde a cerca de metade do percentual da Bahia, que alcança alarmantes – embora decrescentes – 15,4% ou 1,8 milhão de pessoas com mais de 10 anos de idade.
Na comparação com dados dos dois censos anteriores, a Feira de Santana evoluiu: em 1991, existiam 67,1 mil pessoas (21,9% da população nessa faixa etária) que não sabiam ler e escrever e, nove anos depois, em 2000, esse número havia declinado para 50,7 mil ou 13,1% da população.
A Bahia também avançou no intervalo de 20 anos, mas os números são mais modestos: havia pouco mais de três milhões de analfabetos em 1991 (35,2% da população), caindo para 2,2 milhões em 2000 (21,6% dos baianos) e, por fim, atingindo 1,8 milhão em 2010 ou os 15,4% já mencionados acima.
Pouquíssimos municípios baianos tem percentual de analfabetos inferior a dois dígitos. São os casos, por exemplo, de Dias D’Ávila (7,7%), Candeias (8,5%), Alagoinhas (9,6%), Simões Filho (7,6%), São Francisco do Conde (9,4%) e Itaparica (7,2%), além de Salvador, com elogiáveis 3,9%.

Causas

As causas da redução do analfabetismo são conhecidas: universalização (ou quase) do acesso à educação básica entre crianças e adolescentes, ampliação da oferta de vagas para jovens e adultos, além de um fator demográfico: a morte de muitas pessoas, com mais idade, que não sabem ler ou escrever. Outro aspecto é que o analfabetismo é mais elevado entre residentes em áreas rurais.
A redução do problema num extremo, no entanto, exibe os desafios colocados noutro ponto: a qualidade da educação ofertada é ainda muito ruim, a evasão e a repetência ostentam patamares alarmantes e as iniciativas que estimulam a permanência em sala de aula – como a escola em tempo integral – ainda são exceções.
Esses problemas se refletem no desemprego elevado – há postos de trabalho não preenchidos por falta de qualificação dos trabalhadores – e na baixa remuneração da mão-de-obra. É o caso da Feira de Santana, em que boa parte da população tem rendimento próximo de um salário-mínimo.

Desenvolvimento

Mesmo ostentando números confortáveis em relação aos demais municípios baianos, a Feira de Santana ainda deve levar décadas para alcançar índices similares ao de países desenvolvidos. Isso se os governantes não resolverem investir em políticas que reduzam o problema. Em muitos países, o analfabetismo não é superior a 1% da população. Temos, portanto, um percentual de analfabetos oito vezes maior.
Muito se fala no Brasil, na Bahia e na Feira de Santana, de desenvolvimento. Aqui prevalece o surrado discurso da atração de empresas, intensivas em mão-de-obra, via incentivos fiscais. A fórmula mágica – se é que pode ser chamada assim – é explicada por duas causas singelas: mão-de-obra barata – e, por definição, pouco qualificada – e renúncia fiscal que reduz ou até extingue a incidência de determinados impostos.
É evidente que esse “modelo” de desenvolvimento implica que população educada é um detalhe secundário. O problema é que essa fórmula, além de instável e predatória, é insustentável no longo prazo. Quem não lembra de quando o Centro Industrial do Subaé se tornou um cemitério de empresas no início da década de 1990? Tudo porque se acabaram os incentivos concedidos nos anos 1970.
Nos anos seguintes, houve novas rodadas de atração de empresas, que só permanecem na Bahia em função da mão-de-obra barata e da isenção fiscal. Como recurso para vencer uma ou duas eleições, é uma fórmula invejável; Mas, como estratégia de desenvolvimento de longo prazo, todavia, é um tiro no pé...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O Parlamento não digere a democracia virtual

A tentativa do Congresso Nacional de cercear a liberdade de opinião através da Internet é ao mesmo tempo preocupante e alvissareira. Preocupante por motivos óbvios: trata-se de mais uma ingerência – ou tentativa – da classe política de cercear a liberdade de opinião que a Constituição de 1988 prevê e que, até recentemente, era exercida apenas pelos poucos “privilegiados” que tinham acesso aos meios de comunicação convencionais, como jornais impressos, emissoras de rádio e televisão. Por outro lado, é alvissareira por dois motivos: primeiro porque o acesso e o uso da Internet como meio de comunicação no Brasil vem se difundindo, alcançando dezenas de milhões de brasileiros que integram o universo de “incluídos digitais”. Segundo, porque a expansão já causa imensa preocupação na Câmara e no Senado, onde se tenta forjar amarras inúteis no longo prazo. Semana passada a ingerência e a incompreensão do que representa o fenômeno da Internet eram visíveis através das imagens da TV Senado:

Cultura e História no Mercado de Arte Popular

                                Um dos espaços mais relevantes da história da Feira de Santana é o chamado Mercado de Arte Popular , o MAP. Às vésperas de completar 100 anos – foi inaugurado formalmente em 27 de março de 1915 – o entreposto foi se tornando uma necessidade ainda no século XIX, mas só começou a sair do papel de fato em 1906, quando a Câmara Municipal aprovou o empréstimo de 100 contos de réis que deveria custear sua construção.   Atualmente, o MAP passa por mais uma reforma que, conforme previsão da prefeitura, deverá ser concluída nos próximos meses.                 Antes mesmo da proclamação da República, em 1889, já se discutia na Feira de Santana a necessidade de construção de um entreposto comercial que pudesse abrigar a afamada feira-livre que mobilizava comerciantes e consumidores da região. Isso na época em que não existia a figura do chefe do Executivo, quando as questões administrativas eram resolvidas e encaminhadas pela Câmara Municipal.           

Patrimônio Cultural de Feira de Santana I

A Sede da Prefeitura Municipal A história do prédio da Prefeitura Municipal de Feira de Santana começou há 129 anos, em 1880. Naquela oportunidade, a Câmara Municipal adquiriu o imóvel para sediar o Executivo, que não dispunha de instalações adequadas. Hoje talvez cause estranheza a iniciativa partir do Legislativo, mas é que naqueles anos os vereadores acumulavam o papel reservado aos atuais prefeitos. Em 1906 o município crescia e o prédio de então já não atendia às necessidades do Executivo. Foi, então, adquirido um outro imóvel utilizado como anexo da prefeitura. Passaram-se 14 anos e veio a iniciativa de se construir um prédio único e que abrigasse com comodidade a administração municipal. Após a autorização da construção da nova sede em 1920, o intendente Bernardino Bahia lançou a pedra fundamental em 1921. O engenheiro Acciolly Ferreira da Silva assumiu a responsabilidade técnica. No início do século XX Feira de Santana experimentou uma robusta expansão urbana. Além do prédio da