Pular para o conteúdo principal

O eloquente silêncio sobre o Centro de Convenções



        
             Semana passada o polêmico e inacabado Centro de Convenções em Feira de Santana se tornou notícia novamente: um incêndio atingiu o equipamento e, ironicamente, só não deve ter causado maiores estragos porque a obra encontra-se abandonada há pelo menos quatro anos. Até recentemente, só se tocava no assunto de vez em quando, por falta de assunto ou porque algum deputado da oposição precisa demarcar espaço e justificar-se para seus eleitores. Há alguns dias, enfim, aconteceu o incêndio que resgatou o espaço do ostracismo em que foi mergulhado.
            É difícil firmar uma opinião conclusiva sobre a questão: a mais simplória delas sinaliza apenas que o governador não gosta da Feira de Santana e, portanto, resolveu suspender a obra. A oposição – para se valorizar e também para se justificar – alega que a obra não é entregue porque o município é (ou era) governado por um partido adversário.
            O inexplicável silêncio do governo estadual é terreno fértil para a proliferação de versões, ilações, mexericos e fofocas. O  único argumento apresentado para justificar a suspensão da obra foram as supostas irregularidades no projeto arquitetônico. Circulou a versão de que sequer o terreno onde o equipamento está sendo construído estava devidamente legalizado.
            Caso confirmados, esses problemas não explicam o prolongado silêncio e o necessário desfecho sobre a questão. Sabe Deus quanto dinheiro público foi aplicado na obra interrompida e quanto já se desperdiçou com essa interrupção e com a ação do tempo e dos vândalos.

            Alternativa

            A solução mais adequada para o Centro de Convenções talvez seja se tentar uma Parceria Público-Privada (PPP) para concluir a obra e assegurar o funcionamento do equipamento. Essa alternativa, todavia, exige estudo técnico e articulação com a iniciativa privada, o que, pelo visto, não estão acontecendo.
            E se não surgirem investidores interessados na concessão do equipamento? Então é sinal que a opção pela construção do Centro de Convenções foi uma decisão equivocada e quem acabaria arcando com os custos seria o contribuinte, como sempre. Não me recordo da divulgação de estudos atestando a viabilidade do empreendimento. Talvez uma mera decisão politico-partidária tenha orientado a decisão.
            O certo é que a gestão de equipamentos como Centros de Convenções pelo poder público vem se tornando cada vez mais rara. A gestão terceirizada, em alguns casos, e a parceria público-privada, em outros, constituem alternativas mais dinâmicas e sustentáveis nos últimos anos. Os governantes que iniciaram a obra, membros de um partido entusiasticamente privatista, deveriam ter ficado atentos para o detalhe.

            “Elefante Branco”
           
            Inacabado, o Centro de Convenções é um monumento ao desperdício do dinheiro público; Concluído, pode tornar-se um “elefante branco” cuja manutenção absorverá ninguém sabe quanto dos combalidos cofres estaduais. Em suma, duas situações ruins que só não são piores que a opção adotada até aqui: o silêncio e a interminável postergação do problema.
            No toma-lá-dá-cá da política partidária, municípios pequenos são agraciados com uma barragem aqui, meia-dúzia de cisternas ali, uma casa de farinha acolá. Municípios médios ganham hospitais que quase sempre não funcionam, abatedouros ou obras de pavimentação. A Feira de Santana, por seu porte e importância, ganhou um Centro de Convenções inacabado.
            A experiência frustrada, pelo menos, pode ter uma função pedagógica interessante: desnudar os embaraços decorrentes de opções açodadas e orientadas pelo barômetro eleitoral. E despertar a consciência para a necessária ascendência da técnica sobre a política, para se evitar jogar dinheiro público pelo ralo.
Se necessária, a construção do Centro de Convenções deveria estar embasada em estudos técnicos que estimulassem até mesmo a participação da iniciativa privada. Não parece ter sido o que aconteceu.
           

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Cultura e História no Mercado de Arte Popular

                                Um dos espaços mais relevantes da história da Feira de Santana é o chamado Mercado de Arte Popular , o MAP. Às vésperas de completar 100 anos – foi inaugurado formalmente em 27 de março de 1915 – o entreposto foi se tornando uma necessidade ainda no século XIX, mas só começou a sair do papel de fato em 1906, quando a Câmara Municipal aprovou o empréstimo de 100 contos de réis que deveria custear sua construção.   Atualmente, o MAP passa por mais uma reforma que, conforme previsão da prefeitura, deverá ser concluída nos próximos meses.                 Antes mesmo da proclamação da República, em 1889, já se discutia na Feira de Santana a necessidade de construção de um entreposto comercial que pudesse abrigar a afamada fei...

Placas de inauguração contam parte da História do MAP

  Aprendi que a História pode ser contada sob diversas perspectivas. Uma delas, particularmente, desperta minha atenção. É a da Administração Pública. Mais ainda: a dos prédios públicos – sejam eles quais forem – espalhados por aí, Brasil afora. As placas de inauguração, de reinauguração, comemorativas – enfim, todas elas – ajudam a entender os vaivéns dos governos e do próprio País. Sempre que as vejo, me aproximo, leio-as, conectando-me com fragmentos da História, – oficial, vá lá – mas ricos em detalhes para quem busca visualizar em perspectiva. Na manhã do sábado passado caíram chuvas intermitentes sobre a Feira de Santana. Circulando pelo centro da cidade, resolvi esperar a garoa se dispersar no Mercado de Arte Popular, o MAP. Muita gente fazia o mesmo. Lá havia os cheiros habituais – da maniçoba e do sarapatel, dos livros e cordeis, do couro das sandálias e apetrechos sertanejos – mas o que me chamou a atenção, naquele dia, foram quatro placas. Três delas solenes, bem antig...

Patrimônio Cultural de Feira de Santana I

A Sede da Prefeitura Municipal A história do prédio da Prefeitura Municipal de Feira de Santana começou há 129 anos, em 1880. Naquela oportunidade, a Câmara Municipal adquiriu o imóvel para sediar o Executivo, que não dispunha de instalações adequadas. Hoje talvez cause estranheza a iniciativa partir do Legislativo, mas é que naqueles anos os vereadores acumulavam o papel reservado aos atuais prefeitos. Em 1906 o município crescia e o prédio de então já não atendia às necessidades do Executivo. Foi, então, adquirido um outro imóvel utilizado como anexo da prefeitura. Passaram-se 14 anos e veio a iniciativa de se construir um prédio único e que abrigasse com comodidade a administração municipal. Após a autorização da construção da nova sede em 1920, o intendente Bernardino Bahia lançou a pedra fundamental em 1921. O engenheiro Acciolly Ferreira da Silva assumiu a responsabilidade técnica. No início do século XX Feira de Santana experimentou uma robusta expansão urbana. Além do prédio da...