Nos últimos anos tem sido constante a sensação de que a temperatura da Feira de Santana vem se elevando, particularmente nos meses de verão, entre dezembro e fevereiro. Nos dias escaldantes que antecedem as festas de final de ano, quando o centro comercial atrai milhares de consumidores diariamente e as ruas se transformam em verdadeiros fornos, a única sensação de frescor fica por conta do Papai Noel e da neve imaginária que circunda o bom velhinho nas vitrines.
O calor que assola a Feira de Santana talvez não decorra do temido aquecimento global, que retornou ao noticiário com a fracassada conferência climática realizada em Copenhague, na Dinamarca, neste mês de dezembro. É possível que seus efeitos sejam localizados, decorrentes da ação humana sobre a cidade e seus arredores. Respostas a essa hipótese, contudo, somente os especialistas podem oferecer.
Boa parte das cidades brasileiras – e nordestinas, em particular – foi se expandindo ao longo dos anos sem maiores preocupações com a conservação de áreas verdes. Feira de Santana não foge a essa regra e, agora, quando o concreto cinzento se alastra em novas construções, esse descuido é mais facilmente perceptível.
As ruas da cidade são pouco arborizadas. As que têm árvores dispõem de uma vegetação muito tímida, incapaz de contrabalançar os efeitos do clima árido do sertão. Praticamente também não existem áreas verdes, como parques e jardins, como se o verde fosse retardar o desenvolvimento urbano do município ou constituísse atestado de que não somos suficientemente citadinos.
Lagoas
A escassez de áreas verdes se soma à devastação das lagoas e olhos d’água que antes eram abundantes na Feira de Santana. A ocupação desordenada do solo induziu o soterramento de nascentes e lagoas com toneladas de lixo e entulho, substituindo-as por habitações precárias que, com o passar dos anos, foram se consolidando e acarretando problemas ambientais e de saúde pública.
Muitas lagoas ficavam nos declives suaves no interior do Anel de Contorno. É o caso da Lagoa do Geladinho, nas Baraúnas e da Lagoa do Prato Raso, na Queimadinha. A expansão comercial e a construção de habitações nessas áreas praticamente as extinguiram. Não resta dúvida que os largos espelhos d’água, com sua umidade natural, contribuíam para amenizar o calor nos tormentosos dias de verão.
Um fenômeno mais recente vem colaborando para tornar a situação ainda mais crítica. Há algumas décadas era comum que as famílias residissem em casas com amplos e verdejantes quintais, em alguns casos verdadeiros pomares. A mudança dos hábitos familiares e até mesmo o medo da violência vem contribuindo para reduzir esse costume, diminuindo as reservas verdes particulares que eram importantes diante da ausência de políticas do poder público.
Expansão urbana
O festejado boom imobiliário que a Feira de Santana experimenta é, sem dúvida, muito bem vindo. Gera empregos, dinamiza a economia local, moderniza o município e o torna mais atraente para novos investimentos. A questão ambiental, contudo, precisa ser incorporada à agenda governamental, mesmo com décadas de atraso, e também às estratégias dos agentes privados.
O fracasso das discussões em Copenhague não deve servir de justificativa para a inércia do poder público em relação aos problemas ambientais. Afinal, a omissão e as intervenções desastradas no âmbito dos municípios se refletem na vida dos cidadãos, às vezes de forma irreversível.
Portanto, quando enfrentam o sol nas ruas da Feira de Santana, seja no frenesi das compras natalinas ou nos dias calmos e escaldantes de janeiro, os feirenses devem se voltar para o passado, visualizando nele a origem dos problemas ambientais dos dias de hoje e no presente a oportunidade de frear as tendências que ameaçam a sobrevivência humana na terra.
Referindo-se ao bolsa-família, fala-se de que esse programa ganhou musculatura. Certo. Entretanto, ao fazer-se comparações, é justo que se faça uma comparação com a arrecadação fiscal. Comparações de gastos públicos, sobretudo quando essas comparações são críticas, devem levar em conta o monte orçamentário.
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