Pular para o conteúdo principal

O silêncio dos indiferentes


É lamentável que no Brasil o planejamento ainda seja um processo negligenciado pelos governantes, mesmo depois da estabilidade monetária alcançada a partir de 1994 com a redução da inflação e dos instrumentos legados pela Constituição de 1988, como o Plano Plurianual (PPA), a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e a Lei Orçamentária Anual (LOA). Complementar a esse processo, no Brasil há um crescente engajamento da sociedade nas decisões orçamentárias, no processo conhecido como Orçamento Participativo e que, em 2009, ganhou a adesão de um número maior de prefeituras na Bahia.

Em Feira de Santana orçamento e planejamento nunca foram objetos de maior atenção da sociedade. Afinal, nunca se viu mobilização social buscando influir nas decisões orçamentárias – que definem onde serão aplicados os recursos públicos – e os governantes também jamais se interessaram em fomentá-la.

Paradoxalmente, o mais importante político da história feirense – Francisco Pinto – foi quem, pela primeira vez no Brasil, tentou implementar o que poderia ser o embrião do orçamento participativo no município, no já longínquo ano de 1963. Acabou deposto pelos militares na quartelada de 1º de abril de 1964.

Os tempos hoje, porém, são outros. A gestão do Estado evoluiu o suficiente para se constatar que governos isoladamente são incapazes de realizar gestões eficientes, eficazes e efetivas. A Bahia que ingressou no século XXI vivendo o auge do coronelismo autista é uma evidência: detém péssimos indicadores em saúde e educação, por exemplo.

Silêncio

Na Feira de Santana o cenário permanece desanimador. O Plano Plurianual foi concebido e aprovado sem discussão de qualquer espécie com a sociedade. Nem mesmo no site oficial da prefeitura o documento encontra-se disponível para uma eventual consulta de algum cidadão curioso para saber o que a prefeitura pretende fazer nos próximos quatro anos.

O Plano Diretor até se encontra lá. Mas, olhando com cuidado, percebe-se que a versão é de 2006 e que, provavelmente, descansa em algum escaninho da Câmara Municipal à espera de apreciação. Que a sociedade não foi consultada no processo não resta a menor dúvida.

Mais recentemente, foi aprovada a Lei Orçamentária de 2010. Nem o site da prefeitura divulgou qualquer notícia. Estranho num município com tantas carências não se fazer qualquer referência à aplicação de recursos para a resolução dos graves problemas que afligem parte da população feirense.

Próximos anos

Os segmentos sociais organizados da Feira de Santana não pressionam os governantes pela adoção de formas mais democráticas e modernas de gestão. Os governantes, por sua vez, parecem satisfeitos com a situação atual. Ou ignoram o conjunto de mudanças que se processam no Brasil contemporâneo e que devem ser incorporadas à gestão municipal.

Consultar a sociedade sobre construção de políticas públicas deixou de ser coisa de comunista há muitos anos. Sem conhecer os problemas, sem pactuar compromissos, sem co-responsabilização e sem avaliação de resultados vive-se na época da bota e do rebenque, quando sinhozinho mandava e o séqüito se curvava, reverente.

Vivemos outros tempos, conforme já se disse. Tempos em que gente de idoneidade altamente duvidosa esconde dinheiro na meia e diz cinicamente que é “caixa 2” e tempos em que se faz oração depois de mais uma maracutaia. Mas tempos também de drenar para o esgoto da história os ratos de gabinete e os métodos arcaicos de gestão, quando mandava quem podia e obedecia quem tinha juízo...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O Parlamento não digere a democracia virtual

A tentativa do Congresso Nacional de cercear a liberdade de opinião através da Internet é ao mesmo tempo preocupante e alvissareira. Preocupante por motivos óbvios: trata-se de mais uma ingerência – ou tentativa – da classe política de cercear a liberdade de opinião que a Constituição de 1988 prevê e que, até recentemente, era exercida apenas pelos poucos “privilegiados” que tinham acesso aos meios de comunicação convencionais, como jornais impressos, emissoras de rádio e televisão. Por outro lado, é alvissareira por dois motivos: primeiro porque o acesso e o uso da Internet como meio de comunicação no Brasil vem se difundindo, alcançando dezenas de milhões de brasileiros que integram o universo de “incluídos digitais”. Segundo, porque a expansão já causa imensa preocupação na Câmara e no Senado, onde se tenta forjar amarras inúteis no longo prazo. Semana passada a ingerência e a incompreensão do que representa o fenômeno da Internet eram visíveis através das imagens da TV Senado:

Cultura e História no Mercado de Arte Popular

                                Um dos espaços mais relevantes da história da Feira de Santana é o chamado Mercado de Arte Popular , o MAP. Às vésperas de completar 100 anos – foi inaugurado formalmente em 27 de março de 1915 – o entreposto foi se tornando uma necessidade ainda no século XIX, mas só começou a sair do papel de fato em 1906, quando a Câmara Municipal aprovou o empréstimo de 100 contos de réis que deveria custear sua construção.   Atualmente, o MAP passa por mais uma reforma que, conforme previsão da prefeitura, deverá ser concluída nos próximos meses.                 Antes mesmo da proclamação da República, em 1889, já se discutia na Feira de Santana a necessidade de construção de um entreposto comercial que pudesse abrigar a afamada feira-livre que mobilizava comerciantes e consumidores da região. Isso na época em que não existia a figura do chefe do Executivo, quando as questões administrativas eram resolvidas e encaminhadas pela Câmara Municipal.           

Patrimônio Cultural de Feira de Santana I

A Sede da Prefeitura Municipal A história do prédio da Prefeitura Municipal de Feira de Santana começou há 129 anos, em 1880. Naquela oportunidade, a Câmara Municipal adquiriu o imóvel para sediar o Executivo, que não dispunha de instalações adequadas. Hoje talvez cause estranheza a iniciativa partir do Legislativo, mas é que naqueles anos os vereadores acumulavam o papel reservado aos atuais prefeitos. Em 1906 o município crescia e o prédio de então já não atendia às necessidades do Executivo. Foi, então, adquirido um outro imóvel utilizado como anexo da prefeitura. Passaram-se 14 anos e veio a iniciativa de se construir um prédio único e que abrigasse com comodidade a administração municipal. Após a autorização da construção da nova sede em 1920, o intendente Bernardino Bahia lançou a pedra fundamental em 1921. O engenheiro Acciolly Ferreira da Silva assumiu a responsabilidade técnica. No início do século XX Feira de Santana experimentou uma robusta expansão urbana. Além do prédio da