Pululam,
em inúmeros sites, notícias sobre a redução temporária de salário de vereadores
Brasil afora. Na Bahia, algumas câmaras municipais abraçaram a iniciativa. A
medida tem um quê de pragmatismo – afinal, as eleições acontecem em meados do
ano –, mas desperta indiscutível simpatia junto à população. A proposta é
desdobramento da terrível pandemia do novo coronavírus, que já assola o Brasil
e boa parte do planeta.
Aqui,
na Feira de Santana, por enquanto, não há nenhuma palavra sobre redução de
salário dos parlamentares. Mesmo com a suspensão das sessões. Em Brasília, essas
sessões estão acontecendo remotamente, com a apreciação da pauta relacionada ao
coronavírus. Na Câmara Municipal feirense prevalece o melhor dos mundos: todas
as atividades estão suspensas, mas o holerite do vereador permanece integral,
bojudo como sempre.
São
muito modestas as ações do Legislativo em relação à pandemia. Vá lá: votaram hoje
(02) os projetos encaminhados pelo prefeito. E destinaram as emendas
parlamentares para o combate ao coronavírus. Mas será que isso é alguma coisa
além do trivial? Obviamente não, mas alguns deles, caso se mantivessem calados,
contribuiriam mais.
É
o caso dos que reclamaram da suspensão de eventos, particularmente das
celebrações religiosas. Indignados, empunham Deus e a Bíblia, numa suposta
defesa da liberdade religiosa. Pelo visto, ignoram os riscos decorrentes das
aglomerações. E quando levas de doentes começarem a se aglomerar – e a morrer –
em corredores das unidades de saúde feirenses? Sairão, discretamente, de cena? Ou
assumirão sua parcela de responsabilidade?
O
desconchavo não se encerra aí. Afinal, será que os vereadores feirenses não têm
nenhum tipo de proposta para ajudar camelôs e ambulantes que enfrentam severas
dificuldades com a suspensão das atividades comerciais? É, talvez, o segmento
mais afetado pela pandemia. Deduz-se que os parlamentares não se contenham por timidez.
Nem por despreparo ou incompetência.
Muitos
dirão que a vereança não tem a chave do cofre. Outros arriscarão explicações
similares. É verdade. Mas será que a política – e as políticas públicas – não
se fazem com o debate, com o embate sadio de ideias que conduzem a novas
soluções, sobretudo neste momento ímpar de crise? Era assim no passado. Talvez
tudo tenha mudado nesses tempos de “nova política” aí na praça.
O
certo mesmo é que passada a pandemia – sabe Deus a que custo em vidas – haverá congestionamento
de vereadores apresentando propostas de comendas, medalhas e títulos de
cidadania para os profissionais da saúde. Nas sessões solenes, prevalecerão os discursos
enfáticos, os clichês habituais, os chavões de sempre. Distraídos imaginarão que
os vereadores figuraram na linha de frente do enfrentamento.
Mas agilidade – mesmo – se
vê é na hora de concessão de reajuste salarial para si mesmos. Ano passado
aprovaram uma majoração. Para prefeito, secretários e vereadores. Vai valer a
partir do ano que vem. Será que nem mesmo a pandemia de coronavírus vai
forçá-los a rever essa decisão? Com a palavra, a nobre vereança feirense...
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