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A lição que vem de Manaus

O radialista Wilson Lima (PSC), eleito governador do Amazonas em 2018, foi apresentador de tevê. Dedicava-se, com histrionismo, a esses programas sensacionalistas que tanto apelo tem junto à gente humilde. Quem quiser, pode checar sua performance em arquivos disponíveis na Internet. Não fica devendo nada às celebridades que encenam esses quadros grotescos nos auditórios do Rio de Janeiro e de São Paulo. Elegeu-se no vácuo da iracunda “nova política” e do anseio febril por renovação.
Submergiu no noticiário desde a posse – no Brasil, só há espaço hoje para as esquisitices de Jair Bolsonaro, o “mito” –, mas ressurge agora. No estado que ele governa o caos já se instalou com a disseminação do novo coronavírus. Hospitais lotados, cadáveres em unidades de saúde, gente desesperada à espera de atendimento, tudo se vê no triste calvário amazonense.
O que acontece em Manaus deveria levar muita gente a refletir. Afinal, caso prevaleça o que o “mito”, arauto da “nova política”, defende – a retomada indiscriminada das atividades econômicas –, o horror amazonense logo vai se espalhar pelo Brasil inteiro. Serão muitos milhares de cadáveres para satisfazer o impulso genocida que emergiu nas eleições de 2018. Isso para não mencionar a crise econômica, que ganhará fôlego adicional com a covid-19 fora de controle.
Por aqui, muitos seguem insistindo para que o comércio reabra, para que se restabeleça a pretensa normalidade. A experiência ensina que, caso prevaleça essa visão, logo o número de infectados crescerá vertiginosamente e muita gente vai morrer nas unidades de pronto-atendimento, à espera de remoção para hospitais superlotados. Aí o comércio vai fechar novamente e os prejuízos, no médio prazo, serão muito maiores.
O brasileiro tem o hábito deplorável de só se conscientizar quando a desgraça bate à sua porta. Aí há choro, ranger de dentes, indignação contra os governantes. É o que vai se ver, no atacado, durante a pandemia do coronavírus. Por enquanto há desdém com a doença, revolta com as medidas adotadas e pressa em se restabelecer uma suposta normalidade.
Percebe-se que os governantes – prefeitos e governadores – vem sofrendo pressões terríveis para flexibilizar o isolamento. Os empresários só pensam nos lucros; outros, os pobres, são acossados pelas necessidades, já que o governo federal só não os abandonou à própria sorte graças às iniciativas de deputados e senadores. Ironicamente, à frente, estava a “velha política”, sensata diante deste desastre.
É clichê antigo dizer que a História julgará os homens públicos. Julgará também a estridente “nova política”. Só que, pelo jeito, esse julgamento virá bem antes que suas farsescas personagens o julguem...

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