Quem embarca
nos ônibus grená e branco pode não suspeitar, mas todos aqueles veículos
circularam por anos a fio pela Zona Sul da cidade de São Paulo. Além de Santo
Amaro e adjacências – reduto fervilhante de nordestinos que foram tentar a vida
na metrópole paulistana – os veículos circularam pela periferia pobre da região,
pontuada por dezenas de “jardins”, normalmente batizados com nomes femininos –
Miriam, Ângela, Amália e por aí vai. Muitos feirenses – aqueles que vão em
busca de mais oportunidades no Sudeste – sem dúvida veem esses veículos com
familiaridade.
Os
ônibus azuis e brancos – o padrão da pintura em toda a capital é o mesmo, só
muda a cor, conforme a região –, por sua vez, circulam no extremo oposto da
cidade, na Zona Norte. Já os verdes e brancos circulam pela Zona Oeste. Os
amarelos, mais raros por aqui, também são mais raros por lá e conectam regiões
específicas do centro expandido e da Zona Leste.
Mas
não são apenas os velhos ônibus de São Paulo que, agora, circulam pela Feira de
Santana. Há alguns veículos nem tão antigos de Tatuí – cidade que hospeda um
afamado Conservatório Musical no interior paulista – e também de Piracicaba. A
diversidade reflete bem o caos que, hoje, dá a tônica no sistema de transporte
público na Feira de Santana. Nesse quesito, aliás, dificilmente o município já
viveu um período tão crítico quanto em 2015. Cronologicamente, aliás, este ano
começou antes do Natal de 2014.
Muitos,
certamente, lembram bem que o Natal do ano passado foi antecedido por uma
súbita greve dos rodoviários, que cobravam salários atrasados. Isso às vésperas
dos festejos natalinos, o que tornou caótico o deslocamento pela cidade. Aquilo
foi a senha para o início de um período de turbulência que se arrasta até hoje.
Foi como se o calendário se acelerasse, com 2015 começando já naqueles dias.
Confusão
Ironicamente,
a prefeitura parecia dispor de um trunfo considerável para resolver os
problemas: uma nova licitação do transporte público, já que a concessão
expirava nos primeiros meses do ano. Pois bem: o processo tornou-se tema para
mais uma novela, cujo epílogo arrastou-se por meses. Enquanto isso, o feirense
penava, pagando caro para circular em ônibus velhíssimos.
Findo
o episódio, veio a hecatombe: alegando sabe Deus o quê, as empresas suspenderam
o serviço no mês de agosto. O imbróglio arrastou-se, conduzindo o município
para o caos por cerca de 10 dias. Enquanto sucediam-se as tratativas habituais
e as justificativas de praxe, a população era, mais uma vez, penalizada. O
comércio local, já claudicante pela crise econômica, baqueou com uma forte
retração nas vendas.
A
partir de então a antiga frota, que circulou lá pela Pauliceia, foi mobilizada.
Nem bem os ônibus chegaram e houve nova suspensão das atividades pelos
rodoviários. Somente ao longo do último mês é que a tormenta serenou um pouco.
Sinal de novos tempos? Não, porque problemas estruturais permanecem e só
poderão ser resolvidos a partir de intervenções mais incisivas.
Eleições municipais
A
fase é tão complicada que o outrora festejado Bus Rapid Transit – BRT tornou-se nova fonte de problemas.
Anunciado com pompa, o sistema começou a ser torpedeado ainda em 2014.
Primeiro, foi a falta de diálogo: somente na marra, com a intervenção do
Ministério Público, é que a prefeitura se dispôs a expor o projeto com mais
alguns detalhes. O resultado acabou sendo o oposto: ao invés de dirimir
dúvidas, surgiram inúmeros questionamentos.
Antes,
os próprios prepostos da prefeitura já começavam a tropeçar em dados
imprecisos: haveria corte de árvores? Quantas seriam sacrificadas? E quais?
Perdeu-se tempo infindável à cata de respostas para questões do gênero. Por
fim, mudanças no projeto aprovado pela Caixa Econômica geraram mais
contestações e mais atrasos.
Em
2016, mais uma vez, o feirense vai voltar às urnas para escolher prefeito e
vereadores. Mas, mais que indicar nomes, a eleição é a oportunidade ideal para
discutir a vida da cidade. Incluindo aí, claro, o transporte público que tanto
carece de aprimoramento, como a atual crise atesta.
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