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O cenário das eleições municipais de 2016

                
                
As crises política e econômica que abalroaram Dilma Rousseff (PT) logo nos primeiros dias deste seu segundo mandato varreram do noticiário as especulações sobre a corrida sucessória nos municípios brasileiros, que acontece já em meados de 2016. Pudera: a debacle econômica, a infindável série de desastradas manobras políticas e a virulência de um segmento hidrófobo da oposição ocupam todas as manchetes desde os primeiros dias de janeiro. A própria permanência da presidente no cargo é um mistério que só vai se revelar, pelo visto, mais adiante.
                  Apesar da bruma densa que encobre o cenário político, paradoxalmente algumas certezas já se descortinaram para o processo eleitoral do próximo ano, pelo menos na visão de quem frequenta os bastidores políticos. A mais óbvia delas é a provável desidratação eleitoral do Partido dos Trabalhadores, atingido em cheio pelas denúncias de corrupção na Petrobras.
                Na eleição municipal anterior, em 2012, quem colou nas imagens de Dilma Rousseff –bastante bem avaliada à época – e, sobretudo, do ex-presidente Lula, colheu dividendos eleitorais. Na Bahia, por exemplo, o partido arrebatou 92 prefeituras. Em nível nacional, levou a disputada prefeitura de São Paulo, sob as bênçãos de Lula.
                Pelo jeito, em 2016 vai ser diferente: deserções de prefeitos petistas somam-se às dezenas em diversos estados brasileiros; pré-candidatos bem avaliados pelo eleitorado abandonaram o partido, temerosos que os respingos das denúncias de corrupção lhes enodoem a imagem. Tudo bem diferente do que ocorreu até o ano passado.

                Prefeituras falidas

        Outra convicção dos analistas é que os prefeitos no exercício do mandato sofrerão as consequências da crise econômica – e fiscal – que lipoaspira investimentos e enfurece o eleitorado. Conforme se sabe, o eleitor médio nem sempre dedica-se a apurar responsabilidades e prefere alvejar quem esteja mais à mão. É o caso de inúmeros prefeitos, surpreendidos com repasses de menos para responsabilidade de mais.
                Além da visível interrupção de investimentos em inúmeras cidades – o fenômeno é observável de Norte a Sul do País – há, sobretudo nos pequenos municípios, algumas questões delicadas: a redução nos cargos comissionados; os reajustes para o funcionalismo abaixo dos índices inflacionários; e os tenebrosos atrasos de salários.
                Para contrabalançar esses dissabores, uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) tende a favorecer quem está no exercício do mandato, sobretudo no Executivo: a proibição do financiamento privado de campanha. Caso efetivamente essa fonte seja suspensa, a inércia da máquina pública tende a favorecer quem a controla no momento, particularmente nos pequenos municípios.
               
               E Feira?
           
          Na Feira de Santana, pelo menos até aqui, lufa-lufa mais intenso só se vê na Câmara Municipal e entre os pré-candidatos a vereador. É que o calendário eleitoral – em aberto, em função da recente deliberação, já apontada, do STF, e da expectativa pela sanção do arremedo de reforma política – torna urgentes decisões sobre destinos partidários.
                Com relação à prefeitura, as novidades são escassas: descontando-se as especulações, por enquanto, o cenário tende a se assemelhar a 2012: de um lado, o atual prefeito José Ronaldo de Carvalho; do outro, o petista José Neto. Os demais nomes apontados, até aqui, não passam de cogitação. Pelo menos por enquanto.

                O crescente descrédito da classe política e a crise econômica que afeta os cofres das prefeituras talvez sinalizem para o limiar de uma nova era na política brasileira. Essa nova era poderia estar associada à maior profissionalização da administração pública, à efetiva discussão de novas ideias e de formas inovadoras de gestão e à maior participação da sociedade nas decisões de governo. É o que falta à maioria dos municípios brasileiros e também à Feira de Santana...

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