Pular para o conteúdo principal

Desemprego e pobreza em alta e Bolsa Família em baixa

                
O desemprego é, certamente, a face mais cruel de uma crise econômica. Afinal, atinge justamente o segmento mais fragilizado da sociedade: a classe trabalhadora, que dispõe apenas de sua própria capacidade produtiva para assegurar a subsistência. Como todos sabem, desde meados de 2014 o Brasil mergulhou num ciclo recessivo, somado a uma intensa crise política – inclusive com uma renitente discussão sobre o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) – que tende a se arrastar, na melhor das hipóteses, até meados de 2016. É o que apontam prognósticos de economistas e até de instituições do governo.
                Mais desemprego implica em exposição maior à pobreza. Quem perde o emprego e não dispõe de outras fontes de renda pode ver se elevar seu risco de insegurança alimentar. Isso para não mencionar a dificuldade de acesso a bens essenciais, como a educação, o transporte e o lazer. Fragilizadas, famílias inteiras precisam recorrer às políticas de transferência de renda para assegurar a sobrevivência.
                Em Feira de Santana, mesmo nos períodos de relativa bonança econômica dos últimos anos, milhares de famílias sempre dependeram de iniciativas como o Programa Bolsa Família (PBF) – a maior e mais capilar iniciativa de transferência de renda em vigência no Brasil – para complementar a renda exígua e, assim, atenuar suas crônicas necessidades materiais. Agora, com o recrudescimento da crise, a demanda tende a aumentar.
                Dados do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) indicam que, em maio, havia 39,2 mil famílias beneficiárias do Bolsa Família no município. Essa número correspondia a 83,05% do total com perfil de renda para o programa. Noutras palavras, cerca de oito mil famílias, com perfil para o PBF, não tem acesso ao benefício no município. Segundo o MDS, a queda na cobertura, desde junho de 2011, alcança 18,12%.

                Declínio

No mesmo mês de maio de 2015 foram repassados para os beneficiários do programa R$ 5,188 milhões. É menos dinheiro que aquilo que já foi pago no passado: o ápice ocorreu em 2013, quando R$ 80,7 milhões foram pagos em 12 meses. Em 2014, o montante sofreu redução significativa: caiu para R$ 71,7 milhões no mesmo intervalo.
Caso a média dos valores de maio se mantenha, até dezembro serão pagos aproximadamente R$ 62,4 milhões. Isso significaria regredir a patamares observados no já longínquo ano de 2011, quando o Governo Federal desembolsou R$ 64,3 milhões. Note-se que esses valores são nominais, desconsiderando a inflação do período. Em 2012 o desempenho foi melhor, já que o total repassado alcançou R$ 74,7 milhões.
Na Feira de Santana, o maior obstáculo para incorporar mais pessoas ao programa é o baixo acompanhamento das condicionalidades previstas em relação à média nacional: somente 79,4% das crianças e jovens entre 6 e 17 anos têm acompanhamento de frequência escolar. A média nacional alcança 91,67%.  Na saúde, o acompanhamento de crianças de até 7 anos, gestantes e nutrizes atinge a 63,6% das famílias. É menor, também, que a média nacional, que atinge 75,25%. A avaliação é do próprio MDS.

Perspectivas

Dependendo da extensão da crise e da forma como ela vai afetar os mais pobres – normalmente o segmento mais exposto e mais prejudicado pelas crises – é possível que, no médio prazo, cresça o número de pessoas em Feira de Santana que se enquadram no perfil do PBF. Para atendê-las, a prefeitura terá que superar os gargalos detectados pelo Ministério do Desenvolvimento Social.
É indiscutível que serão necessários esforços adicionais para que o fantasma da fome deixe de rondar os lares de muitos feirenses. É óbvio que o desejável é a retomada do crescimento, com a elevação dos níveis de emprego, como vinha acontecendo nos últimos anos. E, para quem enfrenta maior dificuldade de inserção no mercado de trabalho, é fundamental que sejam ofertadas condições de geração de trabalho e renda. Sem isso, restam os benefícios sociais ou a fome.
Mas o fato é que não se vislumbra no horizonte, pelo menos no momento, um novo ciclo de crescimento. Sem ele – nunca é demais repetir – os programas de transferência de renda tornam-se ainda mais fundamentais, particularmente num município com as fragilidades sociais da Feira de Santana. 







Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O Parlamento não digere a democracia virtual

A tentativa do Congresso Nacional de cercear a liberdade de opinião através da Internet é ao mesmo tempo preocupante e alvissareira. Preocupante por motivos óbvios: trata-se de mais uma ingerência – ou tentativa – da classe política de cercear a liberdade de opinião que a Constituição de 1988 prevê e que, até recentemente, era exercida apenas pelos poucos “privilegiados” que tinham acesso aos meios de comunicação convencionais, como jornais impressos, emissoras de rádio e televisão. Por outro lado, é alvissareira por dois motivos: primeiro porque o acesso e o uso da Internet como meio de comunicação no Brasil vem se difundindo, alcançando dezenas de milhões de brasileiros que integram o universo de “incluídos digitais”. Segundo, porque a expansão já causa imensa preocupação na Câmara e no Senado, onde se tenta forjar amarras inúteis no longo prazo. Semana passada a ingerência e a incompreensão do que representa o fenômeno da Internet eram visíveis através das imagens da TV Senado:

Cultura e História no Mercado de Arte Popular

                                Um dos espaços mais relevantes da história da Feira de Santana é o chamado Mercado de Arte Popular , o MAP. Às vésperas de completar 100 anos – foi inaugurado formalmente em 27 de março de 1915 – o entreposto foi se tornando uma necessidade ainda no século XIX, mas só começou a sair do papel de fato em 1906, quando a Câmara Municipal aprovou o empréstimo de 100 contos de réis que deveria custear sua construção.   Atualmente, o MAP passa por mais uma reforma que, conforme previsão da prefeitura, deverá ser concluída nos próximos meses.                 Antes mesmo da proclamação da República, em 1889, já se discutia na Feira de Santana a necessidade de construção de um entreposto comercial que pudesse abrigar a afamada feira-livre que mobilizava comerciantes e consumidores da região. Isso na época em que não existia a figura do chefe do Executivo, quando as questões administrativas eram resolvidas e encaminhadas pela Câmara Municipal.           

“Um dia de domingo” na tarde de sábado

  Foi num final de tarde de sábado. Aquela escuridão azulada, típica do entardecer, já se irradiava pelo céu de nuvens acinzentadas. No Cruzeiro, as primeiras sombras envolviam as árvores esguias, o casario acanhado, os pedestres vivazes, os automóveis que avançavam pelas cercanias. No bar antigo – era escuro, piso áspero, paredes descoradas, mesas e cadeiras plásticas – a clientela espalhava-se pelas mesas, litrinhos e litrões esvaziando-se com regularidade. Foi quando o aparelho de som lançou a canção inesperada: “ ... Eu preciso te falar, Te encontrar de qualquer jeito Pra sentar e conversar, Depois andar de encontro ao vento”. Na mesa da calçada, um sujeito de camiseta regata e bermuda de surfista suspendeu a ruidosa conversa, esticou as pernas, sacudiu os pés enfiados numa sandália de dedo. Os olhos percorriam as árvores, a torre da igreja do outro lado da praça, os táxis estacionados. No que pensava? Difícil descobrir. Mas contraiu o rosto numa careta breve, uma express