Feira de Santana precisa,
urgentemente, de um plano estratégico de longo prazo. Algo como um Feira 2030.
Ou 2035, caso se adote o convencional intervalo de 20 anos para se pensar o
desenvolvimento. E um plano que pense não apenas o município, mas também o seu
entorno metropolitano, já que, pelo menos no papel, existe uma região
metropolitana. Há quem defenda a tese que o planejamento governamental caiu em
desuso depois da ascensão do deus Mercado. Bobagem: a crise mundial está aí
justamente para provar o contrário.
Há décadas a Feira de Santana cresce
sem um rumo orientado. Alardeia-se que o município se desenvolve, que cresce e
gera emprego, mas ninguém persegue metas de longo prazo. Não se vislumbra a Princesa
do Sertão na qual se deseja viver daqui a umas duas décadas. Horizontes do
gênero só estão acessíveis à medida que se promova um planejamento integrado.
É claro que a prefeitura, sozinha e
isoladamente, não possui estrutura nem fôlego para uma empreitada do gênero. É
necessário contar com um conjunto de parcerias institucionais, que passa pelos
governos federal e do estado, pelo setor privado e pelas organizações da
sociedade civil. Principalmente porque – ressaltemos – a Feira de Santana hoje
integra uma região metropolitana.
O desejável seria, inclusive, que o
próprio governo do estado assumisse o compromisso de pensar sua mais nova
região metropolitana. O planejamento regional era um instrumento corriqueiro de
desenvolvimento até meados dos anos 1970, ainda durante o regime militar.
Ironicamente, com a redemocratização e a escalada do culto às soluções de
mercado – cujas fragilidades são visíveis – pensar o desenvolvimento foi
abandonado como algo cafona.
Supostamente, o Partido dos
Trabalhadores (PT), aqui na Bahia e em Brasília, resgatou a função planejamento
quando ascendeu ao poder. Pelo menos é o discurso para consumo externo. Mas os
avanços, no geral, foram muito tímidos, quase inexistentes em determinadas
dimensões. Sobretudo porque a lógica do balcão, do toma-lá-dá-cá, prevalece
inibindo quaisquer iniciativas de planejamento.
Plano Plurianual
Quais os grandes objetivos da
prefeitura para a Feira de Santana? E os do governo do estado? Ninguém sabe.
Pistas poderiam ser encontradas nos planos plurianuais (PPA) dos dois governos.
Mas o da prefeitura sequer está disponível no site oficial. E o PPA estadual –
que, a propósito, está em elaboração nesse 2015 para o próximo quadriênio – é
muito pouco regionalizado. Dessa forma, fica difícil saber o que se pretende
fazer na Feira de Santana.
Em tese, existem outros planos
setoriais nas esferas municipal e estadual, inclusive aderentes àquilo que se
almeja implementar a partir do PPA. Mas os conteúdos nem sempre estão à
disposição do cidadão, isso quando existem. A conexão entre esses planos talvez
fosse um grande primeiro passo para que, efetivamente, haja uma retomada do
planejamento. Incluindo aí, claro, os demais municípios da região
metropolitana.
Há quem enxergue no planejamento e
nos planos apenas perda de tempo e papelada inútil. Em alguma medida estão
certos: quando se pretende construir planos protocolares, apenas para atender
exigências legais, trata-se exatamente disso. Mas quando se almeja de fato
transformar a realidade, é necessário construir planos factíveis, baseados em
metodologias adequadas e com o efetivo compromisso da implementação.
A favor do planejamento há um detalhe
não negligenciável: gestões baseadas no improviso, ou na “empiria”, como se diz
no popular, às vezes resvalam para a catástrofe. Na melhor das hipóteses, não
se vai além do chamado feijão-com-arroz, com intervenções mais cosméticas que,
propriamente, estruturantes. É o que se costuma ver na maioria dos municípios
brasileiros.
O porte da Feira de Santana e a
pujança de sua economia exigem um planejamento que vá além da pajelança
habitual. Para isso, é necessário estender os horizontes do planejamento,
mobilizar atores, construir consensos e estabelecer parcerias para a captação
de recursos. A partir daí, definir prioridades. Mas quais seriam essas
hipotéticas prioridades? Isso já é tema para um próximo artigo...
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