Todo mundo sabe que a
preservação do patrimônio arquitetônico não é o forte da Feira de Santana. É
claro que não temos, por aqui, as relíquias observáveis no Pelourinho ou nas
cidades históricas do Recôncavo. Mas, ainda assim, o município tinha belezas
que datavam do princípio do século XX, vistosos palacetes que aos poucos foram
sendo devorados pela sanha do mercado imobiliário e pela escassa consciência
cultural dos governantes e da população local. Ainda hoje várias relíquias
arquitetônicas vão ao chão para ceder lugar a estacionamentos, por exemplo.
As exceções que sobrevivem, portanto, tem que ser
valorizadas. Uma delas é a Capela de Nossa Senhora dos Remédios, que é
considerada o mais antigo templo religioso de Feira de Santana. Fica na Praça
dos Remédios, na esquina com a Rua Tertuliano Carneiro, que até anos passados
era um prolongamento da Rua Conselheiro Franco.
Registros apontam que, no passado, a vizinhança da igreja
era constituída por imponentes sobrados. Até há alguns anos ainda restavam
alguns destes imóveis, abandonados e em ruínas, à espera de ações de
preservação que nunca vieram. Quando ruíram, foram substituídos por novíssimas
construções, ajustadas à vocação comercial do entorno.
Assim, com o passar dos anos, estes antigos casarões cederam
lugar à estrutura moderna e funcional das lojas de artigos variados. É que, com
a expansão do centro da cidade, a Praça dos Remédios acabou absorvida pelo
coração comercial da Feira de Santana. Ainda mais recentemente, edifícios
vistosos ergueram-se em volta, limitando a visualização da igreja. Por fim, o
vaivém de pedestres tornou-se incessante.
A história do templo começou entre 1700 e 1705. A data
precisa é incerta. Depois de surgir como capela, foi sendo ampliada em
sucessivas reformas e, atualmente, estima-se sua área construída em 625 metros
quadrados. O estilo arquitetônico é do século XVIII e o imóvel pertence à
Arquidiocese de Feira de Santana.
Reformas
No século passado, a igreja passou por pelo menos três
reformas ou intervenções significativas. A primeira foi entre 1930 e 1934 e,
deste período, datam o altar-mor, o púlpito, a platibanda e a sacada em
alvenaria. Esta pode ser considerada a maior intervenção sofrida pelo templo
desde aquela época.
Entre 1988 e 1989 houve uma nova intervenção. As obras se
limitaram à aplicação de novo revestimento nas paredes, à restauração do
púlpito e reparos na rede elétrica interna, no piso e pintura. A última
intervenção se deu entre 1997 e 1998, por iniciativa da Fundação Senhor dos
Passos. Nela, o imóvel foi restaurado, inclusive o mobiliário e a imaginária.
O templo serviu de inspiração para outras edificações. É que
semelhanças são encontradas em mais dois templos católicos existentes em Feira
de Santana: as janelas superiores assemelham-se às existentes na igreja de São
José, no distrito Maria Quitéria, e a torre em formato piramidal é parecida com
a da Catedral de Santana e, também, com a Capela de Nossa Senhora da Conceição,
no vizinho município de Irará.
O que o templo possui de mais valioso, no entanto, é a
torre, considerada de grandes proporções para os padrões habituais. Revestida –
embrechada – de louça proveniente do Macau, uma antiga possessão portuguesa na
Ásia longínqua. São constantes as reportagens sobre essa torre.
Quem passa distraído ali pelas imediações, sob o costumeiro
tórrido calor das manhãs ou tardes ensolaradas, nem sempre presta atenção à
igreja e à sua torre. É uma pena. Reluzindo à luz implacável do sol setentrional,
a louça de Macau constitui uma rica amostra do Oriente bem aqui, na ocidental
Terra de Lucas.
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