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O transporte atual na Região Metropolitana




É redundante falar sobre a importância dos transportes para a Feira de Santana. Afinal, foi o contínuo ir-e-vir dos sertanejos, desejos de comprar e vender na feira nova que ia se expandido, lá nos primeiros anos do século XIX, que impulsionou o crescimento do modesto arraial que, quase dois séculos depois, até já alcançou o status de Região Metropolitana. Sem o comércio do gado que abastecia de carne o Recôncavo e a capital baiana e sem a infinidade de gêneros e até produtos importados que se ofereciam à freguesia, a Feira de Santana permaneceria uma vila pacata pelo menos até o século XX.
Mesmo com esse constante ir-e-vir, a infraestrutura de transportes disponível à época era muito ruim. Limitava-se aos caminhos do gado no século XIX e a uma ou outra estrada que um capitalista visionário rasgava, com recursos próprios. Ir a Salvador e voltar, então, era aventura que exigia a disponibilidade de pelo menos três dias.
 A relevância que a Feira de Santana foi assumindo no comércio não sensibilizava as autoridades estaduais: as prometidas ferrovias jamais saíram do papel e a única estrada de ferro construída tinha importância secundária, somente ligando a cidade à vizinha Cachoeira. Só no começo do século XX, com as rodovias, é que veio o impulso logístico que alavancou o desenvolvimento do município.
Nesse início de século XXI, a grande notícia, até agora, foi a duplicação do trecho da BR 116 até o Rio Paraguaçu. No aspecto urbano, a duplicação do Anel de Contorno, na região Sul da cidade, é outra notícia alvissareira. Essas intervenções vão contribuir para facilitar o deslocamento de quem vai ou vem de municípios próximos, sobretudo Antônio Cardoso, Santo Estêvão e Rafael Jambeiro, para mencionar apenas três deles.

Ordenamento

Os investimentos em infraestrutura viária são relevantes, é óbvio, mas há outros aspectos que merecem atenção. Sobretudo na Feira de Santana, destino final de milhares de passageiros de dezenas de municípios, todos os dias. Intervenções planejadas melhorariam a situação dos visitantes e, também, dos próprios feirenses que circulam pela cidade.
Um passo inicial, desejável, é o mapeamento dos roteiros e dos destinos das centenas de peruas e veículos assemelhados que trazem passageiros para a cidade. Por tradição, sabe-se que quem segue para Serrinha e a região do sisal costuma embarcar ali na avenida José Falcão; a condução para Ipirá fica na praça Froes da Mota desde a inauguração do transporte motorizado entre as duas cidades; e quem tem Santo Estêvão como destino parte da Praça da Catedral, a antiga Matriz.
Nesse vaivém, também figuram os distritos feirenses e outros tantos povoados que se espalham num raio de dezenas de quilômetros. No centro da cidade, no entanto, os pontos não são estáticos: os visitantes, habitualmente, determinam aonde desejam descer e o caos, já alimentado pelo excesso de veículos nas ruas, se aprofunda.

Infraestrutura
          
          Um pouco de ordem no caótico transporte intermunicipal produziria uma série de ganhos para todos os interessados. Uma medida necessária, mas jamais adotada, seria a construção de abrigos para os viajantes. Expostos ao sol e à chuva, sem sanitários disponíveis ou qualquer comodidade, os visitantes penam à espera da condução, cujos horários são sempre incertos.
                Mais urgente e mais complexa, no entanto, é a própria regulamentação desse transporte: peruas e assemelhados, legalizados ou não, carros de passeios, micro-ônibus e até utilitários arrebatam passageiros aperreados, sobretudo à tarde. Os riscos a que estão expostos são facilmente imagináveis e dispensam comentários.
                A definição de roteiros e preços tabelados são duas outras medidas fundamentais para melhorar o sistema. Mas como o tema é vasto e o espaço exíguo, preferimos não mergulhar na discussão, que necessita ser aprofundada, inclusive no âmbito da nova Região Metropolitana que, por enquanto, só existe no texto frio da lei. Afinal, o desenvolvimento da Feira de Santana sempre esteve intrinsecamente ligado às articulações com o seu entorno...   

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