Desde meados
do ano passado que a crise econômica ganhou lugar cativo no noticiário. Só
perde para a incessante torrente de reportagens sobre a operação Lava Jato e a
roubalheira na Petrobras. O cenário que se desenha no curto prazo não é nada
animador: além da recessão – com todas as suas implicações sobre o aumento do
desemprego e a queda no ritmo de investimentos – existe a inflação, que vai
ganhando musculatura ao ritmo da elevação das tarifas públicas. Combinação tão
perversa costuma, inclusive, ser rara na economia.
A
crise econômica, porém, não veio sozinha: soma-se à crise política que desarranjou
a base governista no Congresso Nacional que, por sua vez, foi alvejado com os
resultados da operação Lava Jato. A turbulência e a incerteza políticas
contribuem para tornar ainda mais nebuloso o cenário econômico no curto prazo.
Pior cenário, impossível.
A
conjunção de desarranjos vem dificultando, até mesmo, qualquer estimativa sobre
quanto a economia brasileira vai encolher e durante quanto tempo. Por enquanto,
a única aposta consensual é que 2015 vai ser ano perdido – com PIB negativo –
mas ninguém arrisca um prognóstico. Justamente porque está difícil dimensionar
a própria extensão do quiproquó político e seus efeitos sobre a atividade
econômica.
O
certo é que o ciclo de prosperidade da última década expirou: a expectativa é
que os brasileiros, a partir daqui e sabe Deus até quando, terão menos renda e
menos oportunidades de trabalho. A presidente Dilma Rousseff e seu staff, porém, asseguram que a situação é
passageira e que, ainda neste 2015, os primeiros sinais de recuperação serão
visíveis. Pouca gente comprou essa pule, até aqui.
O
fato é que a crise chegou firme, inclusive à Feira de Santana. Ano passado –
depois de um prolongado intervalo de saldos positivos – houve retração no
mercado formal de trabalho no município. Boa parte das perdas se deveu à
construção civil, aonde centenas de postos de trabalho foram extintos. O tímido
crescimento dos demais setores não atenuou essas perdas. A expectativa é que
essa retração prossiga nos próximos meses.
Dólar
Outro
segmento que já enfrenta as primeiras dificuldades é o comércio informal, cujos
produtos costumam ser importados da China. Com a elevação do dólar – nos
últimos dias a moeda americana oscila acima dos R$ 3,20 – esses produtos ficam
mais caros, afastando parte da clientela. No Feiraguai, conforme se especula,
as vendas já caíram cerca de 30%.
Há,
também, dificuldades do lado da demanda: quem frequenta os centros de comércio
popular é aquela parcela da população pertencente à outrora badalada Classe C.
Com desemprego crescente e menos dinheiro circulando, esse segmento fica mais
arisco, avesso a gastos que não sejam indispensáveis. Na Feira de Santana, boa
parte da população encaixa-se nessa faixa de renda.
As
dificuldades econômicas que se anunciam não devem produzir efeitos apenas sobre
o mercado informal. Segmentos que experimentaram vendas expressivas no boom que se prolongou por vários anos
também serão afetados, como os eletroeletrônicos, a exemplo de celulares e toda
a parafernália digital. Esse setor, a propósito, também cresceu com a Classe C.
O
boom imobiliário, por sua vez,
conforme atesta a retração no volume de lançamentos e a dispensa de
trabalhadores, também caminha para o final. O mercado de imóveis mais
sofisticados encontra-se saturado e os empreendimentos voltados para a
população mais pobre esbarra nas próprias dificuldades fiscais do governo
federal.
Em
suma, a crise terminará afetando todo mundo, com variáveis graus de
intensidade. Quando o cenário político tornar-se mais claro – o que, espera-se,
ocorra em breve – será possível retomar prognósticos, tentar enxergar através
da névoa que dilui as certezas, sondar o médio prazo. Por enquanto, em função
da perversa conjunção de crises, é impossível exercitar a futurologia.
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