O ano de 2015
em Feira de Santana começa com tensa expectativa em relação ao sistema de
transporte público. Razões não faltam:
além da arrastada novela que envolve a implantação do chamado BRT – sigla em
inglês para Bus Rapid Transit – a
crise ganhou contornos ainda mais dramáticos com a justa greve decretada, às
vésperas de Natal, pelos rodoviários feirenses, insatisfeitos com o atraso no
pagamento do salário mensal e do décimo terceiro salário, além do recolhimento
do FGTS.
Naqueles dois
dias de movimento frenético no comércio feirense, o trânsito se tornou ainda
mais caótico que o habitual. Incontáveis engarrafamentos sucederam-se não
apenas nas vias tradicionalmente de maior circulação, mas também nas cercanias
do centro da cidade. O frenesi não estava relacionado apenas às compras
natalinas, mas também à ansiedade de encontrar alternativas de voltar pra casa.
A
multiplicidade de automóveis particulares, motocicletas, vans do sistema
complementar, veículos de transporte escolar e ônibus que fazem linhas para
áreas rurais, arrebatando passageiros ansiosos nos pontos, ou em qualquer
esquina, deu bem o tom da crise em curso no transporte público da Feira de
Santana.
Quem
mais sofreu, evidentemente, foi o feirense morador dos bairros mais afastados,
habitualmente já castigado pelo transporte deficiente em dias normais. Para
esse, em 2014, até a trégua natalina foi negada. E enquanto a população penava
pelas ruas, sob o calor escaldante nos pontos sem cobertura, nas emissoras de
rádio reverberavam os discursos, sempre fluidos, com patéticos apelos pela
conciliação.
Licitação
Ao
contrário do que alegam as empresas que operam no setor, os problemas não são
sanáveis com um mero reajuste no valor da tarifa, conforme pleiteiam. A crise é
muito mais profunda, mais estrutural. Mas o alento é que, justamente em 2015, a
prefeitura terá a oportunidade de corrigir os problemas do contrato em vigor. É
que, coincidentemente, a crise eclodiu às vésperas da nova licitação para o
transporte coletivo no município.
Alardeia-se
a existência na Feira de Santana de um Sistema Integrado de Transporte, o
chamado SIT. Na prática, a realidade é outra: intermináveis esperas, tarifas
elevadas, trajetos irracionais, veículos velhos e mal conservados dão a tônica,
há pelo menos uma década, no transporte coletivo.
A
licitação, caso seja bem desenhada, permitirá à prefeitura atenuar os inúmeros problemas
listados acima. Com isso, ganharão os feirenses que perdem preciosa parte do
seu dia em infindáveis esperas ou em deslocamentos pela cidade. É uma ambição
modesta, mas falar em efetiva modernização do sistema, dado o caos atual, é até
utopia.
E o BRT?
O
grande trunfo da prefeitura para melhorar o transporte público no município,
pelo visto, é a implantação do BRT. Alega-se que, com ele, os serviços
melhorarão muito. As audiências públicas realizadas mostraram que a promessa
deve ser encarada com cautela, conforme já apontamos. Afinal, o sistema
limita-se a dois corredores de ônibus, um deles na avenida Getúlio Vargas,
objeto de significativas contestações.
No ar, após as
audiências exigidas pelo Ministério Público, ficou uma indagação: como ficará o
transporte no restante da cidade? Sequer o Tomba, numa das regiões mais
populosas da cidade, foi incluído no projeto. Pode-se afirmar, assim, que a
modernização prometida pelo BRT vai beneficiar uma parcela minoritária dos
usuários.
O fato é que,
dada a crise atual, a discussão sobre o BRT é até secundária, apesar dos R$ 97
milhões previstos para a implantação. A resolução da crise exigirá, como passo
inicial, a realização de uma licitação transparente, precedida por uma consulta
à população feirense que pena, todos os dias, sacolejando em velhos veículos
empoeirados...
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