O espetáculo começa
depois das 16 horas, quando o sol, ainda no alto, vai declinando lentamente. É
quando as cores do céu vão se transformando: ali por onde o astro dourado
mergulha, ao sul da Ilha de Itaparica, a amplidão ganha uma coloração
avermelhada que, aos poucos, se esbraseia, assumindo uma tonalidade de cobre
fervente. No lado oposto, sobre os sons urbanos da Cidade Alta, os raios
solares que minguam tornam o céu azul esverdeado, alegre, festivo como as férias
que se anunciam.
Mas
essa beleza fugidia apenas secunda o verdadeiro espetáculo que, a essas
alturas, se aprofunda no poente: o sol, incandescente globo de cobre, lança uma
trilha luminosa, fugaz, sobre as águas indóceis da Baía de Todos os Santos, emprestando
tons avermelhados aos banhistas renitentes e aos mergulhadores do Forte de
Santo Antônio.
Lá
no Farol da Barra aglomeram-se dezenas de expectadores, baianos e turistas,
eletrizados com o espetáculo ímpar que, graciosamente, se renova na tarde seguinte.
Os comentários extasiados dos turistas se sobrepõem à trilha sonora do mar que
espumeja, incansável, nas milenares rochas esverdeadas da entrada da baía.
Por
fim, o espetáculo grandioso finda: o sol mergulha no horizonte, aonde o
expectador ainda distingue os contornos esverdeados de Itaparica. Mais além da
ilha, no Recôncavo longínquo, o continente torna-se uma condensação azulada
indistinguível. É nesse instante que o jato sanguíneo irradiado pelo poente
espalha-se pelo céu, estendendo-se das águas ao sul do Atlântico ao norte
próximo, no fundo das correntes mansas da Baía de Todos os Santos.
Generosa,
a natureza ainda reserva o derradeiro espetáculo: no intervalo em que o dia
perde forças, exangue, com o pôr-do-sol, e a noite álacre de verão ainda não se
espraiou, o mar assume uma magistral fosforescência azul-esverdeada, como se
pretendesse iluminar com sua milagrosa luz efêmera a baía silenciosa que acolhe
a escuridão inevitável.
Poucos
lugares no mundo oferecem, de graça e ao longo de um prolongado verão, o entardecer
que diariamente se renova na Baía de Todos os Santos, entre meados de outubro e
os primeiros dias de março. Daí deriva o empolgado interesse de milhares de
turistas que por aqui aportam, sequiosos pelo espetáculo inesquecível.
As
sofisticadas câmeras digitais, as máquinas fotográficas de última geração, todas
as palavras que a parafernália de aparelhos eletrônicos dissemina e, mesmo as
mais seletas interjeições de admiração, são pálidas tentativas de traduzir o
espetáculo radiante que, dia a dia, encena-se sobre o casario antigo de
Salvador e sobre as águas mansas da Baía.
Traduzi-lo
é tarefa hercúlea, desafio para os mais tarimbados artífices da palavra. No
entanto, por mais que o escrevinhador demonstre empenho diligente e talento
robusto, o desafio mostra-se, logo, insuperável: extraem-se, no máximo, pálidas
palavras, incapazes de refletir o espetáculo multicor que orna a Baía de Todos
os Santos.
Afinal,
é Verão na Bahia !!!
Comentários
Postar um comentário