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Natal e Ano-Novo



Um dos mais vivos contrastes da Feira de Santana nos dias que antecedem o Natal está nas vitrines do comércio: de um lado a decoração natalina, com Papai Noel, trenós, luzes e densas camadas de uma neve artificial normalmente produzida com generosos tufos de algodão; do outro lado o calor abrasador do verão que se inicia, quase sempre implacável com os consumidores apressados. Ás vezes há um céu azul irretocável, embora predominem as nuvens, imensas e encardidas, mas que pouco colaboram para atenuar a temperatura elevada.

Os contrastes, todavia, vão além da dimensão climática. Papai Noel e sua neve evocam o Natal gelado do Hemisfério Norte, onde o inverno torna as noites intermináveis e luminosidade ao longo do dia uma dádiva. Lá a noite de Natal é fria e a celebração do nascimento de Jesus Cristo nem sempre remove a gelidez dos sorrisos. A neve, que também causa transtornos, torna ainda mais longos os silêncios da madrugada.

Na Bahia de tantos mistérios o povo conseguiu transformar Papai Noel num adereço irreverente que, apesar da barba sisuda e do ar circunspecto, encaixa-se bem nas celebrações que combinam risos fartos, mesas generosas, afinidades familiares e ruidosas demonstrações de alegria.

Os festejos natalinos coincidem com as férias escolares, com os habituais recessos de final de ano e coroam as intermináveis jornadas de confraternizações que marcam o multicolorido e radiante mês de dezembro. Diferente do Ano-Novo, o Natal é mais reflexivo, incita mais a pensar sobre o ano que passou e a renovar os planos para os próximos 12 meses.


Janeiro


Engraçado é que a luminosidade das pequenas lâmpadas e a efusão dos convivas cessa em janeiro, quando a Feira de Santana se esvazia porque um número indeterminado de feirenses migra para as praias em busca do interminável barulho das ondas. Então um silêncio incomum domina a cidade, mesmo nas manhãs de segunda-feira ou nas agitadas noites de sábado.

Em janeiro é que a Feira de Santana resgata um pouco daquele clima interiorano perdido no passado, sem os ruídos comuns às grandes cidades. Há menos pessoas nas ruas, o comércio é menos intenso e há poucos pedestres apressados porque não se fecham tantos negócios com parte da população em férias.

Janeiro costuma ser um mês quente, sem as habituais trovoadas que desabam no início de dezembro, que tornam o ar mais fresco e levantam um saudoso cheiro de terra molhada. Em compensação o céu se abre num azul infinito, de beleza indescritível. Nuvens finas, suaves e brancas no horizonte longínquo sinalizam que o verão está se aproximando de sua plenitude.


É Natal


Mas, embora janeiro esteja logo ali, na curva da próxima semana, por enquanto o que há é o colorido do Natal, o esfuziante consumismo do Natal e as expectativas que se renovam para o Ano-Novo. Por essa razão as pessoas são mais felizes, ao menos ao longo dessa semana. As crianças sorriem com seus brinquedos novos e há quem se reaproxime das religiões.

Essa é semana dos paladares e odores típicos: do peru corado e perfumado, dos panetones com suas frutas cristalizadas, das bebidas doces que embriagam devagar. É também a semana das reconciliações e do perdão, porque os corações perdem a rigidez costumeira. Tudo isso é típico do Natal.

Típico do Natal são também os votos de prosperidade, de saúde e de paz. Sobretudo essa última que mobiliza discursos, provoca preces e orações e, eventualmente, conduz ao profundo silêncio interior. Todos precisam de paz, mas não apenas daquela paz física que equivale à não-violência. A paz ampla, profunda e misteriosa que rege o verdadeiro significado do Natal.

Feliz Natal, leitor!!!

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