É inegável que os grandes motores da economia feirense são o comércio, os serviços e a indústria, sendo que esta última se consolidou a partir dos anos 1960. A agricultura e a pecuária, que possuíram importância significativa até os anos 1950, foram decaindo e hoje representam pouco do Produto Interno Bruto (PIB) da Feira de Santana. Mesmo assim, o segmento rural contribui para o dinamismo da economia local e é responsável pela geração de emprego e renda para milhares de famílias feirenses.
A importância da agricultura, particularmente da agricultura familiar, infelizmente, não se reflete no orçamento da prefeitura ao longo dos anos. Utilizando como referência dados da própria gestão municipal e empregando um recorte histórico razoavelmente significativo – desde 2004 – percebe-se que os investimentos são irrisórios, beirando o ridículo.
Em 2004, o orçamento total da prefeitura – incluindo despesas com dívida pública e pessoal – era de R$ 217,4 milhões. Na agricultura foram investidos somente R$ 776,5 mil. Esse valor correspondia a ínfimos 0,003% do orçamento municipal.
Nos anos seguintes a coisa mudou pouco: R$ 949,9 mil em 2005, R$ 1,3 milhão em 2006 (quando representou 0,004% do orçamento total), R$ 1,4 milhão em 2007 e R$ 1,7 milhão em 2008. Nesses dois últimos anos, o investimento voltou a representar somente 0,003% do orçamento municipal.
Melhora
O desempenho foi um pouco melhor em 2009 (R$ 1,9 milhão ou 0,004%) e em 2010, até o mês de agosto (R$ 2,9 milhões ou 0,005%). Note-se, porém, que nesses dois anos o orçamento da prefeitura alcançou R$ 467 milhões e, em 2010, era estimado em R$ 498,2 milhões até agosto.
Quando se considera que 8,27% da população feirense reside na zona rural (ou 46 mil pessoas, conforme o Censo 2010) percebe-se como se aplica pouco dos recursos municipais no setor primário, principalmente porque a Feira de Santana fica no semi-árido, cujas dificuldades em conviver com as adversidades climáticas são maiores.
Há, porém, outros elementos de comparação. Desde 2004 a prefeitura gastou pelo menos R$ 22,1 milhões em comunicação social. Já os investimentos em agricultura no período não passam de R$ 11,9 milhões. No início do mês, a Câmara Municipal aprovou que o orçamento em comunicação pode alcançar R$ 12 milhões.
Futuro
O resultado geral do censo indica que, na Bahia, quase 28% da população reside na zona rural, o que sinaliza que a contínua migração verificada desde os anos 1940 tende a se estabilizar nos próximos anos. Se a tendência é essa, parece óbvio que chegou o momento dos governantes entenderem que são necessárias políticas públicas que favoreçam a vida da população do campo.
Essas ações estão principalmente nas esferas federal e estadual, já que são as principais fontes de recursos no país, mas o município também deve exercer um papel mais ativo. O exercício desse papel, no entanto, não se esgota com a mera existência de uma secretaria ou com a alocação protocolar de recursos, como ocorre atualmente.
O desenvolvimento pressupõe equilíbrio e a sustentabilidade das diversas atividades econômicas em um determinado espaço. A Feira de Santana forte e frenética pelo seu comércio, pela prestação de serviços e pela indústria que experimenta uma retomada crescente também precisa de uma agricultura que absorva parte da mão-de-obra, que ofereça perspectivas para quem vive da atividade. Para isso, é indispensável o engajamento do poder público municipal.
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