Pular para o conteúdo principal

Há alguma verdade na cantilena pós-eleitoral



Passaram as eleições, mas a cantilena de que “a Bahia está perdendo espaço para Pernambuco e Ceará” continua. Quem cacareja são os políticos desempregados que perderam as eleições em outubro e que – à falta de coisa melhor para fazer – permanecem em campanha. Talvez já estejam antecipando 2014. Ou 2012, já que os cofres das prefeituras são menos polpudos, mas já ajudam quem sempre permaneceu no poder e agora sofre com a desidratação eleitoral.

Concordo que Pernambuco e Ceará estão assumindo maior protagonismo na economia nordestina. Se todos estiverem crescendo, a notícia não é ruim: afinal, a perda de uma posição relativa não significa necessariamente que a situação absoluta está ficando pior. Se fosse assim, o emprego não estaria em expansão na Bahia e a pobreza não estaria em queda, como se verifica.

Todavia, ninguém toca num aspecto essencial: Pernambuco e Ceará crescem porque, ao longo dos anos, prepararam-se para esse crescimento. Na pior das hipóteses mexeram-se, correram atrás de investimentos, o que na Bahia não se via. Afora a pirotecnia do coronel se incensando ou sendo incensado pelos seus aliados de consórcio eleitoral, o que havia era muita propaganda.

Pegue-se a situação dos portos: Zé Serra esteve em Salvador na campanha dizendo que o porto da capital baiana é um dos piores do Brasil. E está certo: só esqueceu de incluir no balaio da inércia seu aliado Fernando Henrique Cardoso, que foi presidente da República por oito anos e praticamente nada fez pela Bahia.

 
Investimentos


Dois dos mais modernos portos do Brasil estão em São Gonçalo do Amarante (CE) e em Cabo de Santo Agostinho (PE). São os portos de Pecém e Suape. Ambos receberam investimentos na gestão Fernando Henrique Cardoso, que à época contava com aliados nos governos estaduais, a exemplo de Tasso Jereissati, no Ceará, atualmente se despedindo do Senado.

Naquela época o finado PFL da Bahia apoiava entusiasticamente o governo FHC. A briga para fazer ministros, no entanto, sobrepunha-se aos interesses do estado, já que a dinastia parecia ter vida eterna. O povo, anestesiado pela megalomania do “homem que amava a Bahia”, endossava a permanência do esquema a cada eleição.

O tempo mostrou que enquanto uns faziam propaganda, outros trabalhavam. Pernambuco e Ceará mexeram-se pela modernização dos seus portos, aliaram-se para captar ramais da ferrovia Transnordestina e, na Bahia, apenas praguejava-se contra os presidentes de plantão, incompetentes por não serem baianos da boa cepa coronelista.

 
Resultados

Com investimentos em infra-estrutura é claro que os dois estados nordestinos tornaram-se mais atrativos que a Bahia. E por isso levam empreendimentos que são guiados pela lógica do lucro e não pela politicagem que regula muitas relações no Estado. Resta aos baianos, agora, recuperar o tempo perdido em propaganda.

Fala-se no início das obras da ferrovia Oeste-Leste e do Porto Sul, em Ilhéus. São iniciativas que podem amenizar a dramática carência da Bahia no setor. Anuncia-se também o início da construção do ramal ferroviário entre Camaçari e o Porto de Aratu. São investimentos que, no entanto, exigem algum tempo de maturação.

Enquanto isso a Feira de Santana – sem um falso trocadilho – fica “a ver navios”. Por aqui só chegaram, por enquanto, os pedágios nas BRs 324 e 116. Isso vem desde o Governo FHC, passou pelos oito anos de Lula e, parece, vai continuar na gestão Dilma Rousseff, pelos próximos quatro anos.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O Parlamento não digere a democracia virtual

A tentativa do Congresso Nacional de cercear a liberdade de opinião através da Internet é ao mesmo tempo preocupante e alvissareira. Preocupante por motivos óbvios: trata-se de mais uma ingerência – ou tentativa – da classe política de cercear a liberdade de opinião que a Constituição de 1988 prevê e que, até recentemente, era exercida apenas pelos poucos “privilegiados” que tinham acesso aos meios de comunicação convencionais, como jornais impressos, emissoras de rádio e televisão. Por outro lado, é alvissareira por dois motivos: primeiro porque o acesso e o uso da Internet como meio de comunicação no Brasil vem se difundindo, alcançando dezenas de milhões de brasileiros que integram o universo de “incluídos digitais”. Segundo, porque a expansão já causa imensa preocupação na Câmara e no Senado, onde se tenta forjar amarras inúteis no longo prazo. Semana passada a ingerência e a incompreensão do que representa o fenômeno da Internet eram visíveis através das imagens da TV Senado:

Cultura e História no Mercado de Arte Popular

                                Um dos espaços mais relevantes da história da Feira de Santana é o chamado Mercado de Arte Popular , o MAP. Às vésperas de completar 100 anos – foi inaugurado formalmente em 27 de março de 1915 – o entreposto foi se tornando uma necessidade ainda no século XIX, mas só começou a sair do papel de fato em 1906, quando a Câmara Municipal aprovou o empréstimo de 100 contos de réis que deveria custear sua construção.   Atualmente, o MAP passa por mais uma reforma que, conforme previsão da prefeitura, deverá ser concluída nos próximos meses.                 Antes mesmo da proclamação da República, em 1889, já se discutia na Feira de Santana a necessidade de construção de um entreposto comercial que pudesse abrigar a afamada feira-livre que mobilizava comerciantes e consumidores da região. Isso na época em que não existia a figura do chefe do Executivo, quando as questões administrativas eram resolvidas e encaminhadas pela Câmara Municipal.           

“Um dia de domingo” na tarde de sábado

  Foi num final de tarde de sábado. Aquela escuridão azulada, típica do entardecer, já se irradiava pelo céu de nuvens acinzentadas. No Cruzeiro, as primeiras sombras envolviam as árvores esguias, o casario acanhado, os pedestres vivazes, os automóveis que avançavam pelas cercanias. No bar antigo – era escuro, piso áspero, paredes descoradas, mesas e cadeiras plásticas – a clientela espalhava-se pelas mesas, litrinhos e litrões esvaziando-se com regularidade. Foi quando o aparelho de som lançou a canção inesperada: “ ... Eu preciso te falar, Te encontrar de qualquer jeito Pra sentar e conversar, Depois andar de encontro ao vento”. Na mesa da calçada, um sujeito de camiseta regata e bermuda de surfista suspendeu a ruidosa conversa, esticou as pernas, sacudiu os pés enfiados numa sandália de dedo. Os olhos percorriam as árvores, a torre da igreja do outro lado da praça, os táxis estacionados. No que pensava? Difícil descobrir. Mas contraiu o rosto numa careta breve, uma express