Nos últimos dias venho acompanhando com atenção o noticiário sobre prováveis intervenções da prefeitura no Centro de Abastecimento (CAF). A notícia mais alvissareira é que o prefeito Tarcízio Pimenta pretende apresentar um projeto em Brasília com o objetivo de captar R$ 10 milhões em recursos para investir na reforma do entreposto. Outra boa notícia é que, finalmente, surgem autoridades no município reconhecendo que o espaço apresenta inúmeros problemas que precisam ser resolvidos.
Lixo acumulado, esgoto correndo a céu aberto, equipamentos depredados, além da insegurança para comerciantes e consumidores são alguns dos problemas constatáveis numa rápida visita ao local. Note-se, todavia, que esse cenário não é produto de uma degradação recente, mas se acumula há muitos anos. Sem exagero, pode-se afirmar que praticamente desde a inauguração do CAF. Afinal, nunca houve nenhuma intervenção significativa desde então.
É dispensável a observação de que o espaço também está saturado e exige ampliação. O atacado e o varejo misturam-se pelas artérias, causando desconforto para os consumidores e aporrinhações para comerciantes, trabalhadores, clientes e frequentadores.
O Centro de Abastecimento, no entanto, não é apenas um entreposto comercial que exige intervenções em infra-estrutura. Herdeiro histórico da antiga feira-livre, é um espaço que abriga múltiplas dimensões da Feira de Santana e melhorias e intervenções devem ser pensados sob essa perspectiva.
Capital humano
A forma mais óbvia de fazer uma intervenção múltipla no entreposto é focar os seres humanos, sobretudo trabalhadores e pequenos comerciantes. Com certeza nunca se efetuou nenhum levantamento sobre o perfil de quem trabalha ali. Sem perfil, é impossível conceber treinamento e qualificação dos trabalhadores. Sem qualificação, logo o espaço volta a ser feio como é hoje.
Se as pessoas forem qualificadas, com certeza o CAF ficará mais limpo, as instalações permanecerão mais conservadas e o entreposto tende a se tornar um lugar mais agradável de ser freqüentado. Mais freqüentado, com certeza haverá mais consumo e mais impostos serão recolhidos pela prefeitura.
Aliás, a qualificação dos trabalhadores das feiras-livres feirenses deveria ser objeto de atenção permanente dos governantes. Nunca se falou em cursos que orientem sobre o manuseio de alimentos, sobre o descarte e acomodação do lixo, sobre micro-finanças ou qualquer tema que se relacione à realidade desses trabalhadores.
Amplitude
É muito positiva a iniciativa da prefeitura de investir em infra-estrutura no Centro de Abastecimento. No entanto, é necessário superar a visão ultrapassada de que apenas investir em “obras” é o suficiente para assegurar a requalificação do entreposto. Nos países civilizados, nas cidades que se afirmam como alternativas turísticas ou como potências econômicas, os seres humanos ocupam papel central no processo.
São as pessoas, aliás, que tornam os ambientes atrativos. Não há ambiente atrativo sem serviços de qualidade, sujos, inseguros ou abandonados pelo poder público. Infelizmente a Feira de Santana ainda permanece na pré-história desse processo, com os governantes só lembrando do CAF nas tradicionais caminhadas para apertar a mão de eleitores desavisados em períodos de campanha.
O exemplo mais recente é a própria eleição de 2010. Não faltou candidato – até ao governo da Bahia – prometendo a redenção do entreposto. Passado o pleito, vencedores e derrotados esquecem o espaço, retomam aos seus afazeres e, na próxima eleição, retornam prometendo “grandes obras” para “melhorar a vida das pessoas”, como prescrevem os marqueteiros.
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