Pular para o conteúdo principal

Oportunidades que a Copa 2014 nos dá


A partir do próximo final de semana o Brasil passa à condição de “bola da vez” no futebol mundial, mesmo com a eliminação precoce na Copa do Mundo da África do Sul há apenas alguns dias. Afinal, além do desafio de mostrar um futebol menos chato e previsível que o apresentado na competição que se encerra, o país assumiu o encargo de sediar a Copa de 2014 com jogos em 12 cidades, conforme se noticiou amplamente. E, mesmo antes de iniciadas as obras, já surgem especulações de todo tipo e os mais precipitados já temem que a Inglaterra arrebate a Copa do Mundo.

Com base na experiência da África do Sul – país que também deve ter outras prioridades além da construção de estádios, como se viu – os brasileiros deveriam refletir em relação à competição que vão organizar. Afinal, por mais que se dissesse o contrário quando o país era apenas mais um candidato, muito dinheiro público deve ser empregado para organizar o evento.

O que alguns órgãos de imprensa noticiaram sobre a África do Sul é que fortunas foram empregadas na construção de suntuosas arenas esportivas em um país sem grande tradição futebolística e que correm o risco de se tornar “elefantes brancos” com o passar do tempo. Igual ao que ocorreu, no Brasil, com o complexo esportivo construído para o Pan-Americano de 2007.

Como o futebol é o esporte mais popular no Brasil o problema é menor, mas mesmo assim existe e ganha outra dimensão: inversões de dinheiro público para construir estádios vão resultar apenas em modernos equipamentos que estarão à disposição de clubes de futebol pessimamente administrados, cujos dirigentes não prestam contas a ninguém.

Estádios faraônicos

Dessa forma, ao invés de gastar o que o país não tem para construir estádios faraônicos apenas para extasiar os europeus por algumas semanas – muitos não devem ter coragem de vir ao Brasil, assim como ocorreu na África do Sul – seria ótimo utilizar o pretexto da competição para realizar intervenções que melhorem a vida nas cidades-sede.

Salvador, por exemplo, carece de obras urgentes para assegurar maior mobilidade urbana aos seus cidadãos. O metrô cuja obra não termina nunca e que já exige ampliação, a realização de estudos técnicos para viabilizar alternativas viárias, o reordenamento do trânsito e a construção de novas vias podem ocorrer de forma célere para a Copa de 2014, sepultando as desculpas de falta de recursos.

Por outro lado, a capital baiana pode se preparar para impulsionar o turismo caso a ampliação do antigo aeroporto 2 de Julho de fato ocorra. Uma nova intervenção no terminal – houve uma há cerca de 10 anos – pode tornar a capital turisticamente mais competitiva por muito tempo.

Capital Humano

A principal intervenção a ser realizada, todavia, deveria ser a qualificação dos trabalhadores baianos. Um grande incentivo seria massificar os cursos de idiomas estrangeiros – principalmente o espanhol e o inglês – e as capacitações no setor de serviços, particularmente no ramo de hotelaria.

Infelizmente, o turismo baiano quase que só tem como atrativo as belezas naturais, como as praias, as ilhas e a Chapada Diamantina. No mais, desprezamos a cultura, a musicalidade, as manifestações religiosas ou, em outras palavras, a “baianidade” que, evidentemente, só existe por aqui. A Copa do Mundo é uma excelente oportunidade de reafirmação do estado como alternativa turística que vá além das belezas naturais ou do patrimônio arquitetônico.

Enfim, embora sujeita a contestações, a Copa do Mundo se coloca como uma possibilidade de alavancar a Bahia como alternativa turística, dada a imensa visibilidade que a competição assegura. Planejando com qualidade é possível aproveitar melhor as oportunidades, rompendo com a arraigada tradição do improviso e do amadorismo na construção de políticas públicas.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O Parlamento não digere a democracia virtual

A tentativa do Congresso Nacional de cercear a liberdade de opinião através da Internet é ao mesmo tempo preocupante e alvissareira. Preocupante por motivos óbvios: trata-se de mais uma ingerência – ou tentativa – da classe política de cercear a liberdade de opinião que a Constituição de 1988 prevê e que, até recentemente, era exercida apenas pelos poucos “privilegiados” que tinham acesso aos meios de comunicação convencionais, como jornais impressos, emissoras de rádio e televisão. Por outro lado, é alvissareira por dois motivos: primeiro porque o acesso e o uso da Internet como meio de comunicação no Brasil vem se difundindo, alcançando dezenas de milhões de brasileiros que integram o universo de “incluídos digitais”. Segundo, porque a expansão já causa imensa preocupação na Câmara e no Senado, onde se tenta forjar amarras inúteis no longo prazo. Semana passada a ingerência e a incompreensão do que representa o fenômeno da Internet eram visíveis através das imagens da TV Senado:

Cultura e História no Mercado de Arte Popular

                                Um dos espaços mais relevantes da história da Feira de Santana é o chamado Mercado de Arte Popular , o MAP. Às vésperas de completar 100 anos – foi inaugurado formalmente em 27 de março de 1915 – o entreposto foi se tornando uma necessidade ainda no século XIX, mas só começou a sair do papel de fato em 1906, quando a Câmara Municipal aprovou o empréstimo de 100 contos de réis que deveria custear sua construção.   Atualmente, o MAP passa por mais uma reforma que, conforme previsão da prefeitura, deverá ser concluída nos próximos meses.                 Antes mesmo da proclamação da República, em 1889, já se discutia na Feira de Santana a necessidade de construção de um entreposto comercial que pudesse abrigar a afamada feira-livre que mobilizava comerciantes e consumidores da região. Isso na época em que não existia a figura do chefe do Executivo, quando as questões administrativas eram resolvidas e encaminhadas pela Câmara Municipal.           

“Um dia de domingo” na tarde de sábado

  Foi num final de tarde de sábado. Aquela escuridão azulada, típica do entardecer, já se irradiava pelo céu de nuvens acinzentadas. No Cruzeiro, as primeiras sombras envolviam as árvores esguias, o casario acanhado, os pedestres vivazes, os automóveis que avançavam pelas cercanias. No bar antigo – era escuro, piso áspero, paredes descoradas, mesas e cadeiras plásticas – a clientela espalhava-se pelas mesas, litrinhos e litrões esvaziando-se com regularidade. Foi quando o aparelho de som lançou a canção inesperada: “ ... Eu preciso te falar, Te encontrar de qualquer jeito Pra sentar e conversar, Depois andar de encontro ao vento”. Na mesa da calçada, um sujeito de camiseta regata e bermuda de surfista suspendeu a ruidosa conversa, esticou as pernas, sacudiu os pés enfiados numa sandália de dedo. Os olhos percorriam as árvores, a torre da igreja do outro lado da praça, os táxis estacionados. No que pensava? Difícil descobrir. Mas contraiu o rosto numa careta breve, uma express