Uma das agradáveis novidades nesse período eleitoral de 2010 no Brasil é, sem dúvida, a capilaridade e a velocidade com que circulam informações sobre os candidatos na Internet. Parece que o mundo virtual veio suprir uma terrível lacuna no cenário político brasileiro, quando os que se aboletavam no Estado podiam tudo, inclusive transformar os cofres públicos num mero apêndice de seu patrimônio pessoal. Ou falsear informações relevantes para o eleitor e – pior ainda – enfiar no bolso o que o contribuinte suou para conquistar e repassar ao Estado na forma de impostos.
Embora ainda muito abundantes, pelos menos certos excessos começam a ser contidos e a divulgação dos fatos causa, no mínimo, constrangimento. Com meia-dúzia de cliques pode se descobrir, por exemplo, que a turma do dinheiro nas meias já se rearticula em Brasília, tentando retomar o poder. Certamente para, no fim do ano, comprar panetones com as “sobras” do caixa dois.
É possível descobrir também que o candidato a vice de Zé Serra é, no mínimo, um excêntrico como parlamentar. Afinal, tentou erradicar a mendicância nas ruas do Rio de Janeiro – propôs uma lei proibindo a esmola e multa para o misericordioso cidadão que a descumprisse – e retomou a discussão da pena de morte para traficantes e estupradores. Se incluísse no balaio os políticos corruptos, certamente seria aclamado em praça pública.
Mas descoberta mesmo são as notícias sobre a declaração de patrimônio de certos candidatos ao Tribunal Regional Eleitoral. Subitamente, fazendas passam a valer R$ 1 mil – com esse valor não se compra sequer um barraco em beira de estrada – e alguns possuem dezenas de milhões de reais, mas moram em casas simples, com paredes sem revestimento. Deve ser por amor ao povo.
Ajuda
Se o que consta em determinadas declarações fosse verdade, subscrições seriam abertas pela população e grandes campanhas mobilizariam a cidadania para arrecadar trocados para pobres políticos em situação pré-falimentar. Afinal, esses homens se doam em nome do povo e apenas em nome deste exercem o poder, inclusive na hora do caixa dois para o “panetone dos desvalidos”, como ocorreu no Distrito Federal.
O fato é que, do mosaico de informações que se pode recolher no mundo digital – algumas delas, inclusive, não são verdadeiras – o eleitor pode formar uma opinião muito mais precisa acerca dos candidatos do que na época em que só existia a distribuição de camisetas, “santinhos” e a tradicional cara pedindo voto na televisão.
Com uma opinião mais abalizada é possível fazer escolhas mais adequadas e ir varrendo do cenário político, aos poucos, os coroneis e os filhos dos coroneis, os criminosos que anseiam pela guarida parlamentar, além dos picaretas, aproveitadores e outros escroques que vão começar a aparecer na televisão em agosto.
Cidadania
A Internet também ajuda a centrar o debate no que é mais relevante hoje. O que há de proposta concreta e factível? Qual o histórico de transparência e fortalecimento do controle social dos principais candidatos? Quem se compromete a mobilizar a sociedade para discutir os problemas da Bahia e do Brasil?
A vida pregressa – maracutaias, desvio de dinheiro público, malversação de recursos – é apenas um critério na complexa seleção eleitoral, embora seja absolutamente relevante. No entanto, existe uma agenda de desenvolvimento para o país em permanente discussão e é ela que deve constituir o principal foco do eleitor. O restante é acessório e cabe figurar mais no anedotário eleitoral que, propriamente, no centro do debate.
O certo é que, das muitas horas que o eleitor brasileiro dedica mensalmente à Internet, alguns minutos devem ser destinados à avaliação das propostas e das plataformas políticas. E, claro, a observar a integridade de quem se candidata declarando à Justiça Eleitoral que não passa de um pobre coitado...
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