Pular para o conteúdo principal

“Fulanismo” e idéias de ontem em ano de Copa...

No Brasil, ano de Copa do Mundo se confunde com as eleições mais importantes do País, quando são eleitos o presidente da República e os governadores dos Estados. As metáforas comparativas são, portanto, inevitáveis. E, em ano de naufrágio da Seleção Brasileira na competição mais importante do futebol mundial, uma comparação com o processo eleitoral que se aproxima torna-se previsível, pelo menos em 2010: a pouca renovação que se vê tanto no futebol quanto na política.

No futebol, nunca o Brasil ousou tão pouco: em 2014, somente dois jogadores da equipe que foi à África do Sul (Ramires e Robinho) terão menos de 30 anos. A grande maioria que terá o desafio de disputar uma Copa do Mundo no Brasil, portanto, será composta por estreantes. Assim, além de uma postura defensiva, Dunga “inovou” convocando gente medíocre que, no futebol, está próxima do fim da carreira.

Na política, o repertório eleitoral parece bastante similar, embora menos capaz de entusiasmar a população e é, evidentemente, muito menos organizado. Mas ainda assim estarrece como o velho tenta aparentar que é novo e – pior ainda – como rostos relativamente jovens conseguem preservar idéias tão antigas.

O primeiro – e preocupante – sintoma é de como não existem ideias novas. Todos prometem mudanças radicais, transformações vertiginosas, mas, no miúdo, o que existe é o mesmo que está aí ou um revival dos anos 1990, de triste memória para a maioria dos brasileiros. Fora disso o que há é devaneio, elucubrações teóricas ou o surrado caudilhismo que se conhece tanto no Brasil.

“Fulano Filho”

O segundo sintoma preocupante são os mesmos sobrenomes de ontem recauchutados nas caras mais jovens de hoje. É “fulano filho”, “beltrano neto” ou “sicrano bisneto”, com o mesmo cheiro nauseante de naftalina. Na maioria dos casos, o que se vê é o Brasil Colônia revisitado, com a antiga retórica megalômana e triunfalista, mas na prática com o mesmo desempenho broxante de sempre.

A primeira semana de campanha na Bahia, por exemplo, atesta de forma contundente o raciocínio. É óbvio que a segurança pública é um problema gravíssimo há muito tempo. Porém, noves fora a verborragia, até aqui não apareceu nenhuma – uma única sequer – proposta concreta para reduzir os homicídios no estado.

Um papagaio de pirata recita a fórmula surrada da “gestão”, um desvairado exige “polícia na rua” e o triste espetáculo vai se formando e definhando, à medida que avança a campanha eleitoral. Mas proposta de fato não apareceu nenhuma até o momento. A grande desculpa é que os adversários podem copiar...

Mais do mesmo...

O que esperar, então, para o horário eleitoral que se avizinha em agosto? Provavelmente mais do mesmo. Descobre-se agora que a grande tragédia da política brasileira é a falta de transparência. Poucos dizem o que fazem (ou o que fizeram) e, no mais, vive-se do peito estufado que destila uma retórica pestilenta, apostando-se sempre na memória curta do brasileiro.

Quem já foi alguma coisa na política que diga o que fez e quem é alguma coisa diga o que está fazendo. Se nada fizeram, que digam o que não fizeram e porque não fizeram. Quem entra no jogo agora deve explicar, em detalhes, como pretende fazer o que os outros não fizeram e porque se julga em condições de fazer o que não foi feito. Cartesianamente assim deveria funcionar a política.

Infelizmente vive-se sob a primazia do discurso vazio. “Fulano do partido X” ou “Beltrano do partido Y” prometem lutar pela “Saúde, Educação e Segurança Pública...” e cobram do eleitor a continuidade do trabalho ou a aposta na renovação. Muito semelhante ao que dizem os jogadores de futebol, quando afirmam (ou reafirmam) a importância dos três pontos conquistados ou que, por uma razão ou outra, não foi possível conquistar os três pontos, apesar do domínio de bola e das melhores oportunidades de gol...

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O Parlamento não digere a democracia virtual

A tentativa do Congresso Nacional de cercear a liberdade de opinião através da Internet é ao mesmo tempo preocupante e alvissareira. Preocupante por motivos óbvios: trata-se de mais uma ingerência – ou tentativa – da classe política de cercear a liberdade de opinião que a Constituição de 1988 prevê e que, até recentemente, era exercida apenas pelos poucos “privilegiados” que tinham acesso aos meios de comunicação convencionais, como jornais impressos, emissoras de rádio e televisão. Por outro lado, é alvissareira por dois motivos: primeiro porque o acesso e o uso da Internet como meio de comunicação no Brasil vem se difundindo, alcançando dezenas de milhões de brasileiros que integram o universo de “incluídos digitais”. Segundo, porque a expansão já causa imensa preocupação na Câmara e no Senado, onde se tenta forjar amarras inúteis no longo prazo. Semana passada a ingerência e a incompreensão do que representa o fenômeno da Internet eram visíveis através das imagens da TV Senado:

Cultura e História no Mercado de Arte Popular

                                Um dos espaços mais relevantes da história da Feira de Santana é o chamado Mercado de Arte Popular , o MAP. Às vésperas de completar 100 anos – foi inaugurado formalmente em 27 de março de 1915 – o entreposto foi se tornando uma necessidade ainda no século XIX, mas só começou a sair do papel de fato em 1906, quando a Câmara Municipal aprovou o empréstimo de 100 contos de réis que deveria custear sua construção.   Atualmente, o MAP passa por mais uma reforma que, conforme previsão da prefeitura, deverá ser concluída nos próximos meses.                 Antes mesmo da proclamação da República, em 1889, já se discutia na Feira de Santana a necessidade de construção de um entreposto comercial que pudesse abrigar a afamada feira-livre que mobilizava comerciantes e consumidores da região. Isso na época em que não existia a figura do chefe do Executivo, quando as questões administrativas eram resolvidas e encaminhadas pela Câmara Municipal.           

“Um dia de domingo” na tarde de sábado

  Foi num final de tarde de sábado. Aquela escuridão azulada, típica do entardecer, já se irradiava pelo céu de nuvens acinzentadas. No Cruzeiro, as primeiras sombras envolviam as árvores esguias, o casario acanhado, os pedestres vivazes, os automóveis que avançavam pelas cercanias. No bar antigo – era escuro, piso áspero, paredes descoradas, mesas e cadeiras plásticas – a clientela espalhava-se pelas mesas, litrinhos e litrões esvaziando-se com regularidade. Foi quando o aparelho de som lançou a canção inesperada: “ ... Eu preciso te falar, Te encontrar de qualquer jeito Pra sentar e conversar, Depois andar de encontro ao vento”. Na mesa da calçada, um sujeito de camiseta regata e bermuda de surfista suspendeu a ruidosa conversa, esticou as pernas, sacudiu os pés enfiados numa sandália de dedo. Os olhos percorriam as árvores, a torre da igreja do outro lado da praça, os táxis estacionados. No que pensava? Difícil descobrir. Mas contraiu o rosto numa careta breve, uma express