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O Mensalão do “Pefelão”

Os recursos disponíveis com o desenvolvimento tecnológico facilitaram em muito a vida das pessoas. É possível, por exemplo, fotografar-se ou fazer fotografias em momentos especiais da vida com relativa facilidade: já não é necessário recorrer ao fotógrafo de plantão. Imagens também se tornaram banais, inundando a Internet e registrando o cotidiano, o lúdico, o grotesco ou o deplorável que vão parar nos programas sensacionalistas da tevê. O desenvolvimento – tecnológico, econômico, social – é assim: mostra-se sempre em duas faces.

O “Mensalão do DEM” ou “Mensalão do Pefelão”, como preferem alguns, exibe ambas as dimensões: a novíssima tecnologia que flagra a antiquíssima corrupção; os modernos equipamentos multimídia que atestam o naufrágio de desgovernantes salafrários, corruptos e – sobretudo – cínicos ao extremo de tentar negar o que imagens atestam de maneira irrefutável.

A propósito, Zé Arruda, o governador candango, é marinheiro de longo curso no mar de lama da política brasileira: em 2001 participou da violação do painel do Senado quando foi cassado o ex-senador Luiz Estevão. Ele e o último dos coroneis da Bahia, que passaram semanas mentindo ao vivo através da TV Senado, patéticos protagonistas de uma tragicomédia que bem poderia se chamar “Vota que eu descubro”.

Por ironia, Zé Arruda passou de escutador a escutado, de bisbilhoteiro a bisbilhotado. Saiu-se alegando que o maço de dinheiro drenado para seus bolsos era para comprar singelos “panetones”.

Reação

Estrela solitária do antigo “Pefelão” que vai encolhendo eleição após eleição, Zé Arruda não conta com a solidariedade de seus pares: ameaçaram expulsá-lo e ele ameaçou abrir a boca. O resultado é o remendo de sempre dos políticos brasileiros: resolveram convidá-lo a se desfiliar.

No vice-governador e no presidente da Assembléia Distrital – o do dinheiro enfiado na meia – não se fala: o ético DEM fala em depuração, pero no mucho: perde os anéis, mas tenta preservar os dedos que avançaram no propinoduto da mesma forma. Quer se preservar no governo com um golpe de marketing, fingindo que Zé Arruda é o único implicado no imbróglio.

Em 2005 falou-se muito no “Mensalão do PT”. Esqueceram que o PSDB fora pioneiro na maracutaia. Agora surge, com força, o “Mensalão do Pefelão”, cujas lideranças em 2005 discorriam com tanta desenvoltura sobre ética e moralidade. Agora, agem e falam com a mesma tibieza de certos petistas à época.

Parece que muita lama ainda vai escorrer por Brasília nos próximos dias. Afinal, o que se desenha por aí é um tsunami de lodo...

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