Depois que o esgoto do “Mensalão” transbordou mais uma vez, já tem gente falando que é “impossível” fazer campanha eleitoral sem “Caixa 2”. Trocando em miúdos, isso significa admitir que a corrupção é endêmica no sistema eleitoral brasileiro e que a população deve se habituar a esses escândalos, já que nossos abnegados representantes políticos não conseguem tocar suas onerosas campanhas sem receber o dinheirinho que o empreiteiro repassa sem segundas intenções ou sem a despretensiosa doação de empresas que, adiante, vão prestar serviços à gestão do candidato vencedor.
Esse raciocínio teria sentido se tudo ficasse no plano da abstração teórica ou na especulação filosófica. Todavia, os efeitos da corrupção institucionalizada são reais e afligem, sobretudo, os brasileiros mais pobres e que precisam mais dos precários serviços prestados pelo poder público.
“Caixa 2” aparenta ser um investimento feito pelos empresários seduzidos pelos belos olhos dos candidatos, mas que não pretendem aparecer ou que pretendem tornar a campanha artificialmente “mais barata”. Se ficasse nisso, a lei eleitoral estaria sendo burlada, mas os efeitos sobre a sociedade não seriam tão danosos.
Acontece que alguém vence a eleição. E como ninguém aplica seu rico dinheirinho por desprendimento ou inclinação ideológica, a engrenagem do acordo tácito começa a girar: e nesse giro fétido surgem os contratos superfaturados, os 10% dos políticos – eles são insaciáveis – os produtos e serviços pagos, mas não entregues e a “boquinha” para o exército de cabos eleitorais, parentes e simpatizantes dos vencedores.
Todos perdem
O drama começa justamente aí: quem banca essa farra são os cofres públicos. Como “cofre público” também é uma abstração, no fundo quem financia a corrupção é o povo: o pobre da periferia que paga o imposto do feijão, o cidadão que compra material para construir sua casa e até a turma que se reúne no final de semana para a cervejada domingueira.
O dinheiro que sobra para a corrupção, por sua vez, falta para manter o posto médico funcionando, para conservar a escola, para construir esgotamento sanitário e também para a merenda escolar. Enfim, nessa lambança os mais prejudicados são justamente os mais pobres.
Por outro lado, a classe média emparedada tem que pagar plano de saúde, escola para o filho e comprar os carros que produzem intermináveis engarrafamentos, porque vive com medo da violência e do péssimo transporte público prestado na maioria dos municípios brasileiros. Nesse sistema, todos são esmagados como as máquinas que moem cana.
Zé Arruda
Em meio à podridão, porém, há os bem-aventurados. O próprio Zé Arruda do “Pefelão” de Brasília é um deles, assim como o vice-governador e o presidente da Assembleia, flagrado enfiando dinheiro na meia. Há também peixes miúdos, como a claque que foi em ônibus “defender” o governador e os próprios empregos e que quase protagonizou uma batalha campal em frente à Assembleia Legislativa.
Toda essa gente encaixa-se no singelo “Caixa 2”, eufemismo criado para camuflar a roubalheira que se dissemina nos períodos eleitorais. Conformado, o brasileiro segue aceitando neologismos, engolindo sapos barbudos ou carecas e ainda ouvindo a ladainha do “Pefelão” de que “pune” os corruptos do partido.
Caso se confirme a expulsão de Zé Arruda, o “Pefelão” guarda o trunfo de emplacar o vice no governo, promovendo sua sinuosa assepsia política: embora se divulgue que há indícios do envolvimento de Paulo Octávio, esse não pode ser responsabilizado simplesmente porque não foi filmado. E, de resto, o “Pefelão” segue com seu discurso de partido mais ético do Brasil, que aliás vem desde a ARENA da Ditadura Militar...
Comentários
Postar um comentário