Pular para o conteúdo principal

O ocaso do debate econômico

 

Até os mais fervorosos devotos das privatizações reconhecem: o anúncio – pomposo, solene, apoteótico – da privatização da Petrobras não passa mais uma mentira – há quem prefira a expressão “fake news”, do inglês – do desgoverno de Jair Bolsonaro, o “mito”. Acossado pela alta dos preços dos combustíveis e pela inflação que corroem sua popularidade, o “mito” reage, tenta mostrar serviço, insinuar que não está inerte. No fundo, o anúncio não passa de empulhação, engodo para posicioná-lo como vítima do “sistema”, já que ele, supostamente, é figura “antissistema”.

Nisso aí não há nenhuma novidade: é só mais uma mentira – entre tantas outras – que busca enganar a população, mantendo-o como candidato competitivo nas eleições de outubro. O que mais desperta a atenção nem é isso: é o tortuoso, tosco, pobre e fanatizado debate sobre a economia que se estabeleceu nos últimos anos e que se consolidou neste triste desgoverno da extrema-direita.

Complexos problemas macroeconômicos tornaram-se objeto de soluções simplórias, dignas de riso, de pena. Isso se não interditassem o debate, pois a ensandecida horda de hienas sai replicando-as, prejudicando a discussão fundamentada e consequente. Com esse expediente, o “mito” ganhou as eleições em 2018 e produziu a catástrofe econômica que, hoje, dispensa qualquer descrição, de tão evidente que é.

Alguém notará que não é só a ciência econômica que foi rebaixada à condição de misticismo grosseiro. A própria medicina foi alvejada – a enfática defesa da cloroquina está aí, para dissolver quaisquer dúvidas – e os professores, coitados, tornaram-se vítimas de fanáticos que arvoram-se a orientá-los, vomitando seus conceitos primitivos.

Mas é indiscutível que a ciência econômica figura entre as principais vítimas desses tempos de inteligência escassa. A receita da privatização – avassaladora, irreprimível, totalizante – constitui um dos principais motes. O outro é o tosco liberalismo que se dilui em fórmulas fáceis, superficiais, em mídias sociais, inapeláveis. Como método de convencimento, recorre-se à truculência, à estridência, à intimidação.

Não é à toa que o câmbio disparou muito além do justificável, que a inflação avança desassombrada, que a fome vai aumentando e as desigualdades – já abissais – vão se aprofundando. Além, claro, da persistente estagnação da economia. Afinal, a turma encastelada em Brasília não tem plano nem projeto para o País. Só para si mesma. E que vai de vento em popa, como é fácil constatar.

Tudo isso é sabido, discutido, repisado e – até mesmo – absorvido, diria alguém. É verdade. Mas a truculência e a ignorância não podem ser naturalizadas. Por uma razão simples, singela: caso se tornem a regra, o padrão, vão condenar as futuras gerações à pobreza, à indigência e – por que não reconhecer? - à permanente barbárie. Parece que os apopléticos defensores da família – e que tem filhos e netos – não discordam deste triste destino.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O Parlamento não digere a democracia virtual

A tentativa do Congresso Nacional de cercear a liberdade de opinião através da Internet é ao mesmo tempo preocupante e alvissareira. Preocupante por motivos óbvios: trata-se de mais uma ingerência – ou tentativa – da classe política de cercear a liberdade de opinião que a Constituição de 1988 prevê e que, até recentemente, era exercida apenas pelos poucos “privilegiados” que tinham acesso aos meios de comunicação convencionais, como jornais impressos, emissoras de rádio e televisão. Por outro lado, é alvissareira por dois motivos: primeiro porque o acesso e o uso da Internet como meio de comunicação no Brasil vem se difundindo, alcançando dezenas de milhões de brasileiros que integram o universo de “incluídos digitais”. Segundo, porque a expansão já causa imensa preocupação na Câmara e no Senado, onde se tenta forjar amarras inúteis no longo prazo. Semana passada a ingerência e a incompreensão do que representa o fenômeno da Internet eram visíveis através das imagens da TV Senado:

Cultura e História no Mercado de Arte Popular

                                Um dos espaços mais relevantes da história da Feira de Santana é o chamado Mercado de Arte Popular , o MAP. Às vésperas de completar 100 anos – foi inaugurado formalmente em 27 de março de 1915 – o entreposto foi se tornando uma necessidade ainda no século XIX, mas só começou a sair do papel de fato em 1906, quando a Câmara Municipal aprovou o empréstimo de 100 contos de réis que deveria custear sua construção.   Atualmente, o MAP passa por mais uma reforma que, conforme previsão da prefeitura, deverá ser concluída nos próximos meses.                 Antes mesmo da proclamação da República, em 1889, já se discutia na Feira de Santana a necessidade de construção de um entreposto comercial que pudesse abrigar a afamada feira-livre que mobilizava comerciantes e consumidores da região. Isso na época em que não existia a figura do chefe do Executivo, quando as questões administrativas eram resolvidas e encaminhadas pela Câmara Municipal.           

Patrimônio Cultural de Feira de Santana I

A Sede da Prefeitura Municipal A história do prédio da Prefeitura Municipal de Feira de Santana começou há 129 anos, em 1880. Naquela oportunidade, a Câmara Municipal adquiriu o imóvel para sediar o Executivo, que não dispunha de instalações adequadas. Hoje talvez cause estranheza a iniciativa partir do Legislativo, mas é que naqueles anos os vereadores acumulavam o papel reservado aos atuais prefeitos. Em 1906 o município crescia e o prédio de então já não atendia às necessidades do Executivo. Foi, então, adquirido um outro imóvel utilizado como anexo da prefeitura. Passaram-se 14 anos e veio a iniciativa de se construir um prédio único e que abrigasse com comodidade a administração municipal. Após a autorização da construção da nova sede em 1920, o intendente Bernardino Bahia lançou a pedra fundamental em 1921. O engenheiro Acciolly Ferreira da Silva assumiu a responsabilidade técnica. No início do século XX Feira de Santana experimentou uma robusta expansão urbana. Além do prédio da