Pular para o conteúdo principal

0,1% da população feirense morre de causas violentas todos os anos

 

O percentual assusta: todo ano, mais de 0,1% da população feirense morre por causas violentas. No jargão da medicina, trata-se de “causas externas de morbidade e mortalidade”. Envolve situações como acidentes, suicídios, agressões, homicídios, envenenamentos e as controversas intervenções legais – supostos tiroteios entre as polícias e os criminosos – que, vira e mexe, ganham espaço no noticiário com estardalhaço. A tendência se mantém desde, pelo menos, 2015, ano menos mortífero dos últimos tempos.

Em 2020, por exemplo, foram 702 óbitos, mais que os do ano anterior (674), mas menos que em 2018, quando foram notificadas 714 mortes. Nos anos anteriores, 2017 e 2016 registraram-se, respectivamente, 660 e 665 ocorrências. A quantidade de mortes violentas na Feira de Santana, a propósito, não é inferior a 500 desde o remoto ano de 2007. Naquela oportunidade, foram registradas 429 ocorrências.

A partir de 2008 os números foram crescendo de maneira sustentada, com raros intervalos de declínio, como se verificou em 2011, 2013, 2015 e 2017. As informações estão disponíveis no site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE, e foram atualizadas até 2020. Quem desejar, pode conferir os números, inclusive a estimativa populacional para o município, que crava 624 mil moradores.

Boa parte das mortes violentas, como se sabe, se deve aos homicídios, que começaram a crescer de maneira assustadora a partir da segunda metade dos anos 2000. A segurança pública, a propósito, costuma ser objeto de debates intensos nos períodos eleitorais. Apesar da retórica estridente, as soluções propostas são sempre as mesmas: mais polícia, mais armamento, mais viaturas e mais repressão, o que resultará em, invariavelmente, mais violência e mais mortes.

As vítimas de morte violenta são, predominantemente, masculinas. Nos últimos anos, por exemplo, os homens foram absoluta maioria na quantidade de vítimas: 616 (2020), 586 (2019), 605 (2018) e 567 (2017). Em relação às mulheres, os números para a mesma série histórica são 85 (2020), 88 (2019), 109 (2018) e 92 (2017). Embora morram dezenas de mulheres todos os anos de causas violentas, somente em 2018 houve mais de uma centena de óbitos.

Quase todos os anos desde 2006 morrem, pelo menos, 500 homens de causas violentas. Mais recentemente, só em 2015 o número foi inferior (494), mas, mesmo assim, por pouco. Esses números se refletem no total de óbitos registrados no município, pois todos os anos morrem centenas de homens a mais que mulheres.

Os números são assustadores mas, mesmo assim, muita gente acha que se mata pouco no Brasil, na Bahia e, obviamente, aqui na Feira de Santana. Há inimigos internos que exigem ações enérgicas, discursam os celerados, iracundos. Nas eleições presidenciais de outubro a extrema-direita seguirá abraçando a retórica do armamento, do extermínio. Os demais candidatos, emparedados, provavelmente vão tangenciar, desconversar, se calar.

Talvez, a partir do ano que vem, haja algum freio em determinadas dimensões da barbárie na qual o Brasil mergulhou. Mas, no que se refere à violência, é bom não alimentar otimismo. Essa, ao que tudo indica, vai seguir aí, como fantasma, acossando os lúcidos.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

O Parlamento não digere a democracia virtual

A tentativa do Congresso Nacional de cercear a liberdade de opinião através da Internet é ao mesmo tempo preocupante e alvissareira. Preocupante por motivos óbvios: trata-se de mais uma ingerência – ou tentativa – da classe política de cercear a liberdade de opinião que a Constituição de 1988 prevê e que, até recentemente, era exercida apenas pelos poucos “privilegiados” que tinham acesso aos meios de comunicação convencionais, como jornais impressos, emissoras de rádio e televisão. Por outro lado, é alvissareira por dois motivos: primeiro porque o acesso e o uso da Internet como meio de comunicação no Brasil vem se difundindo, alcançando dezenas de milhões de brasileiros que integram o universo de “incluídos digitais”. Segundo, porque a expansão já causa imensa preocupação na Câmara e no Senado, onde se tenta forjar amarras inúteis no longo prazo. Semana passada a ingerência e a incompreensão do que representa o fenômeno da Internet eram visíveis através das imagens da TV Senado:

Cultura e História no Mercado de Arte Popular

                                Um dos espaços mais relevantes da história da Feira de Santana é o chamado Mercado de Arte Popular , o MAP. Às vésperas de completar 100 anos – foi inaugurado formalmente em 27 de março de 1915 – o entreposto foi se tornando uma necessidade ainda no século XIX, mas só começou a sair do papel de fato em 1906, quando a Câmara Municipal aprovou o empréstimo de 100 contos de réis que deveria custear sua construção.   Atualmente, o MAP passa por mais uma reforma que, conforme previsão da prefeitura, deverá ser concluída nos próximos meses.                 Antes mesmo da proclamação da República, em 1889, já se discutia na Feira de Santana a necessidade de construção de um entreposto comercial que pudesse abrigar a afamada feira-livre que mobilizava comerciantes e consumidores da região. Isso na época em que não existia a figura do chefe do Executivo, quando as questões administrativas eram resolvidas e encaminhadas pela Câmara Municipal.           

Patrimônio Cultural de Feira de Santana I

A Sede da Prefeitura Municipal A história do prédio da Prefeitura Municipal de Feira de Santana começou há 129 anos, em 1880. Naquela oportunidade, a Câmara Municipal adquiriu o imóvel para sediar o Executivo, que não dispunha de instalações adequadas. Hoje talvez cause estranheza a iniciativa partir do Legislativo, mas é que naqueles anos os vereadores acumulavam o papel reservado aos atuais prefeitos. Em 1906 o município crescia e o prédio de então já não atendia às necessidades do Executivo. Foi, então, adquirido um outro imóvel utilizado como anexo da prefeitura. Passaram-se 14 anos e veio a iniciativa de se construir um prédio único e que abrigasse com comodidade a administração municipal. Após a autorização da construção da nova sede em 1920, o intendente Bernardino Bahia lançou a pedra fundamental em 1921. O engenheiro Acciolly Ferreira da Silva assumiu a responsabilidade técnica. No início do século XX Feira de Santana experimentou uma robusta expansão urbana. Além do prédio da