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E se a crise política for além de 2018?

Estamos a exatamente 19 meses das eleições presidenciais. Parecem distantes. E, realmente, estão. Só que a interminável crise política, que se arrasta desde meados de 2014, vem provocando, em muitos brasileiros, esta revoada em direção ao futuro. Imaginam que, chegando logo às próximas eleições, o cenário vai, enfim, desembaçar e se retornará à normalidade política. Talvez haja excesso de otimismo nessa crença. Nada indica que, em 2018, chegue-se à almejada pacificação dos espíritos.
Talvez ocorra o contrário: o clima político na eleição pode ser ainda pior que em 2014, quando trincheiras imaginárias viabilizaram o quiproquó em curso. Afinal, Lula, que desperta ódios instintivos em muita gente, lidera as pesquisas no momento; e, até aqui, o candidato mais robusto dos antipetistas é o polêmico Jair Bolsonaro. Nenhuma garantia, portanto, de disputa em patamares minimamente civilizados.
É claro que o momento não é favorável às conjecturas: vem aí as delações da empreiteira Odebrecht na Lava Jato e muita lama ainda vai ser revolvida. É provável que pouquíssimos sobrevivam às citações; e menos gente ainda tenha condição de competir nas eleições presidenciais. Mas isso só o transcorrer dos próximos dias vai confirmar.
Os petistas apostam na capacidade de Lula de pacificar o País, de conciliar interesses conflitantes, como fez nos seus dois mandatos. Só que o cenário mudou muito. E Lula já não é aquela quase unanimidade de dez anos atrás. Vá lá que não repita o trágico desempenho da ex-presidente Dilma Rousseff, mas seus adversários serão, certamente, implacáveis. Basta isso para que a crise política siga se arrastando lá adiante.

Extremismo

Há possibilidades piores, no entanto. E nós, sequer, podemos reclamar de não termos sido previamente avisados: é só prestar atenção no desastre inglês – com a saída da União Europeia – e na eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos. O extremismo, a reação contra tudo e contra todos, pode dar em catástrofe do gênero.
O pior é que, domesticamente, temos gente credenciada para nos conduzir ao desastre. Um deles é Jair Bolsonaro, justamente o antipetista mais bem posicionado nas pesquisas até aqui. Imerso em inúmeras polêmicas com a esquerda, desperta entusiasmadas – e preocupantes – simpatias de muita gente. Seu desempenho nas pesquisas não é casual.
Cenários do gênero indicam que, a partir de 2019, o problema pode apenas mudar de lugar: sai o contestado Michel Temer e sua trupe e entra alguém que, mesmo referendado pelas urnas, não dispõe de condições de atenuar as fraturas políticas, sinalizando para o epílogo das entrelaçadas crises política e econômica.
A crise econômica, a propósito, é outro elemento de instabilidade. Caso não arrefeça, pode aprofundar as insatisfações, alimentando a espiral do radicalismo. É um fenômeno que não deixa de ser previsível em países em crise econômica e com instituições frágeis, como é o caso brasileiro. O fato é que 2018 está muito longe. O mais desalentador, porém, é imaginar que 2019 pode ser, apenas, um ano a mais nesta interminável sucessão de crises...

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