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Eleições em tempos de destilação de ódio




Nos primeiros dias do mês de julho começou, oficialmente, a campanha eleitoral. Até o último domingo todo mundo estava absorvido pela Copa do Mundo. É muito natural: a competição mobiliza os brasileiros a cada quatro anos, inebriando-os com um fervor patriótico pouco usual em circunstâncias normais. Em ocasião na qual a competição aconteceu no Brasil, é muito mais compreensível que as pessoas fiquem mais absorvidas, já que vai demorar décadas até a disputa do próximo Mundial por aqui.
Então, boa parte dos brasileiros só vai começar a pensar nas eleições a partir das próximas semanas. E somente em agosto, quando começa o horário eleitoral na tevê é que, de fato, as opções vão se tornar mais claras e as escolhas dos eleitores ganharão maior densidade, aproximando-se dos resultados que serão extraídos das urnas.
Até o momento grande parte dos esforços buscou ajustar as concertações partidárias e, nos casos dos candidatos a cargos majoritários, a elaboração dos programas de governo cujo conteúdo buscará seduzir os eleitores mais esclarecidos. No mais, azeitam-se as equipes que vão produzir as peças publicitárias que vão para a tevê, o rádio e – novidade crescente – a internet e, sobretudo, as redes sociais.
As redes sociais, a propósito, constituem espaços virtuais cuja importância cresce a cada eleição. Até certo ponto servem de parâmetro para aferir a aceitação de um determinado nome, os pontos fracos de uma candidatura específica e, também, auxiliam no mapeamento dos seus eventuais apoiadores e simpatizantes.

Ódio
           
       Na verdade, as eleições nas redes sociais começaram faz tempo. E muitas postagens já permitem deduzir que o processo será marcado por muito mais ódio e amargor que há quatro anos, em 2010, quando Dilma Rousseff (PT) derrotou José Serra (PSDB) e Lula se consagrou elegendo sua sucessora.
      Esse ódio não se faz presente apenas nos murais pessoais das redes sociais. É forte também nos comentários do noticiário político nos sites dos principais órgãos de comunicação do País. Basta conferir: além dos tradicionais xingamentos, ganha volume uma raiva difusa, uma cólera irracional, um ódio onipresente que dissolvem quaisquer resquícios de sensatez. Vive-se, portanto, tempos de pouca tolerância.
        Não existem, no entanto, apenas sentimentos destrutivos. Há o desencanto que se transmuta em apatia. Os limitados canais de participação social na vida política, a lentidão do Estado na absorção das novas necessidades da sociedade e os tímidos resultados na redução das desigualdades contribuem para essa situação. Nesse cenário, é senso comum que todos os atores políticos se tornam “iguais”.
          
                   Autoritarismo
                 
          O ódio e a apatia habitam a antessala do autoritarismo. Esse último floresce quando germina o discurso apocalíptico do caos, da desagregação social e política que só pode ser contida por governos “fortes”, eufemismo que busca camuflar as disposições ditatoriais de determinados setores da sociedade. É o que começa a circular pelo Brasil ultimamente.
                Não é à toa que bandeiras conservadoras – e até mesmo repressivas – vão se amplificando. Punição severa  para os criminosos pobres, apoio entusiasmado à pena de morte e redução da maioridade penal se mesclam a agendas medievais, como a criminalização do aborto, a revogação dos direitos dos homossexuais e da população afrodescendente, combinando-se, por fim, a um liberalismo econômico cafona abandonado pela maioria dos países na primeira metade do século XX.
                O que está em jogo, portanto, não são apenas os projetos de poder das coalizações partidárias que almejam conduzir o País. Dependendo da direção que as urnas vão apontar, o Brasil pode começar a regredir incontáveis passos dentro em breve...  

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