Nos últimos
três dias os brasileiros – e parte dos amantes do futebol pelo mundo – estão
tentando entender o naufrágio da Seleção Brasileira contra a Alemanha, na tarde
de terça-feira, em Belo Horizonte. Busca-se esquadrinhar o vexame em detalhes
infinitesimais e uma profusão de análises – e de tolices também – ganhou as
manchetes dos jornais, foi retransmitida pelas emissoras de televisão e
circulou pela Internet. Sabe Deus quantos comentários e fotografias foram
postados, deplorando ou ironizando o triste espetáculo da equipe canarinha.
Noves fora o
placar de 7 a 1 para os alemães, alguns detalhes estão presentes em todos os
mundiais, sobretudo quando o Brasil acaba derrotado, como ocorreu pela terceira
vez consecutiva. Talvez, dessa vez, a repercussão seja amplificada pela
humilhação e pelo fato da Copa do Mundo ter acontecido no Brasil.
Parte da mídia
lucra milhões com a competição. Logo, mesmo que a Seleção vá mal – como ocorreu
em boa parte dos jogos – evitam-se comentários desfavoráveis. Afinal, a Seleção
é um produto valorizado na prateleira esportiva. Não cabe, pois, falar mal
daquilo que se está vendendo bem ou que, potencialmente, pode representar
lucros elevados no futuro.
O jornalismo
crítico é deixado de lado até o momento da derrota: quando o revés é fato
consumado, desancam-se atletas, treinadores e esquemas táticos. Erros que
ninguém apontava na véspera são discutidos exaustivamente, às vezes com
requintes de cinismo: “Como a gente vinha dizendo desde a estreia...”. O pior é
que ninguém dizia nada. Ou falava muito pouco.
Revolta
O
inconformismo e a revolta dos torcedores também se repetiu na terça-feira. É
que toda Copa segue um roteiro meio previsível: primeiro começam as exaltadas
demonstrações de patriotismo que – por serem esporádicas – costumam ser
bastante intensas durante a competição. Mas só nela: depois o verde-amarelo
desaparece, cedendo espaço para o tricolor habitual da bandeira norte-americana
e à síndrome de vira-lata que acossa os brasileiros.
Quando a
certeza da vitória se frustra, uma cólera pestilenta provoca atos de violência
e desordem. Foi assim com os arrastões e brigas nas chamadas fan fest em Salvador, Belo Horizonte e
no Recife. Apesar de declaradamente apaixonados por futebol, os brasileiros manifestam
pouco espírito desportivo quando sua Seleção é derrotada.
Nesse mundial,
porém, houve um detalhe novo, que foi a realização da competição no país. Resta
saber como reagirão os brasileiros a partir de agora. Como a memória nacional é
notoriamente curta, talvez em dois ou três meses ninguém lembre mais da mais
trágica partida da história da Seleção Brasileira.
E a CBF?
Quem, mais uma
vez, como acontece e todas as copas, passou ao largo da polêmica foram os dirigentes
da Confederação Brasileira de Futebol, a CBF. Espertamente, a cartolagem
procura as sombras nos momentos de fracasso, para sustentar seu poder
incomensurável lá adiante. Nos últimos dias foi assim. Aliás, como sempre.
A imprensa,
atendendo sabe Deus a que tipo de conveniência, nem de longe associa o fracasso
aos dirigentes do futebol brasileiro. Sobra sobretudo para o técnico e alguns
jogadores, mais associados ao fracasso, mas ninguém questiona a CBF, sua
estrutura, sua gestão, os plenos poderes da elite dirigente e a absoluta
ausência de transparência.
O vexame de
Belo Horizonte deveria legar, como primeira lição, a consciência de que a
gestão do futebol brasileiro deve mudar, sob pena de replicar desastres
semelhantes lá adiante. Há três copas o
Brasil não encanta ninguém e, pelo que mostrou em campo nesse mundial, nada
sinaliza o contrário para as copas vindouras...
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