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Chance de morrer assassinado em Feira é 6 vezes superior a Campinas-SP




Campinas é um município do interior paulista, localizado a aproximadamente 100 quilômetros da capital do estado, São Paulo. Possui uma das universidades mais prestigiadas do Brasil – a Unicamp –, conta com um respeitável parque industrial e, há décadas, constitui o principal núcleo urbano de uma das regiões mais dinâmicas do poderoso estado de São Paulo. Dados do IBGE estimam que, atualmente, Campinas tem população de aproximadamente 1,1 milhão de habitantes.
Em janeiro, o município foi alçado às manchetes policiais depois da morte suspeita de 12 pessoas. Cogita-se que, entre os envolvidos, estejam policiais militares. É o que afirmaram algumas testemunhas. O objetivo da matança seria vingar a morte de um companheiro de farda num assalto, poucas horas antes, num posto de combustíveis.
No passado, o município paulista tinha fama de violento, mesmo entre os paulistanos. Afinal, no já bem distante ano de 2001, foram registrados exatos 542 assassinatos. Nos dois anos seguintes o número de mortes foi superior a 400; em 2004, foram menos de 300; Em 2005, foi inferior a 300; e, desde 2006, o número de mortes nunca foi superior a 163. Ano passado, por exemplo, foram contabilizados 136 homicídios.
A matança registrada em janeiro provocou grande interesse na mídia e as investigações continuam em andamento. Talvez os responsáveis sejam descobertos e punidos. Na pior das hipóteses, a visibilidade alcançada pela matança – que se deu por atacado, é verdade – vai inibir esses assassinos, lá adiante.
O fato é que, em pouco mais de uma década, o município paulista reduziu o número de assassinatos em aproximadamente 75%. Um feito considerável, que é objeto de controvérsias: o governo paulista reivindica o mérito para sua política de segurança pública. Já o Primeiro Comando da Capital, o PCC, afirma que “burocratizou” de tal forma a autorização para os assassinatos, que os números caíram drasticamente.

E Feira?

A Feira de Santana tem pouco mais de 50% da população de Campinas. Ironicamente, aqui não se registra menos de 200 homicídios por ano desde 2006. Naquele ano, foram exatas 195 ocorrências. Em 2012, os números foram dignos da Campinas de outros tempos: 412 mortos. Ano passado, segundo a versão oficial, foram “somente” 329 assassinatos. Isso descontando os latrocínios e os chamados “autos de resistência”, quando policiais eliminam supostos bandidos em tiroteios.
 Assim, como a população de Campinas é quase o dobro da feirense, a chance de alguém ser assassinado na terra de Lucas da Feira é seis vezes superior ao da maior cidade do interior de São Paulo. Isso quando se consideram os dados relativos a 2013, que aqui foi mais “tranquilo”.
Todavia, em 2014, os assassinatos voltaram a ocorrer com espantosa regularidade. Praticamente todo dia alguém é executado. O enredo é muito previsível: à noite, ou de dia mesmo, alguém tem sua caminhada interrompida pelas ruas da periferia, com a chegada de assassinos de moto – ou até a pé – que apertam o gatilho com inequívoca eficiência e deixam, no chão, mais um corpo.
O que se segue, depois, também é previsível: imediatamente lançam-se numerosas acusações – fundamentadas ou não – sobre a vítima, que vai engrossar as estatísticas que repisamos ano a ano. Tão previsíveis quanto as acusações, são as características de quem morre: jovem, negro ou pardo, pobre, morador da periferia, com baixa escolaridade.
  Raramente algum assassino é identificado. Preso, então, só por milagre ou descuido. Aos poucos vamos nos acostumando à barbárie: a cada dia se elevam as vozes dos que defendem linchamentos, execuções sumárias, penas perpétuas e até mutilação. Como se espancamentos e assassinatos fossem raros, ou se as penas cumpridas nos medievais cárceres brasileiros não fossem punição pior do que a morte.
Apesar dos tablets e dos smartphones manuseados com sofreguidão pelas ruas, certas situações dão a sensação de que, no Brasil, regride-se a um primitivismo medieval. Pelo menos os dados obtidos em Campinas, no rico estado de São Paulo, mostram que a onda de barbárie pode retroceder a um estado de tolerável ferocidade. Parece que é o que devemos desejar, a partir de agora.

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