Antes da Proclamação da República, quando o Brasil ainda era uma monarquia, não havia uma separação formal entre a Igreja Católica e o Estado. Desse modo, era comum que o Estado utilizasse referências administrativas formatadas pela instituição religiosa em suas ações. Assim, empregando as paróquias como referência, o Governo Imperial promoveu uma contagem da população no distante ano de 1872. Naquela oportunidade, a Feira de Santana como município não foi considerado para efeitos da contagem, prevalecendo como referência a “Parochia de Sant’Anna da Feira”.
Na “Parochia de Sant’Anna da Feira” residiam exatas 7.979 almas em 1872. Havia mais homens que mulheres: 4.216 contra 3.763. A idade mais frequente da população era entre seis e 10 anos: 1.359 feirenses estavam nessa faixa etária. Somente 14 tinham mais de cem anos.
Naqueles anos, o Brasil ainda vivia sob a chaga da escravidão. A população se distribuía entre quatro cores: “brancos”, “pardos”, “pretos” e “caboclos”. Os brancos e os caboclos não figuravam entre os escravos. Essa condição era exclusiva de pardos e pretos. Havia, ainda, pardos e pretos que desfrutavam da liberdade.
Na então paróquia é relativamente reduzido o número de escravos: dos quase oito mil residentes, havia 218 homens e 156 mulheres nessa condição. Livres, havia 1.680 pardos, 673 pretos e 280 caboclos. Entre as mulheres, 1.515 eram pardas, 590 eram pretas e 202 eram caboclas.
Legislação
A escravidão encolhia mais em função da superação do modelo de exploração econômica constituído que, propriamente, da repressão ao tráfico ou da legislação que pretendia promover uma gradual emancipação dos negros escravos. Afinal, nessa contagem populacional havia dois negros escravos com um ano de idade; Sete com três anos; um pardo com três anos e outro com quatro. Entre as meninas, havia duas crianças negras com cinco anos; e outra, parda, com seis anos.
A relativamente reduzida população escrava na “Parochia de Sant’Anna da Feira” se deve à atividade econômica predominante na região: a pecuária e a pequena propriedade, que não absorviam mão-de-obra escrava com a mesma intensidade que a agricultura canavieira, por exemplo.
As populações parda, preta e cabocla, no entanto, eram expressivas: somente 2.670 pessoas, entre homens e mulheres, foram considerados brancos na contagem. Os demais iam nascendo pelo Brasil, misturando-se caboclos, pardos, pretos e, eventualmente, alguns brancos. Afinal, na “Parochia” existiam apenas 24 africanos de origem, sendo nove escravos e 15 livres.
Situação
A relativamente restrita escravidão, porém, não ocultava as dificuldades que a população mestiça e negra enfrentava. Afinal, 3.287 pessoas foram consideradas “sem profissão” – incluindo-se as crianças –, 760 se dedicavam a funções domésticas e 405 encaixavam-se na categoria “criados e jornaleiros”. Jornaleiros, na expressão da época, eram trabalhadores por empreitada: tinham ocupação apenas quando surgia trabalho. Outros 2.821 engajavam-se na categoria “lavradores”, cavoucando a terra no eito.
Somadas, essas pessoas representavam 7,2 mil habitantes da Feira de Santana. Considerando os escravos, nota-se que quase a totalidade da “Parochia” sobrevivia com dificuldades. Dependiam da lavoura, da criação e dos trabalhos domésticos na Casa Grande dos senhores.Esses constituíam uma casta minúscula: somente 46 eram “capitalistas e proprietários”; havia um juiz, três advogados, dois médicos, um farmacêutico e três “professores e homens de letras”. Embora sujeito às limitações da época, o levantamento mostra a pesada herança de desigualdade legada aos feirenses dos dias atuais.
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