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O dilema do PT nas eleições 2018

Lula amargou mais uma derrota no Supremo Tribunal Federal. Foi essa semana, no julgamento de um recurso que solicitava sua libertação. Pelo que noticia a imprensa, a partir daqui é provável que o ex-presidente fique, pelo menos, algum tempo preso. A decisão começou a esfriar a pressão por sua soltura – que já não tinha grande repercussão – e açulou os mais pragmáticos – e afoitos – a buscar alternativas eleitorais viáveis para o petismo antes que a Justiça bloqueie formalmente a candidatura de Lula.
Dois nomes despontam como pré-candidatos da legenda: o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, e o ex-governador da Bahia, Jaques Wagner. Parte do petismo – a banda mais otimista – aposta que basta Lula sinalizar para a indicação de qualquer um dos dois que a vitória está assegurada, talvez até no primeiro turno.
Mas há quem defenda, dentro do petê, o apoio à pré-candidatura de Ciro Gomes (PDT), ex-governador do Ceará e ex-ministro do próprio Lula. Esses são movidos pela crença de que a legenda deve buscar fortalecer uma opção à esquerda e aproveitar a temporada longe do exercício do poder para se reestruturar e, quem sabe lá adiante, disputar novamente a presidência.
As duas soluções contêm elevado teor de pragmatismo. Seja buscando resgatar o protagonismo lançando um nome próprio, seja recorrendo à aliança com uma candidatura viável à esquerda e apostando num providencial recuo estratégico, o PT seguirá às voltas com uma questão candente, difícil de resolver: o destino de Lula.

Efeitos colaterais

Com Lula candidato o PT sustenta a versão do “golpe”, mas abdica de alianças essenciais para quem deseja chegar ao poder. É que, lá adiante, a candidatura dele tende a ser indeferida. Daí seria necessário recorrer a um “poste”, faltando poucos dias para as eleições: o prazo, curto, pode inviabilizar a eleição do indicado.
São prováveis os efeitos colaterais noutras esferas eleitorais: com uma candidatura instável, o número de deputados eleitos pode cair dramaticamente; e governadores da legenda podem enfrentar dificuldades em suas ambições eleitorais. É altamente provável, também, que antigos aliados à esquerda encorpem às expensas do espólio petista.
Sob a fria lógica eleitoral, Lula deveria começar a ser tratado como “baixa de guerra”: uma perda considerável – a maior da legenda – mas hoje apenas uma perda. Muitos já devem enxergar como inútil o esforço de ir arrastando o líder extirpado de seus direitos políticos e já alojado no cárcere. Melhor seria recauchutar o discurso e tentar tocar o barco com novas lideranças, aproveitando – paradoxalmente – a popularidade do ex-presidente.

Dilema

Mas como desligar da tomada a maior liderança política das últimas décadas? Como relegá-lo ao cárcere, fadado ao esquecimento sabe Deus até quando? Seria difícil ao petismo orientar-se, estabelecer um caminho, sem a exaltada intuição política do seu líder. E se as massas que votam nele entenderem o gesto como uma traição? São questões que devem inquietar as principais lideranças do partido.
A abdicação do protagonismo por Lula também poderia deflagrar uma guerra entre as diversas correntes internas da legenda, que desde sempre vivem se digladiando. Quem conseguiria arbitrar essas divergências, mantendo a coesão interna? Até aqui só Lula. A escolha por alguém que não seja consenso no partido – e, à exceção de Lula, ninguém é – pode ampliar as fissuras já visíveis.
O fato é que não é manobra simples substituir Lula por outro nome, mesmo que seja ungido por ele. Se com cenário amplamente favorável – como ocorreu na ascensão de Dilma Rousseff – deu no que deu, imagine agora, quando parte da infalibilidade de Lula é questionada e quando a legenda se encontra longe do poder. Isso sem contar que, recuando, Lula verá a pressão por sua liberdade arrefecer.
Não é trivial o dilema enfrentado pelo Partido dos Trabalhadores nas eleições 2018...

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