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A gênese do calçadão da Sales Barbosa I

Antigamente não existia calçadão na Rua Sales Barbosa, a afamada “Rua do Meio” de outros tempos. Por ali circulavam carros e até gente a cavalo, conforme atestam fotos antigas. Foi só em meados dos anos 1970 que começaram as obras para a construção do calçadão, com o piso de pedras portuguesas reportando-se à herança cultural lusitana. A iniciativa, do então prefeito Colbert Martins, acompanhava uma tendência que surgia em capitais do Sudeste, como São Paulo e Curitiba.
Durante toda a primeira metade dos anos 1980 circular pela via era um prazer: as pedras, muito claras, resplandeciam; pardais chilreavam incessantemente e, muitas vezes, pousavam nos canteiros suspensos, pintados de verde, atraindo a atenção de quem circulava. Trânsito mais intenso de pedestres só nos períodos festivos.
Nenhuma barraca obstruía o trânsito de pedestres. A partir da Praça Froes da Mota, seguindo em direção às praças dos Remédios e Bernardino Bahia, pontuavam as lojas de confecções. Eram muitas, como nos dias atuais. Naqueles tempos não existiam shoppings, nem lojas de grife e a moda e os produtos mais sofisticados eram vendidos ali.
A finalidade do calçadão, a propósito, foi essa: garantir um espaço que permitisse a circulação mais lenta de consumidores interessados em analisar produtos com mais vagar. Atendia à clientela com maior poder aquisitivo e substituía os shoppings que, naqueles tempos, não passavam de um sonho distante no imaginário do feirense.
A opção não foi aleatória: a Sales Barbosa ficava afastada da azáfama que prevalecia nos tempos em que a feira-livre se irradiava das imediações do atual Mercado de Arte pelas cercanias, alcançando as avenidas Getúlio Vargas e Senhor dos Passos. A interdição permanente também interferia menos no trânsito, embora houvesse pouco carro pelas ruas à época.

Calçadão e Centro de Abastecimento

O calçadão só surgiu depois da relocação da antiga feira-livre para o Centro de Abastecimento, no início de 1977. As duas iniciativas se articulavam, convergindo para o processo de revitalização do centro da cidade, viabilizado depois que feirantes e consumidores foram deslocados para o novo espaço.
À época a Feira de Santana concluía uma longa transição: abandonava a condição de município com população predominantemente rural, cujas atividades produtivas vinculavam-se ao setor primário – sobretudo a pecuária e a agricultura – e ingressava em um ciclo de intensa urbanização e diversificação da atividade econômica, com a atração de dezenas de unidades industriais e a consolidação do Centro Industrial do Subaé.
Fazia-se necessário, portanto, que a cidade dispusesse de um centro comercial limpo, organizado e atraente para a incipiente classe média urbana que ia se ampliando. Afinal, chegava gente de fora para trabalhar nas novas empresas da indústria, do comércio e dos serviços. Nada mais adequado que o calçadão da Sales Barbosa e adjacências, inspirado em tendências que se afirmavam no eixo Sul/Sudeste, mais citadino. E – melhor ainda – sem a feira-livre que importunava os empresários e suas lojas.
Na segunda metade dos anos 1980 a situação começou a mudar. É que a crise econômica garroteava o trabalhador, arrochava os mais pobres e impunha mudanças radicais no mundo do trabalho. Com a chegada dos primeiros camelôs e ambulantes, a Sales Barbosa começou a entrar numa outra era... Mas isso é tema para um próximo artigo.

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