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Meio ambiente é tema banido das eleições municipais

             
Faltam poucos dias para as eleições municipais. No próximo final de semana, mais precisamente, saberemos quem vai conduzir a Feira de Santana até 2020. Isso se não houver segundo turno, o que as pesquisas descartam até aqui. A campanha foi curta: meros 45 dias, com pouco mais de 30 dias de campanha na televisão. E o tempo foi dramaticamente encurtado, com somente duas inserções diárias de apenas 10 minutos. Com tão pouco tempo, ficou difícil saber o que os candidatos a prefeito pensam sobre uma série de temas.
A questão ambiental, por exemplo, exigiria um debate mais profundo. A rigor, a Feira de Santana possui uma Secretaria de Meio Ambiente o que, em tese, configura um avanço. Mas, embora disponha de estrutura institucional, o município não conta com nenhuma política para o setor. O que se anuncia, sempre, são intervenções pontuais, normalmente anunciadas com estardalhaço.
As lagoas feirenses seguem sendo tragadas pela especulação imobiliária. Muitas se transformaram no piso instável de centenas de barracos de novas favelas; outras, devidamente aterradas, deram lugar a vistosos empreendimentos privados; e outras, com destino menos infeliz, tiveram seu espelho d’água dramaticamente reduzido. E o destino de algumas desperta intensa inquietação, como a Lagoa Salgada, que aguarda iniciativas concretas de preservação.
A Feira de Santana também carece de árvores. Quem vem de fora e examina as ruas da cidade nem sempre contém o horror: apesar do calor inclemente, dos prolongados períodos de estio, das manhãs e tardes escaldantes, faltam milhares de árvores. Há ruas inteiras sem, sequer, um singelo fícus; as poucas árvores existentes apresentam aspecto deplorável, como as que resistem nas malcuidadas praças feirenses.
A ojeriza ao verde, ao contrário do que alguns podem imaginar, não é disseminada Brasil afora. Muitas cidades brasileiras são bem arborizadas e, por essa razão, asseguram maior qualidade de vida à sua população. Aqui, empunha-se um canhestro conceito de progresso que exige a revogação do verde, conforme se viu no episódio do polêmico BRT na avenida Getúlio Vargas.
A festejada obra da Lagoa Grande é outro exemplo contundente. Ainda não foi inaugurada, mas de longe percebe-se que, no entorno, não há uma mísera árvore. Somente a lâmina d’água e, nos incontáveis dias de estio, o sol inclemente. É estranha a ideia de um espaço de lazer, ao ar livre, sem cobertura vegetal. Mas deve ser cisma minha.
Sobram amor, paixão, abnegação e demais subjetividades na propaganda eleitoral. Faltam propostas. Exatamente como vem ocorrendo desde sempre nas eleições feirenses. Sinal de que vamos seguir na mesma toada em relação ao meio ambiente.

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