Quem
observa a cena política brasileira de fora, sem a passionalidade de quem
mergulhou no lufa-lufa disputando nacos de poder a unhas e dentes, não consegue
deixar de constatar que o melhor para o país é a realização de eleições
presidenciais o mais rápido possível. Dilma Rousseff (PT) caiu em função de
diversos fatores – inclua-se aí a crise econômica e o evidente estelionato
eleitoral de quem se elegeu prometendo uma coisa e, depois, fazendo outra – e
seu sucessor, Michel Temer (PMDB), além de ter urdido a manobra que apeou a
antecessora do cargo, tenta implementar uma agenda que não passou pelo crivo
das urnas.
Ambos
ostentam, portanto, múltiplas fragilidades: ela, apesar de eleita, conduzia um
governo claudicante desde os primeiros momentos; ele, exibindo ares de “Salvador
da Pátria”, chafurda na mesma lama do clientelismo, operando como gerente de um
grande balcão fisiológico. Ambos constituem péssimas opções. Nada melhor,
portanto, que a realização de novas eleições.
A
possibilidade de que ocorram novas eleições, porém, é mínima: o PMDB jamais
admitiria a hipótese de deixar o poder que não conquistaria pela via eleitoral.
Os petistas, por sua vez, já acham que o mais cômodo é aguardar 2018 e apostar
no desgaste do atual governo. Entre os demais atores políticos, a ideia é
desencorajada por aqueles que não podem abdicar dos seus cargos no momento e
que preferem esperar mais dois anos para, eles mesmos, disputarem as eleições
presidenciais.
O
ideal seria recomeçar do zero, conferindo legitimidade a quem se candidatasse e
vencesse a eleição, seja quem for. Mas, movida por suas conveniências
particulares, a classe política, como sempre, caminha na contramão dos
interesses do País, optando pela manutenção do caos atual. Afinal, embora
milhões de brasileiros estejam desempregados e outros tantos vejam seus
rendimentos minguarem, os políticos mantêm, intocados, seus inúmeros
privilégios. Para eles, não há problema em aguardar 2018.
Paradoxalmente,
em meio a esse atoleiro político, preparam-se eleições municipais, como se não
houvesse nenhuma crise em curso no país. Nada de se discutir o sistema político
apodrecido, a excrecência de mais de três dezenas de partidos, o jogo
fisiológico que determina vitoriosos e vencidos. Finge-se que nada está
acontecendo, justamente para ficar tudo como está. É essa a lógica que vai
reger as próximas eleições.
Fundamentalismo
É
possível que as bancadas religiosas se ampliem nos municípios, aprofundando a
mistura explosiva entre Estado e Religião. Com isso, tendências de cerceamento
de direitos de segmentos específicos da população – como mulheres, homossexuais
e adeptos das religiões de matriz africana – podem se aprofundar, com
desdobramentos catastróficos no futuro.
O
abuso do poder econômico vem filtrando os eleitos, favorecendo ainda mais quem
detêm o capital. Não é à toa que, nos parlamentos, prevalecem discussões que
favorecem, estritamente, esses grupos. É o caso do renitente discurso da
“flexibilização” trabalhista, eufemismo para extinguir direitos de
trabalhadores. Sonegação e reforma tributária progressiva, por outro lado, são
temas banidos.
A
baixa qualidade do perfil dos eleitos também vem contribuindo para tornar as
coisas piores. Nessas situações, emergem temas como o “combate ao comunismo”, o
fim do “viés ideológico” da educação, a revogação do estatuto do desarmamento, a
burocratização do atendimentos às vítimas de estupro e inúmeras outras
sandices. Mais que proposta de candidato conservador, é bandeira de quem tem
pouca desenvoltura com padrões mínimos de civilidade.
Enquanto
isso, o presidente interino e sua equipe econômica urdem um arrocho brutal para
a próxima década, traçado sob encomenda pelo capital financeiro. Nesse cenário,
ao povão restará tomar as ruas e pressioná-lo, já que o presidente-caranguejo
sempre recua quando pressionado...
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