Eu nem sabia
que era possível apresentar emenda para modificar a Bíblia. Pelo que entendi,
isso é possível lá no Planalto Central, em Brasília, na Câmara dos Deputados.
Atribuição de político graúdo. Não é à toa que os mais entendidos dizem que na
capital do País se fazem coisas que até Deus duvida. Ou talvez não recomende,
como é o caso em questão. Confesso que isso me animou: com muita modéstia, sem
aquela circunspecção teológica dos doutos nas Sagradas Escrituras, tenho lá
minhas humildes propostas para aprimorar a Bíblia, ajustá-la a algumas
necessidades da vida moderna. Mas claro que só faria isso a partir de intensos
debates, ouvindo especialistas e a comunidade, como é a praxe nos dias atuais.
Meu problema é chegar lá, no Planalto Central:
é longo e tortuoso o caminho de quem ascende na vida partidária. Daqui a dois
anos tem eleição para deputado federal mas reconheço que, hoje, minhas chances
são mínimas, mesmo com uma plataforma eleitoral reluzente: a reforma das
Sagradas Escrituras. Serei repudiado por muitos, reconheço. Mas muita gente
anseia por mudanças. É nessa faixa do eleitorado que eu aposto.
Imagino que
meu primeiro estágio eletivo seja na Câmara Municipal aqui da Feira de Santana.
Nesse 2016 já não dá mais: perdi prazos, por enquanto não tenho apoiadores e
faria uma campanha muito modesta, andando a pé, sem dinheiro para remunerar
cabos eleitorais. Mas, de antemão, já lanço minha candidatura para 2020. Claro
que, daqui a dois anos, terei que enfrentar a corrida eleitoral – com poucas
chances de vitória, reitero – apenas para ficar mais conhecido, divulgar minhas
pretensões reformistas.
Não vou
enganar meus eleitores: na Feira de Santana não é possível apresentar emenda,
mudar a Bíblia, nada disso. Mas vou apresentar um argumento irrefutável: aqui,
conversando com os feirenses, vou coletar propostas, construir consensos,
amadurecer ideias. Assim, quando chegar em Brasília e encaminhar as emendas, a
Feira de Santana estará na vanguarda da reforma da Bíblia. Já penso até em ser
o vereador mais votado...
Reforma Latino-americana
Corro o risco
da demasiada sinceridade, mas tenho ambições amplas: ficarei, provavelmente,
apenas dois anos como vereador. Meus eleitores já ficam de antemão avisados. Em
2022 – bicentenário da Independência – darei o primeiro grande salto: migrarei
para a Assembleia Legislativa. Lá, pretendo fazer caravanas por todas as
regiões do estado para, em plenárias, coletar mais propostas. Entre os estados,
a Bahia estará na vanguarda da reforma da Bíblia.
Sendo assim, as
mudanças nas Sagradas Escrituras só devem começar, mesmo, daqui a uns dez anos,
quando me eleger deputado federal. Alguns podem julgar o prazo demasiado longo.
Mas é coisa do processo legislativo, do debate de ideias. Descontando a
roubalheira, nada é célere em Brasília. A demora tem um lado bom: não
permitirei emendas oportunistas, coisa de quem só pensa no imediato. Não: a
reforma será pensada nos mínimos detalhes. Modéstia à parte, é uma postura
equilibrada, típica de quem tem perfil para liderar a frente parlamentar da
reforma da Bíblia...
Finda essa
tarefa, não pretendo seguir em Brasília: meu apego àquelas benesses do poder é
nenhum. Isso se deve a mais uma ambição: reformar a Bíblia no âmbito da América
do Sul, quiçá da América Latina. Pretendo, pois, entrar num desses parlamentos latinos
aí. Claro que terei problemas, são diversos idiomas distintos, o esforço vai
exigir gente altamente especializada. Mas acho que vale a pena.
Por fim, não
temo nenhuma represália divina. Estou convencido da lisura dos meus propósitos.
Pelo que soube, Deus disse: “ai de quem retirar um til da Bíblia”. Concordo,
mas com uma ressalva: no aramaico, idioma original das Sagradas Escrituras,
esse acento não existe. Logo, pelo jeito, pode se mexer à vontade. E, aqui, é
possível contornar essa restrição: basta promover antes mais uma reforma
ortográfica, abolindo esse famigerado til. O problema é que isso pode gerar
mais atrasos na reforma da Bíblia...
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