Há duas semanas o brasileiro
tomou conhecimento do impacto da crise econômica sobre o estoque de empregos
formais no País ano passado: 1,5 milhão de vagas a menos. Quase sempre, a divulgação
do número nas emissoras de tevê foi acompanhada de matérias com desempregados
que, à falta de alternativa melhor, aderiram ao universo dos biscateiros. E aí
tome louvação à criatividade inata do brasileiro. Mas, com pirotecnia
televisiva ou não, a informação dimensionou o impacto da crise econômica sobre
os trabalhadores.
Conforme
analisamos com frequência ao longo de 2015, a crise eliminou milhares de
empregos na Feira de Santana. Mas somente agora em janeiro o número exato foi
divulgado pelo governo: precisos 6.595 postos formais a menos, num intervalo de
12 meses. Na média, são quase 550 empregos a menos por mês. Por dia, essa média
atingiu 18,3.
Note-se que
não se trata de números absolutos: é o saldo entre admissões e demissões. Em
outras palavras, significa que, por dia, houve 18 demissões a mais que
contratações na Feira de Santana. Em números absolutos, a situação é pior que
na recessão da era Collor. E, talvez, seja também pior que a recessão legada
pelos militares no estertor do regime, entre 1981 e 1983.
O grande problema é que 2014 também já foi um
ano desfavorável, porque no saldo extinguiram-se 914 postos. Dessa forma, são exatos
7.509 empregos a menos em apenas dois anos. E, pelo cenário traçado pelos
economistas de inúmeras instituições – incluindo aí o Fundo Monetário
Internacional -, 2016 tende a ser tão ruim quanto 2015, pelo menos em termos de
retração no Produto Interno Bruto – PIB.
Recorde
Os cinco anos
de Dilma Rousseff no poder não foram nada favoráveis ao mercado de trabalho
formal na Feira de Santana. Nos três primeiros anos de mandato – entre 2011 e
2013 – foi tudo muito bem: 12.091 novos empregos gerados no intervalo. Média
anual superior a quatro mil novos postos. Mas, nos dois últimos anos, conforme
apontado acima, veio o baque e a desaceleração.
Na média, em
cinco anos, o saldo foi positivo em meros 916 empregos por ano. Muito menos que
o antecessor Lula no segundo mandato: 5,7 mil empregos adicionais ao ano, ou
22,9 mil no quadriênio 2007-2010. Foi esse desempenho que alavancou a eleição
e, em grande medida, a reeleição de Dilma Rousseff à presidência da República,
com o voto entusiasmado dos feirenses.
Em 2016, caso
o enxugamento no número de vagas alcance precisamente 1.914 empregos, Dilma
Rousseff terá alcançado uma proeza: o estoque de postos formais em sua gestão
será zero no município. Noutras palavras, isso significa que o patamar terá
regredido àquilo que seu antecessor Lula legou, em 2010: 107.162 empregos. Mais
que estatística, é uma tragédia significativa.
Expectativa
O cenário
observado em nível nacional aplica-se também à realidade feirense: o segmento
que registrou maior retração no período foi, justamente, o da construção civil.
Mais de 1,2 mil ajudantes de pedreiro e cerca de 800 pedreiros perderam o
emprego ao longo de 2015. As perdas, todavia, não se limitaram a esses setores.
Comerciários e profissionais de telemarketing também foram afetados, o que
demonstra a irradiação da crise por diversos setores da economia.
A grande
questão é que, à exceção das vozes oficiais – sempre otimistas acerca da
retomada do crescimento – ninguém crê em recuperação até, pelo menos, meados de
2016. Ao contrário: o próprio FMI, mencionado acima, estima retração de 3,5%
este ano e, na melhor das hipóteses, estagnação para 2017. As esperanças,
portanto, estão sendo lançadas apenas para 2018.
O fantasma do desemprego, todavia, não chegou
sozinho: veio acompanhado pelo espectro da inflação. Assim, além da escassez de
empregos, há a carestia corroendo os salários dos felizardos que permanecem
empregados. É dura a quadra que o Brasil vai atravessando. E, o que é pior,
nada sinaliza melhora no médio prazo.
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